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Por Ana Luiza Mahlmeister — Para o Valor, de São Paulo


Com investimentos anuais de R$ 24 bilhões em tecnologia, o setor bancário encara os desafios da chegada do Pix e do open banking, que intensificam a concorrência e a pressão por serviços inovadores e personalizados. A boa notícia é que as novas tecnologias facilitam a captura rápida de informações e, combinadas com parcerias, alcançam plataformas fora do ambiente bancário, oferecendo serviços mais relevantes para a vida financeira dos clientes.

O compartilhamento das informações com consentimento do correntista ajuda a criar ofertas personalizadas, já que as instituições trabalham com uma grande massa de dados e entendem seu fluxo de consumo. Isso só é possível com sistemas de inteligência artificial (IA) e técnicas de “data science”, pela qual a tecnologia habilita a inovação.

Segundo estudo da NTT Data, a aplicação da IA e aprendizado de máquina é a base das finanças hiperindividualizadas. A pesquisa, de dezembro de 2020, realizada com 4,8 mil clientes de oito países, incluindo o Brasil, mostra que 53% gostariam que sua instituição financeira lhes enviasse lembretes sobre os pagamentos mais importantes, 47% querem conhecer a relação entre receitas, despesas e economias para ajudá-los a alcançar suas metas financeiras, e 39% querem que as instituições impeçam que façam compras, para auxiliar o controle do orçamento.

“A abertura das bases de dados para que os clientes compartilhem informações com quaisquer empresas que desejarem não é uma tarefa trivial, pois essas redes foram projetadas para dar maior peso à confidencialidade e segurança, onde os dados são os ativos mais valiosos dos bancos”, afirma Tiago Aguiar, superintendente de novas plataformas na TecBan.

A tarefa é desenvolver procedimentos para verificar a identidade e as autorizações dos prestadores de serviços que desejam acessar as informações, e criar ferramentas que facilitem o consentimento de acesso para que os clientes entendam quais dados serão compartilhados e com quais empresas. O lançamento pelos bancos de portais com APIs (sigla em inglês para interface de programação de aplicações) garante a transmissão controlada das informações entre as instituições e empresas e segue formatos definidos pelo órgão regulador. “Essa plataforma comum permite que o cliente migre para outros bancos mais facilmente, podendo consumir produtos de todos eles dentro da plataforma de um terceiro, oportunidade perfeita para se diferenciar e criar produtos e mais personalizados”, aponta Heverson Amorim, gerente executivo de engenharia de tecnologia do banco Digio.

Para acompanhar o ritmo de inovação, os investimentos em tecnologia do Itaú Unibanco cresceram 112% entre 2018 e 2021, incluindo a migração para a nuvem e a conectividade com outras empresas. Para aprimorar a experiência dos correntistas, o Itaú investe na análise de informações para obter “insights” e entender sua jornada. “O open banking abre espaço para mais customização de produtos de acordo com perfis individuais e não mais faixas de consumidores aleatórios”, diz Marcos Cavagnoli, diretor do Itaú Unibanco.

Com interfaces abertas para outras instituições financeiras e empresas, os bancos funcionam como plataformas de serviços no conceito de “bank as a service” (BaaS). Esse ecossistema integra produtos bancários e não bancários e proporciona uma experiência mais fluída. “Na busca por um imóvel na plataforma da OLX, por exemplo, o cliente já inicia o financiamento nesse canal ao invés de fazer uma jornada paralela no site do Bradesco ”, explica Clayton Neves Xavier, superintendente executivo de gestão de dados do banco.

No primeiro trimestre, 98% das transações do Bradesco foram feitas pelos canais digitais, com destaque para internet móvel, que representou 91%, com 5,2 bilhões de transações, crescimento de 17% em relação ao primeiro trimestre do ano anterior.

Ainda em 2017 o Banco do Brasil lançou o Portal do Desenvolvedor, que conecta empresas a serviços bancários. Uma das soluções é o status de boletos, para que qualquer empresa consulte a liquidação de pagamentos, dando rapidez à liberação do caixa. “Fizemos parcerias com sistemas de gestão empresarial (ERP) para cobrança nas plataformas de empresas clientes, onde o banco oferece serviço fora do seu ambiente”, diz Karen Machado, gerente executiva de open banking do BB.

No Santander o open banking alavancou serviços de comparação de preços e tarifas, iniciação de pagamentos, encaminhamento de propostas de crédito, ofertas personalizadas de educação financeira e tratamento de risco de crédito. “Por meio de APIs trabalhamos com empresas coligadas e parceiros como a Getnet, empréstimos com a fintech SuperSim, Decolar, HDI Seguros, Sul América, Zurich e Tokio Marine", afirma Marino Aguiar, diretor de tecnologia e inovação do Santander Brasil. O banco investiu em “streaming” de dados na captura de informações do cliente em tempo real para ofertas rápidas de avaliação de risco e prevenção de fraudes.

A plataforma de “bank as a service” foi a opção do Banco Votorantim (BV), que atua como liquidante e custodiante para fintechs e startups por meio do BV Open. Em 2020 foram realizadas 48,2 milhões de transações nesse modelo, com alta de 163% sobre 2019. “Entre os destaques estão o programa de financiamento de energia solar para os integradores e clientes da WEG e a carteira digital para o programa de fidelidade Abastece Aí, dos postos Ipiranga ”, diz Guilherme Horn, diretor de inovação e estratégia digital do banco BV.

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