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Por Mônica Magnavita, para o Valor


Ao fim dos primeiros seis meses de 2023, período que teve início turbulento, embora com fatos e indicadores favoráveis, o segundo semestre começa com perspectivas positivas. Avanços em relação ao arcabouço fiscal, inflação em queda, aprovação da reforma tributária e início de redução da Selic tornaram o ambiente mais amigável para a conjuntura econômica. Apesar de projeções recentes do Produto Interno Bruto (PIB), que sinalizam resultados inferiores aos do semestre anterior, os números merecem contextualização porque apontam para uma retomada mais consistente em 2024, ainda que tímida.

A alta do PIB do primeiro trimestre, de 1,9%, alavancada pela expansão da 21,6% da agropecuária, foi um fato excepcional, mas que não deve se repetir. Em contrapartida, o desempenho da indústria e de serviços tende a melhorar, após dois semestres de desaceleração, com impactos positivos sobre os investimentos ao longo de 2023 e, sobretudo, em 2024.

“Temos um cenário comparado ao começo do ano bem mais interessante. O Brasil do mês de janeiro chegará a dezembro melhor”, diz Sérgio Valle, economista-chefe da MB Associados. Ainda assim, ele observa que, do ponto de vista das empresas, o impacto dos juros elevados acentuou a coexistência de dois países distintos: o Brasil das commodities, que vai muito bem, com aumento do emprego, PIB, crédito, da renda, sem inadimplência; e o Brasil urbano, dependente da indústria e serviços, que enfrenta inadimplência e aperto de crédito e sofre impacto dos juros altos. O PIB do primeiro trimestre retrata esse panorama. O cenário daqui em diante, no entanto, é outro. Há consenso entre os economistas em relação a isso.

Armando Castelar, pesquisador associado da FGV-Ibre, ressalta que o desempenho dos próximos trimestres, apesar de fraco, será melhor que o previsto. Tanto que a contração do PIB no segundo trimestre em relação ao primeiro, que era de 0,6% nas estimativas feitas em junho, passou para 0,4% em julho; o resultado pode até estar subestimado. A queda da inflação abriu espaço para um ciclo de redução da Selic, hoje em 13,25%, apesar dos indicadores favoráveis no mercado de trabalho e da melhora do crédito. Ainda assim, os próximos passos são lentos. “Não vemos nenhum grande transformador na economia”, diz.

O último relatório Focus, do Banco Central, divulgado em 7 de agosto, elevou a expansão do PIB de 2,24% para 2,26% neste ano, enquanto as estimativas para 2024 permaneceram com a alta de 1,30%. Não chega a ser uma má notícia. “O PIB deste ano parece mais forte, mas o crescimento trimestral em 2024 tende a ser melhor para serviços e especialmente para a indústria, por ser um setor mais sensível à política de juros, que desempenha bem em cenário de redução das taxas”, diz Fernando Machado, superintendente de pesquisa econômica do Itaú. Embora o número seja mais modesto em relação ao estimado para 2023, seria equivocado, na avaliação dos economistas, interpretá-lo como sinal de desaceleração. O resultado é mais uma questão estatística do que propriamente de retração econômica.

Grande parte do crescimento do agronegócio veio da boa safra de soja aliada à queda de oferta da commodity em países produtores, permitindo aumento da participação do grão brasileiro no mercado global, conforme a coordenadora de estudos e políticas macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Mônica Mora y Araujo. “No segundo semestre, o dinamismo não será o mesmo”, diz. Até porque a Argentina deve aumentar as exportações de soja em 2024. Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, faz a mesma avaliação e ressalta que a agropecuária, que deve superar alta de 15% neste ano, poderá enfrentar preços médios mais baixos em 2024.

O próximo ano, no entanto, segundo ele, contará com efeitos positivos de setores ligados à recuperação do crédito, como o imobiliário, o automotivo e o de bens duráveis, com desempenho diretamente ligado a juros mais baixos. “O PIB de 2024 tem viés de alta, à medida que o ambiente é mais favorável e é possível que isso alimente investimentos e consumo maiores”, diz. Os economistas observam que riscos importantes, que ameaçaram a estabilidade nos primeiros meses do ano, saíram do radar neste segundo semestre.

Um deles, o de retração da atividade econômica, foi substituído por ligeira retomada. Outro, o fiscal, ficou em segundo plano com a aprovação de um conjunto de medidas capazes de restringir ameaça de descontrole da dívida pública; e o terceiro, o de aumento da inflação, que impediria a redução de juros, se transformou em deflação do IGPM de 6,86% em 12 meses encerrados em junho, a maior em quase 50 anos.

“As projeções de retração do PIB há seis meses eram muito mais fortes. Essa melhora fez com que os preços dos ativos avançassem bastante. Houve queda do dólar, subida da bolsa, melhora do risco país e do humor dos empresários e dos investidores”, diz Honorato. A deflação do IGPM contribui para a recomposição de margens das empresas, a desaceleração do IPCA, índice que chegou a cair 0,08% em junho, ajuda na redução do endividamento das famílias, que voltam a ter capacidade de pagamento, e o corte da Selic vai se somar aos impactos positivos para as companhias.

O mercado de trabalho tem mostrado resiliência. A taxa de desemprego no segundo trimestre, de 8,0%, foi a menor para o período desde 2014, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Tudo isso ajuda a manter a demanda aquecida”, diz Honorato. O aumento da ocupação e da renda, nos doze meses encerrados em maio, elevou a massa salarial real em 6,1%. Esse desempenho, aliado aos efeitos do Bolsa Família, tende a reforçar a renda das famílias mais pobres e, reunidos, esses fatores devem desempenhar papel relevante na demanda interna, segundo Mora y Araujo. Há, no entanto, restrições decorrentes do comprometimento da renda das famílias com dívidas, que podem conter o aumento da demanda, dependendo do impacto do programa Desenrola.

Para os próximos trimestres, as projeções da equipe do Itaú para o PIB apontam para alta modesta, entre 0,1% e 0,2%, até o fim do ano, mas ainda assim melhor do que o previsto em janeiro. A expansão do setor de serviços e da indústria será superior, ao redor de 0,3%. O cenário favorável motiva o retorno de projetos de expansão. “Os empresários começaram a destravar os investimentos. Ainda é modesto, mas é uma mudança importante em relação ao congelamento no início do ano”, diz Machado.

Os economistas do Itaú trabalham com variação zero da taxa de investimentos em 2023. Ao contrário do que parece, a projeção embute uma boa notícia. Isso porque diante da retração no primeiro trimestre do ano, quando a taxa de investimento ficou em 17,7% ante os 18,4% do mesmo período de 2022, segundo o IBGE, estabilidade significa crescimento nos meses seguintes. “Foi uma queda importante no primeiro trimestre, mas vemos retomada nos trimestres seguintes. Não vai mostrar muita força, mas teremos uma compensação”, diz Machado.

A seu ver, o empresário brasileiro já dá sinais de maior confiança para tomar decisões de longo prazo, tanto pelo início do ciclo de queda de juros quanto dos efeitos da reforma tributária e do arcabouço fiscal. O indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que agrega os investimentos em máquinas e equipamentos, na construção civil e em outros ativos fixos, reflete essa tendência. O índice registrou alta de 2,4% na comparação entre maio e abril na série com ajuste sazonal. Com isso, o trimestre móvel encerrado em maio registrou crescimento de 3,0% na comparação dessazonalizada.

A retomada tem dois fatores fundamentais, na visão de Honorato, que são a redução do risco e dos juros e a melhora da imagem do Brasil no exterior.

“A diplomacia brasileira tem sido exercida na atração de investimentos para setores como hidrogênio verde, transição energética e créditos de carbono. Tudo isso trará um fluxo importante para o país nos próximos anos. O Brasil está se confirmando como protagonista do setor de transição energética que vai ajudar na atração de investimentos”, diz.

No segundo trimestre deste ano, a bolsa brasileira recebeu US$ 12,5 bilhões, mais que os US$ 10,5 bilhões do primeiro trimestre. Só no mês de julho e na primeira semana de agosto ingressaram US$ 6,6 bilhões, metade do registrado nos três meses anteriores, conforme levantamento feito por Einar Rivero, head comercial do TradeMap, hub independente do mercado financeiro.

Sérgio Valle, da MB Associados, observa que a reforma aprovada na Câmara dos Deputados, que reduzirá a guerra tributária e simplificará impostos, tem potencial de destravar investimentos de longo prazo. “Mostrará às empresas que há caminho de investimento a ser feito em um país que terá custo tributário mais baixo, o que é muito relevante”, diz. Ainda assim, há desafios. A última ata do Comitê de Política Monetária (Copom) reafirmou a austeridade da política do Banco Central nos próximos cortes de juros. O cenário internacional será um dos fatores a influenciar o ritmo de queda, mas os indicadores globais não são claros. China em desaceleração, PIB dos Estados Unidos com alta de 1% e política monetária contracionista para conter a inflação podem ter efeitos negativos sobre a economia mundial.

Mônica Mora y Araujo, do Ipea: dinamismo da economia mudou — Foto: Helio Montferre/Divulgação
Mônica Mora y Araujo, do Ipea: dinamismo da economia mudou — Foto: Helio Montferre/Divulgação
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