Telecomunicações
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Por Wanise Ferreira — Para o Valor, de São Paulo


Após dois anos convivendo com uma pandemia que lhes impôs evolução tecnológica de forma mais acelerada, as empresas latino-americanas refletem agora sobre como extrair valor desse processo e aumentar a produtividade digital. Apesar de ainda enfrentarem diversos obstáculos e resistências, as companhias podem ser protagonistas de gastos anuais em TI da ordem de US$ 27,4 bilhões de 2022 a 2026.

Um comparativo feito pela IDC a pedido da DocuSign mostra que durante a pandemia mais de 80% das empresas concentraram seus investimentos em medidas de contingência, 88% investiram em acesso remoto, 81% em ferramentas de colaboração e plataformas de teleconferência e o mesmo percentual em segurança na rede. As atenções se dividiram em vários pontos, como foco na continuidade operacional, espaço de trabalhos remotos e a manutenção da produtividade e receita.

Três anos depois, as prioridades são outras. Segundo a pesquisa, as empresas querem aumentar a produtividade organizacional (54%), melhorar o equilíbrio na aquisição e retenção de clientes (42%) com melhores ofertas de produtos e serviços (40%). Nessa trajetória, 21% sabem também que não devem negligenciar custos em segurança e privacidade de dados.

“Agora as empresas querem aumentar a produtividade em ambiente digital e não cortar custos como desejavam durante a pandemia”, comentou Fabio Martinelli, analista de pesquisa e consultoria de software da IDC.

Nesses três anos, o IDC lembra que o Brasil registrou crescimento de 36% no comércio eletrônico, absorveu a herança dos modelos de trabalho remotos, transformando-os em híbridos, chegou a 165 milhões de usuários de internet e pode contar com governos digitais mais elaborados e modernos.

Mas, na contrapartida, teve de lidar com o fato de ser o segundo na América Latina em ataques cibernéticos. Foram 103,6 bilhões de intervenções no ano passado, uma expansão de 16% sobre 2021 conforme dados do Fortiguard Labs.

É preciso criar o pensamento digital desde o início”
— Norbert Otten

O estudo “O estado da digitalização 2023: desafios e oportunidades nas empresas brasileiras”, do IDC, mostra que a projeção do FMI para a América Latina este ano é de crescimento moderado do PIB, na faixa de 1,9%. Esse cenário faz com que se destaque a possibilidade de expansão de 12,9% nos gastos empresariais com TI no Brasil.

Quando são estimuladas a olharem um pouco mais para a frente, 46% das empresas consultadas acreditam que de 26% a 49% de suas receitas virão de produtos e serviços digitais em 2027.

Com essa disposição, o estudo se aprofundou também no processo de adoção do conceito ‘digital first’ nas empresas latinas. E constatou que 47% reconhecem a necessidade de promoverem seus canais digitais.

Entre os adeptos do conceito estão a área de telecomunicações, com 80% de adesão, seguida pelos serviços legais (75%), varejo (44%) e seguradoras (40%).

Em relação aos recursos mais utilizados em ambiente digital o estudo mostra que prevalece a busca pela automação e gerenciamento eficiente. O CRM é líder no uso com 78%, seguido pelo gerenciamento de despesas (75%), assinatura eletrônica (72%), gestão de benefícios (61%) e ERP (53%).

O diretor de soluções para a América Latina da DocuSign, Norbert Otten, chama a atenção para o fato de que para avançar digitalmente não basta executar processos analógicos com meios digitais. “É preciso criar o pensamento digital desde o início, transformando a cultura da empresa”, observa.

Para atingir essa recomendação, ainda há obstáculos. 41% dos executivos reconheceram que suas empresas adotam tecnologia apenas quando consideram que é necessário. E, mais grave, 19% dizem que suas companhias são resistentes à digitalização.

“Há vários componentes nessa resistência, desde o cultural até a dificuldade de capacitação e complexidade de recursos”, ponderou Otten. Mas ele acredita que para avançar é preciso que os benefícios do processo fiquem claros, haja maior integração e precisão dos dados compartilhados dentro da empresa e com TI sendo mais requerida e participativa na área de negócios.

O levantamento do IDC mostra também que à medida que as empresas aumentam de tamanho se tornam mais avançadas em termos de inovação. No caso das PMEs (pequenas e médias empresas), 73% dizem que pesquisam sobre novas tecnologias antes de adotá-las. “Ou seja, buscam aconselhamento de parceiros sobre onde podem obter maior impacto em seus negócios”, diz o IDC.

Dentro do organograma das empresas, o IDC estabeleceu um mapa de adoção das novas tecnologias por departamentos. Como esperado, a área de operações e TI está à frente, com 63%, seguida de finanças com 53%, legal com 48%, vendas com 45%, suporte ao cliente com 42%, compras com 39% e recursos humanos com 32%.

A pesquisa foi realizada no segundo trimestre envolvendo cerca de 370 organizações com 9% dos entrevistados pertencentes a conselhos de administração, 15% vice-presidentes, 50% diretores de área e 26% gerentes, responsáveis por decisões de investimento em TI.

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