O período coberto pela nova edição do “Guia Valor de Fundos de Investimento”, que avaliou o desempenho das carteiras entre janeiro de 2018 até dezembro de 2020, abrange um ano do governo Michel Temer (PMDB) e os dois primeiros anos do governo Jair Bolsonaro (sem partido). O intervalo foi marcado por uma guinada na condução da política econômica brasileira.
A agenda de maior ênfase para a livre iniciativa, disciplina fiscal, reformas legislativas e redução das atribuições do Estado foi atropelada pela necessidade de adoção de medidas para conter as consequências da pandemia do novo coronavírus. O auxílio emergencial e demais gastos para o combate à covid-19 somaram R$ 524 bilhões no ano passado. Essas despesas extraordinárias foram as principais causas para que o déficit primário do governo central em 2020 chegasse a 10% Produto Interno Bruto (PIB).
Como consequência dos gastos públicos mais elevados, a dívida pública interna do Tesouro Nacional, somada às operações de mercado aberto do Banco Central (BC), aumentou consideravelmente. Em termos relativos, passou de 68% do PIB em dezembro de 2017 para 80% do PIB em dezembro de 2020.
Além disso o BC reduziu a taxa básica de juros. A Selic chegou na mínima histórica de 2% ao ano em dezembro de 2020, partindo de 7% ao ano em dezembro de 2017. Atualmente a taxa básica está em 2,75% ao ano e a sinalização da autoridade monetária é de novos aumentos.
Ainda não está claro como os estímulos fiscal e monetário irão impactar a inflação daqui para frente. Na média dos três anos analisados na pesquisa, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 4% ao ano. O rendimento das aplicações atreladas à variação do certificado de depósitos interfinanceiros (CDI), o mais importante parâmetro de referência para as aplicações de renda fixa, foi de 5,04% ao ano.
O IMA-S, indicador que mede a rentabilidade das LFTs, também conhecidas como Tesouro Selic, rendeu 4,92% ao ano. O ganho um pouco abaixo do CDI é explicado pelo chamado aumento do ágio dos títulos, no jargão de mercado. Significa que os investidores passaram a exigir rentabilidade acima do CDI para comprar os títulos do governo, o que desvalorizou os papéis que já estavam em circulação no mercado.
O CDI e o IMA-S são os parâmetros de comparação para os fundos da categoria renda fixa DI do guia. Para os fundos das categorias renda fixa ativo/prefixado e juro real os indicadores de referência são o IRF-M e o IMA-B, respectivamente.
O IRF-M rendeu 9,80% ao ano no período e acompanha o desempenho das LTNs e NTN-Fs, títulos também conhecidos como Tesouro prefixado. O IMA-B teve ganhos de 13,94% ao ano e mede o rendimento das NTN-Bs, também chamadas de Tesouro IPCA.
O IDA-DI rendeu 5,03% ao ano e é o indicador para comparar o desempenho dos chamados títulos de crédito privado. São obrigações emitidas por empresas, tais como debêntures, negociadas sem restrições no mercado de capitais.
Em sua maioria, os fundos agrupados nas categorias crédito privado adotam o IDA-DI como parâmetro de referência. Algumas carteiras, no entanto, podem comprar papéis corrigidos pelo IPCA ou títulos estruturados, sem cotação de mercado. O IDA-IPCA Infraestrutura, com ganhos de 11,94% ao ano, pode ser usado como referência para os fundos da categoria debênture incentivada.
Nesses três anos, o Ibovespa rendeu o equivalente a 15,92% ao ano e ficou pouco acima da variação de 14,18% ao ano do índice S&P 500, um importante indicador da bolsa americana. Já o dólar subiu 16,25% ao ano em relação ao real. O bitcoin, por sua vez, teve queda de 70% em 2018, mas recuperou e fechou o período com alta de 32% ao ano.
Os fundos mais agressivos, das categorias multimercado, long biased, long short e ações buscam montar posições nesses ativos mais voláteis. A consequência é que o desempenho das carteiras incluídas nessas categorias tende a ser mais diverso, porque dependem do sucesso obtido pelo gestor na montagem das estratégias.
Para os fundos mais voláteis, é importante avaliar o índice de Sharpe, que relaciona a rentabilidade acima do CDI com o risco do fundo. No mundo ideal, o maior risco deve estar associado a ganhos proporcionalmente mais elevados.
Finalmente, um parâmetro importante que pode ser usado para avaliar a tolerância a riscos do investidor é a perda máxima que a carteira amargou no período analisado. O indicador dá uma dimensão do que pode acontecer se as coisas não saírem conforme o esperado.