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Por Suzana Liskauskas, para o Valor

Em um ano desafiador sob o ponto de vista da retração de consumo, agravado pela combinação de alta da taxa de juros e conjuntura política turbulenta, a saída foi encarar a arrumação da casa e fazer uma revisão geral de custos. É assim que Antonio Joaquim de Oliveira, presidente da Dexco, resume como a companhia conseguiu se destacar, ao longo de 2022, em um dos setores mais afetados pela diminuição de demanda após a pandemia de covid-19.

Depois da explosão de consumo vivenciada em 2020 e 2021, quando o isolamento provocado pelo coronavírus motivou investimentos em reformas nos lares, 2022 surgiu no cenário do setor de materiais de construção e acabamento ainda como um ano promissor. Com o passar dos meses, no entanto, veio a ducha de água fria. O consumo arrefeceu e esfriou ainda mais com a escalada da taxa de juros.

“De fato, 2022 acabou se revelando um ano bastante difícil, bastante desafiador, porque envolveu ainda a conjuntura política. Um ano extremamente turbulento com eleições no Brasil. O mercado deu uma parada para ver o que viria e houve uma subida muito grande da taxa de juros. Sempre que a taxa de juros cresce, nosso setor piora”, diz Oliveira.

Mesmo no segundo semestre, período tradicionalmente mais favorável ao setor, Oliveira ressalta que foi extremamente difícil. Ele atribui os resultados positivos da companhia, em momentos mais áridos, à combinação de negócios. O executivo se refere à venda de madeira, que afirma representar 60% do negócio.

“Neste momento [a venda de madeira] está representando até mais em termos de resultado. O setor de painéis, que vende para a indústria moveleira, continuou resiliente, mais que o segmento de materiais de acabamento de obra, que começou a perder tração no ano passado”, afirma Oliveira, que define o primeiro semestre deste ano como igualmente desafiador.

Antonio Joaquim de Oliveira, presidente da Dexco: "Olhamos lá para a frente" — Foto: Rodrigo Rodrigues/Divulgação
Antonio Joaquim de Oliveira, presidente da Dexco: "Olhamos lá para a frente" — Foto: Rodrigo Rodrigues/Divulgação

Mesmo assim, a Dexco se destacou entre os concorrentes. Outro motivo que contribuiu para a companhia alcançar melhores resultados no setor foi perceber bem cedo que a crise seria mais longa. Oliveira conta que essa percepção aconteceu entre junho e julho de 2022.

“Vimos que a situação iria se acirrar. Então, tratamos de fazer mudanças estruturais importantes. Fizemos um verdadeiro ‘turn-around’ no fim do ano passado nas nossas operações mais afetadas, como revestimentos cerâmicos. Passamos a apostar em canais digitais e na reestruturação da nossa forma de vender”, conta Oliveira.

Durante 2020 e 2021, para atender à grande demanda, Oliveira diz ter sido necessário atrasar projetos, como a incorporação da Cecrisa (fabricante da Portinari), comprada em 2019. Quando veio o momento de crise, puxado pela retração do consumo, foi possível pavimentar caminhos para as mudanças estruturais necessárias.

Uma dessas mudanças foi executada no plano de investimentos. Em 2021, a companhia divulgou um plano ambicioso, como o próprio Oliveira define. Foram anunciados R$ 2,5 bilhões para 2022, 2023 e 2024. O plano incluía a nova fábrica de revestimentos cerâmicos, em Botucatu (SP), com investimentos de R$ 600 milhões e inauguração prevista para janeiro de 2024.

Os projetos envolvendo a fábrica 4.0 de revestimentos cerâmicos foram mantidos, mas o plano geral de investimentos precisou ser revisto duas vezes. O último ajuste foi anunciado na primeira semana de agosto. Até 2025, o total a ser investido pela companhia será de R$ 1,8 bilhão.

“Já tínhamos anunciado anteriormente a redução para R$ 2,1 bilhões. O investimento de R$ 1,8 bilhão está praticamente executado, ou seja, estamos chegando ao fim de um ciclo de investimentos. Devemos ter nos próximos anos – 2024, 2025 e 2026 – um período bem mais light de investimentos em projetos. Basicamente, vamos tratar de reduzir dívidas e pagar dividendos”, detalha.

Na Dexco, 2022 e 2023 são definidos como o período ápice dos investimentos e também o início do pé no freio. Os dois anos são pontuados por ações de redução de custos e de aumento de produtividade. “Fizemos um grande arranjo interno e agora começamos a colher os frutos dessa reestruturação”, diz Oliveira.

Outro desdobramento da revisão geral dos planos de investimentos foi o fechamento da fábrica de Queimados (RJ), com 600 postos de trabalho. A unidade, que produzia louças, encerrou as atividades em 21 de junho deste ano. A produção dessa fábrica será suprida por unidades industriais instaladas em Recife (PE), João Pessoa (PB) e Jundiaí (SP).

“Nós tomamos muitas medidas de risco, mas mexemos conscientemente, avaliando prós e contras com o alto escalão da companhia, porque temos uma visão de longo prazo muito sólida”, ressalta Oliveira.

O encerramento das operações na unidade de Queimados começou a ser discutido em 2022 e envolveu um projeto-piloto por quase cinco meses. “Entendemos que fazia sentido enxugar um pouco nossa pegada industrial, tirando uma fábrica com custos de operação, gás e matéria-prima mais caros”, ressalta Oliveira.

No momento de revisão de custos e busca por aumento de produtividade, a decisão de fechar a fábrica de Queimados reflete a decisão de colocar o pé no freio dos investimentos em louças sanitárias. Por outro lado, a companhia manteve a aposta em revestimentos cerâmicos, com os investimentos na fábrica de Botucatu.

“Decisões estruturantes não são tomadas com base no resultado do mês. Olhamos lá na frente. Então, podemos passar por um trimestre com mais dificuldades, mas vamos fazer as mudanças. Se não fizermos, comprometeremos o plano de longo prazo”, afirma Oliveira.

De acordo com o presidente da Dexco, a companhia tem dois nortes inegociáveis: visão de longo prazo e o propósito, que não pode ser turvado por decisões de curto prazo, diz

O comprometimento com a visão de longo prazo é um diferencial entre os concorrentes, na avaliação do presidente da Dexco. Foi também um dos fatores decisivos para que a companhia se destacasse em um período menos pujante, como se apresentou 2022.

Na visão de futuro, Oliveira segue atento às transformações nos hábitos de consumo. Ele garante que a companhia não vai abrir mão da inovação contínua que traga resultados. “Existe uma transformação do hábito de consumo que afeta toda a economia. Isso só vai ser plenamente atingido com inovação”, afirma.

Outra questão relevante está relacionada à agenda ESG (sigla em inglês para boas práticas ambientais, sociais e de governança). “Sem ESG, caminha-se para o cadafalso”, diz.

Oliveira lembra que a companhia, criada há 70 anos como Duratex, carrega governança na sua história por sempre ter capital aberto. Hoje, o presidente da Dexco se orgulha de ter um programa voltado a ESG muito bem estruturado: quando o negócio não está revestido com as boas práticas significa que não é suficientemente bom para a companhia. “Na Duratex, já desistimos de muitos negócios bons do ponto de vista de valores por não serem aderentes ao que imaginamos como o melhor em sustentabilidade. Deixamos de comprar empresas com ‘valuation’ bastante interessante, porque não enxergamos um futuro sustentável para essas operações.”

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