Projeto promove cerco eletrônico da cidade

Além da Muralha Digital, o sistema integra os centros operacionais do transporte e da Defesa Civil, além de serviços de abastecimento de água (Sanepar) e de energia (Copel). “Trata-se de um centro com informações estratégicas, sob a ótica preditiva, para construir o futuro da cidade”, diz Antonio Carlos Rebello, superintendente de TI da Prefeitura de Curitiba.

Segundo Rebello, mais de 20 cientistas de dados e desenvolvedores ficam no entro de operações cruzando informações para subsidiar ações dos gestores, com base em dados pluviométricos, de trânsito, saúde e educação. Criada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba e pela Secretaria de Administração, Gestão de Pessoal e TI, a plataforma tem como parceiros a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

A estrutura trabalha em conjunto com a Muralha Digital, que promove o cerco eletrônico da cidade, com perto de 2 mil câmeras instaladas em pontos estratégicos, enviadas ao centro de controle, em tempo real e 24 horas por dia. São registradas ocorrências de mais de 50 viaturas da Guarda Municipal com câmaras dos policiais que usam bodycam e do monitoramento do tráfego de veículos.

O “muro virtual” permite ainda proteger mulheres vítimas de violência doméstica que têm acesso ao botão de pânico e, nas escolas, professores ou inspetores podem acionar a polícia em caso de invasão de um atirador. “Em média os locais monitorados apresentam redução de 40% da criminalidade. É um caminho sem volta e que mostra o protagonismo dos municípios na segurança pública”, diz José Sommer Neto, superintendente da Secretaria Municipal de Defesa Social e Trânsito de Curitiba. Entre as diversas aplicações, o monitoramento também auxilia a Defesa Civil em emergências.

O conceito de cercamento eletrônico municipal avança na segurança pública, segundo a empresa de software Sentry. Sua solução já atende mais de 120 cidades, nove capitais e quatro secretarias estaduais de Segurança Pública (Acre, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia). Por meio de parceria com a Aloha Fibra, o objetivo é expandir a Muralha Digital pelo Brasil, visando atender mais de 400 municípios e um crescimento superior a 50% até o fim de 2024. “Nossa tecnologia permite que forças policiais atuem preventivamente. O sistema também dá alarmes na circulação de veículos suspeitos, graças à internet via fibra”, diz Junior Carrara, diretor da Sentry.

Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o Estado registrou redução de 50% nos furtos e roubos de veículos nas cidades usuárias do sistema. Em Limeira, o investimento é de R$ 19 milhões com previsão de 48 meses. “Estamos em evolução com a modernização e a contínua capacitação dos nossos agentes”, revela Wagner Marchi, secretário de Segurança Pública e Defesa Civil da cidade.

“O Brasil enfrenta desafios para a expansão das smart cities. Um dos obstáculos é a falta de investimento por parte dos municípios em sistemas inteligentes. São cruciais projetos que incluam e beneficiem as diversas realidades socioeconômicas existentes”, afirma Fábio Abreu, vice-presidente de negócios B2B e rede da Alloha Fibra, maior grupo independente de fibra óptica, presente em mais de 800 cidades em 22 Estados.

Com a tecnologia de IA dentro das câmeras, a segunda onda de monitoramento é mais analítica e os sistemas passam a incorporar a tecnologia ANPR (reconhecimento do número da placa), rastreando veículos roubados, por exemplo. Já o reconhecimento facial permite o cruzamento com a base de suspeitos da polícia para identificar por onde eles circularam. Câmeras inteligentes podem ainda identificar barulho de tiros ou comportamentos suspeitos, além de sensores que monitoram níveis dos rios ou potenciais deslizamentos, na prevenção de tragédias, como a que afeta o Rio Grande do Sul.

A chegada do 5G é fundamental para conectar equipamentos com IA embutida e a variedade de dispositivos IoT (Internet das Coisas). “A instalação da muralha em uma smart city é um poderoso instrumento no combate à criminalidade e traz a percepção de segurança para a população”, diz Carlos Botelho, diretor de vendas da Embratel para governo.