As instituições financeiras estão procurando entender o movimento da tokenização, que começou com as NFTs e já é real na economia. O termo NFT (tokens não fungíveis), uma espécie de certificado digital para garantir a propriedade de produtos ou objetos no mundo virtual, é um movimento que começou com os games e ganhou mercado no mundo das artes, a chamada crypto art (de criptograma, códigos de números feitos ciberneticamente).
Na pandemia, essa tendência se popularizou, com a criação de sites dedicados a venda de artes, que dão aos artistas a possibilidade de monetizar sua arte individual, sem precisar estar ligado a uma empresa. Os NFTs chegaram também na música. Quando as melodias se tornam um NFT, passam a ser peças únicas e o único dono é quem compra primeiro. Ele paga em criptomoeda e recebe um código digital único, armazenado em uma “galeria” digital.
A tendência agora chegou ao setor financeiro, conforme demonstrado em alguns painéis realizados na Febraban Tech 2022. Os modelos, no entanto, diferem. O painel que tratou da tokenização de ativos e a economia criativa, relacionou diretamente os NFTs com a Web 3.0, um novo estágio da internet, cujo conceito é a descentralização, com a rede sendo construída e operada pelos usuários, mas tendo como alicerce a tecnologia blockchain (sistema que permite rastrear o envio e recebimento de alguns tipos de informação pela internet). Para vender uma NFT é necessário entrar em uma “galeria” especializada em blockchain e vender um token.
“O ecossistema de blockchain e cripto é sem fronteiras”, resumiu o artista gráfico Uno Oliveira, que está há dois anos e meio no mercado. “As artes digitais estão experimentando (o negócio) e eu entendo que existem gaps dentro da tecnologia, do processo de token, do entendimento do que é blockchain, Web 3.0, mas isso já é uma realidade. Eu falo isso do ponto de vista de quem está praticando e caminhando dentro desse universo”, comentou o artista gráfico.
De seu lado, os bancos sabem que o movimento é real e vai abrir novas frentes de negócios. O setor financeiro entende que a tokenização será mais ampla que as NFTs, indo além da Web 3.0, do metaverso e da criptomoeda, conforme mostraram os debates durante o painel “O futuro dos serviços financeiros e a tokenização da economia”, que contou com a participação de representantes do banco Original e do presidente da Mastercard, Estanislau Bassols.
“O que as instituições financeiras já sabem é que isso vai ser relevante. Por isso estão começando a olhar de forma mais profunda para entender o movimento da tokenização, que é real na economia”, afirmou o moderador do painel Raul Moreira, coordenador do comitê de inovação do banco Original. “O importante é que ativos tangíveis e intangíveis inevitavelmente serão tokenizados, fragmentados numa série de soluções financeiras que vão ser colocadas pelas instituições no mercado”, acrescentou.
Na sua visão, o ponto mais importante é saber como os bancos vão se preparar para a nova onda, que pode abrir uma “nova avenida”, com novos entrantes no mercado. “É primordial que as instituições financeiras mergulhem nesse processo de entendimento e se prepararam para esse movimento, que é inevitável”, recomendou o representante do banco Original.
A tendência nos bancos é tokenizar contratos de crédito, bens moveis e imóveis. Os bancos poderão, por exemplo, pegar o contrato de um empréstimo e tokenizar. As pessoas comprariam cotas e rentabilizariam esse empréstimo.
“Uma propriedade rural produtiva poderá ser tokenizada”, exemplificou Moreira. Neste caso, ao invés de fazer um financiamento bancário tradicional, o produtor “tokeniza” a propriedade rural, que rende um determinado valor mensal, e quem compra os tokens passa a ter direitos recebíveis.
O setor acredita que os recebíveis serão um dos primeiros movimentos a serem tokenizados na economia, criando oportunidade para as pessoas comprarem cotas pequenas, seja de uma propriedade rural, seja de um imóvel urbano.
Para que a tokenização se torne real no setor, as instituições financeiras apostam na criação do Real digital, uma Central Bank Digital Currency (CBDC), que pretende interconectar o sistema financeiro atual com os serviços financeiros que estão sendo desenvolvidos dentro da Web3, como os baseados em blockchain e nas novas tecnologias.
Ao participar do painel da economia criativa, Fernando Freitas, head de inovação do Bradesco, observou que nas transações com NFTs, a criação vai gerando receita ao longo da cadeia - seja para um investidor, um proprietário que quer custodiar a propriedade ou alguém que queira fazer uma transação. “Em algum momento vai ter uma transação financeira, como acontece hoje com as criptos. Nesse sentido as CBDCs [moedas digitais] que vão chegar em um, dois anos, terão papel importante para destravar valor para as NFYTs”, opinou o executivo do Bradesco.