caro proprietário deste imóvel em que vivo já há algum tempo sem nunca no entanto abandonar o medo de você acordar meio mal-humorado ou querendo abrigar seu sobrinho que faz faculdade de cinema ou apenas irritado com meus hábitos noturnos conforme informaram os gestores do condomínio
a/c proprietário do imóvel
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Quatro cinco um
se você me conhecesse veria meu esforço e esmero saberia que morei em outros 23 espaços [alugados antes de chegar rolando a este
acredito ingenuamente que se você me conhecesse mudaria de ideia de forma brusca enfrentaria a reprovação dos parentes
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“Sem título”
Quatro cinco um
se então fôssemos amigos que se conhecem há menos de um mês mas já se compreendem profundo você notaria que sua renda total é [suficiente e que eu tenho tristezas o bastante para que você me liberte dos valores e avise rapidamente os gestores que tenho o direito de residir para sempre e livre de medo neste seu apartamento.
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“Sem título”
Quatro cinco um
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“O MST inicia e encerra suas atividades com uma “mística” (preces, poemas, músicas). Para o movimento, o povo se mobiliza em torno de sentimentos e por isso a prática da mística é fundamental.
Quatro cinco um
Por que a indicação?
Inspirada nessa premissa, venho usando “a/c proprietário do imóvel” tanto nas reuniões do movimento quanto nas oficinas literárias – e isso diz muito sobre a incrível versatilidade e elegância do texto. Ana demonstra a dimensão emocional de um problema político: são 20 milhões de brasileiros vivendo de aluguel, com valores que consomem 30% da renda familiar e com contratos precários.
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Por que a indicação?
Quatro cinco um
Ela ilustra a assimetria de poder e como a relação de extorsão entre inquilinos e proprietários acaba virando uma extorsão emocional. Poesia grande, para mim, é isso.”
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Por que a indicação?
Quatro cinco um
Um poeta indica...
Adelaide Ivánova énascida em Recife (1982), além de poeta e escritora também atua como fotógrafa e tradutora. Escreveu “Autotomy” (Pingado Pres), “Polaróides” (Edições Macondo), “O Martelo” (Garupa Edições).
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Quatro cinco um
...outro poeta
Ana Guadalupe nasceu em Londrina (1985). Publicou os livros “Relógio de pulso” (7Letras), “Não conheço ninguém que não seja artista” (Confeitaria) e “Preocupações” (Macondo). Traduziu livros de autores como Sylvia Plath, Carmen Maria Machado e Kazuo Ishiguro.