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Por Ediane Tiago — Para o Valor, de São Paulo


Em junho do ano passado, a Embraer divulgou a doação de 50 sistemas portáteis de controle biológico para hospitais públicos no interior de São Paulo. A engenhoca - uma caixa acoplada a um tubo flexível - reduz a pressão do ambiente, impedindo a troca de ar entre as dependências de um hospital. A técnica limita a circulação de microrganismos, entre os quais o novo coronavírus, tornando o ambiente hospitalar mais seguro. O equipamento ainda conta com exaustor e filtros de alta eficiência (Hepa), responsáveis por expelir ar limpo e sem contaminantes para a área externa. A destinação dos aparelhos passaria por uma ação de responsabilidade social dentre outras praticadas pela empresa, não fosse o papel da Embraer no desenvolvimento do produto.

A ideia do sistema, batizado de Atmus, surgiu em uma conversa da equipe do Hospital Israelita Albert Einstein com a Enebras, empresa de condicionadores de ar. O médico Sidney Klajner, presidente do Eisntein, lembra a corrida da área médica por inovações capazes de controlar a contaminação dentro das unidades de saúde. “O protótipo do pressurizador se mostrou uma boa opção e apostamos nele”, diz.

A Enebras teve apoio da estrutura de pesquisa e desenvolvimento (P&D) do hospital para projetar e testar o aparelho. Mas o passo para a industrialização exigia outro tipo de conhecimento. O time de inovação do Einstein ativou a rede de contatos e logo costurou parceria com a Embraer, que ficou responsável pelo detalhamento técnico e estratégia de industrialização dos aparelhos. “Temos o mapeamento da nossa cadeia produtiva. Sabemos onde estão os fornecedores e conseguimos ajudar na logística necessária para colocar as peças em produção rapidamente”, comenta Luís Carlos Affonso, vice-presidente de engenharia, tecnologia e estratégia corporativa da Embraer.

Para Jefferson de Oliveira Gomes, diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a pandemia de covid-19 esticou a corda e testou a capacidade de conexão, a flexibilidade e a criatividade das empresas. Aquelas que investem constantemente em pesquisa, desenvolvimento e inovação responderam de forma rápida à emergência sanitária e estão mais preparadas para enfrentar as consequências econômicas. Casos como o da parceria entre Embraer, Einstein e Enebras mostram que os efeitos positivos da inovação transbordam o plano de negócios e unem empresas na solução de problemas que afligem a sociedade. “A transferência de conhecimento entre diferentes setores produtivos é um marco importante na mobilização para a inovação no país”, diz.

Ao exemplo da Enebras, Gomes adiciona o consórcio industrial, liderado pela Embraer, Positivo, Suzano, Klabin e Flex, formado para apoiar a Magnamed, especializada em ventiladores pulmonares, na fabricação de 6,5 mil unidades, em caráter emergencial, para o Ministério da Saúde. “Aumentar a produção em curto espaço de tempo é um desafio e só quem conhece os meandros das cadeias produtivas de alto valor agregado pode ajudar”, explica, lembrando que a correria no IPT para homologar e certificar os produtos também foi grande. “Empresas de grande porte, startups e pesquisadores se uniram em outros projetos para abastecer o mercado hospitalar.”

Colocar o estoque de conhecimento a serviço da sociedade é uma forma de demonstrar, na visão de Gomes, que inovação é um processo complexo, que começa no investimento em pesquisa e culmina na aplicação prática de tecnologia. Esse tipo de parceria - que ele chama de transbordamento - deve ser tornar comum para que o país consiga resolver problemas na área da saúde, meio ambiente, na construção de cidades inteligentes e na resposta a tantos outros problemas estruturais e sociais do Brasil. “Quando a poeira baixar, nós teremos um período fértil para o desenvolvimento de soluções que reúnem diferentes competências”, diz.

Sair dos silos, avalia Gomes, é relevante para a estruturação das cadeias produtivas e evolução da indústria, que deve se tornar mais flexível e utilizar a especialização para conquistar negócios em diferentes verticais, reduzindo o grau de dependência de grandes clientes ou setores. “A flexibilidade é um ganho da inovação que passou a fazer mais sentido para as empresas”, diz.

Nos casos do Einstein e da Embraer, a capacidade de inovação também foi o pilar para manter as rédeas do negócio. O baque da saúde se traduziu em aumento brusco de demanda, na necessidade de entender rapidamente uma doença nova e na corrida por tratamentos e vacinas. “Sem a nossa estrutura de P&D, não conseguiríamos responder a tempo e atender todos os que chegaram ao hospital”, comenta Klajner. De acordo com ele, o fato de a instituição manter uma incubadora de empresas, estar avançada na jornada digital, ser ativa no ecossistema de inovação e estar acostumada a testar protótipos - em uma relação aberta com startups e empresas parceiras - fez toda a diferença.

Já o setor aeronáutico teve de lidar com a frota no chão - diante da queda de demanda por voos comerciais. “Reagimos rapidamente para auxiliar nossos clientes”, lembra Affonso. O time de engenharia da Embraer se dedicou a modificar projetos para permitir que aviões, antes destinados ao transporte de passageiros, pudessem levar cargas. Entre as aéreas que adotaram a modificação, ele cita a Azul. “A demanda do e-commerce cresceu e as empresas tiveram de mudar de rota”, explica.

O pente fino da engenharia também chegou aos sistemas de filtragem de ar. A empresa já instalava em alguns modelos de aeronave o filtro de alta eficiência (Hepa), o mesmo utilizado no sistema de controle biológico para hospitais. “Ampliamos o uso deste tipo de filtro na linha de produtos”, diz Affonso. A Embraer ainda investiu em tecnologias para higienização de cabines - que devem permanecer no protocolo de limpeza após a pandemia. “Tratamos das emergências, sem descuidar dos projetos de longo prazo que continuam em nosso portfólio”, confirma o executivo.

Gianna Sagazio, diretora de inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), afirma que a pandemia aumentou a urgência para investir em inovação. “Em uma pesquisa que fizemos no ano passado, 83% das participantes disseram que vão precisar de inovação para superar os efeitos da crise”, diz. Para ela, é preciso aproveitar esse nível de consciência para disseminar projetos de pesquisa e desenvolvimento e estimular parcerias para inovação aberta. “As empresas ainda têm dificuldade para acessar recursos financeiros e fechar acordos com universidades e centros de pesquisa para a transferência de conhecimento”, diz.

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