Após três anos de queda, a venda de aparelhos celulares voltou a ter um leve crescimento com a comercialização de cerca de 10 milhões de novas unidades nos quatro primeiros meses do ano, uma ligeira alta de 0,7% sobre o mesmo período de 2023, e trouxe a expectativa de retomada para o setor. Segundo Ricardo Moura, diretor de atendimento tech and durables da NielsenIQ GfK Brasil, essa mudança pode ser explicada, entre vários fatores, pela queda nos juros e pela redução do preço médio dos celulares. Em média, os aparelhos custam hoje R$ 1.600, quase 10% mais baratos que há um ano. “Temos um cenário mais positivo”, diz Moura.
A queda no mercado local de celulares vinha desde 2020. Segundo Andréia Sousa, analista de consumo da IDC Brasil, esse movimento era previsto devido aos impactos da pandemia e do aumento do tempo que os consumidores passaram a levar para trocar seus smartphones - porém, essa situação atingiria apenas uma pequena parcela dos usuários.
A analista também destaca que a maior contribuição para a reversão desse quadro foi o avanço do mercado paralelo, ou “grey market”, que se intensificou desde o segundo semestre de 2023. Esse segmento mais que triplicou em um ano e hoje representa 25,4% do mercado total de smartphones. Apesar de ser ilegal, o grey market usa canais de distribuição que são legalizados como marketplaces, além de estarem presente em canais de distribuição não oficiais ou não autorizados, o que prejudica as vendas das empresas.. Para Souza, o mercado paralelo deve seguir fortalecido devido à dificuldade em barrar a entrada desses aparelhos nos pontos de vendas. “O mercado oficial certamente enfrentará dificuldades para apresentar resultados superiores aos do ano passado”, diz.
Dentro das vendas regularizadas, vale destacar a presença dos aparelhos 5G. Segundo dados da NielsenIQ GfK, a categoria representou 46% das unidades comercializadas no primeiro quadrimestre, um aumento considerável contra os 27% no mesmo período em 2023. O share da categoria é maior, inclusive, que o acumulado no ano, que fechou em 38%. Moura afirma que os celulares 5G devem ultrapassar os 4G ainda este ano, ressaltando que na parcela de faturamento, os 5G já são maioria no país.
Todas as companhias têm acompanhado essa tendência e atualizado seus portfólios com a tecnologia 5G. A Xiaomi, que chegou ao Brasil em 2015, possui 60% de seus lançamentos em 2024 de aparelhos 5G. Neste ano, 50% das suas vendas são de celulares da categoria.
Rodrigo Vidigal, presidente da Motorola Brasi l , conta que a empresa lançou o primeiro smartphone compatível com essa tecnologia no Brasil em 2020. Hoje, 80% do portfólio é compatível com o 5G, sendo que, assim como a Xiaomi, 50% dos produtos vendidos em 2024 usam a nova tecnologia. “O Brasil é o quarto maior mercado de smartphones do mundo, e esta é a categoria de produto de maior desejo de consumo pelos brasileiros “, afirma o presidente.
De acordo com o diretor da NielsenIQ GfK, a perspectiva é de retomada gradual e de desempenho positivo para esta categoria ao longo de 2024 e 2025. Mas outro fator que pode impactar positivamente as vendas é a entrada da tecnologia de inteligência artificial, o que poderá ser um atrativo para a aquisição de um novo modelo de celular pelos consumidores brasileiros.
A Samsung afirma possuir a maior carteira de celulares compatíveis com a tecnologia 5G no Brasil, um total de 47 modelos. Em conjunto, a companhia deu início a implementação da inteligência artificial em seus celulares com o modelo Galaxy S24.
A fabricante afirma que a pré-venda dos novos smartphones impulsionados pelos recursos do Galaxy AI, inteligência artificial da Samsung, registrou recorde histórico de 72% a mais que seu antecessor em todos os países da América Latina. O aumento foi ainda maior nos canais de venda on-line, onde os pedidos de pré-venda atingiram 129% a mais quando comparado com o mesmo período de 2023 (17 de janeiro até 4 de fevereiro).
No geral, as empresas seguem com um olhar otimista para o mercado de celulares no Brasil, ainda que o mercado passe por um período natural de ajustes após os efeitos da pandemia. “Estamos otimistas que 2024 será um ano de retomada do crescimento do mercado”, afirma Vidigal, da Motorola.