A inclusão financeira é um dos grandes desafios no Brasil, que possui população heterogênea e disparidades sociais. Os bancos têm investido em educação financeira e tecnologia, alinhando produtos a perfis específicos como microempreendedores, mulheres de baixa renda e indígenas.
O Banco do Brasil desembolsou em torno de R$ 100 bilhões em crédito para micro e pequenas empresas no ano passado, acima do registrado no ano anterior. “O acesso ao crédito por si só não basta, investimos em capacitação para a perenidade das empresas”, afirma Marcelo Gomes, head de Clientes PJ (MPME) do Banco do Brasil.
Entre as iniciativas, o BB oferece aos empreendedores o Painel PJ. “A plataforma tem ferramentas gratuitas de gestão financeira, incluindo fluxo de caixa”, diz. Os pagamentos e recebimentos são consolidados com dados de outras instituições por meio de open finance. E a grande novidade é a solução Ari, que utiliza inteligência artificial (IA) generativa. “A IA no Painel PJ dá recomendações e insights baseados na realidade dos empreendedores”, explica Gomes. Com a Ari, é possível saber os melhores dias de vendas, o risco de concentração do negócio em determinados clientes e uma despesa no radar que exige maior valor em caixa, entre outros aspectos.
O Banco do Nordeste tem 55% de participação no segmento de microcrédito produtivo, com o programa Crediamigo, que em 25 anos totalizou R$ 118 bilhões em desembolsos. De janeiro a maio deste ano, foram R$ 4,1 bilhões em crédito aos microempreendedores. Atualmente, o ticket médio dos empréstimos é de R$ 3,1 mil e as taxas de juros são a partir de 1,94% ao mês. “Com educação e acompanhamento próximo do uso do crédito, há baixa inadimplência e geração de empregos e renda nas comunidades”, destaca Anderson Aorivan da Cunha Possa, diretor nacional de Negócios da instituição. No plano de expansão, a estrutura exclusiva de atendimento do Crediamigo passará dos atuais 474 pontos para mil unidades até 2025.
Por sua vez, o Santander também atua em microfinanças. Em 21 anos, o Prospera já direcionou R$ 22 bilhões aos microempreendedores formais e informais, sendo 67% mulheres. Além do atendimento personalizado, são oferecidos cursos presenciais e conteúdos nas plataformas do banco. “Em uma pesquisa recente, 35% dos microempreendedores passaram a ter controle do fluxo de caixa, 40% separaram o dinheiro do negócio do pessoal e 9% formalizaram os negócios”, ressalta Andrea Yuri Harano, head de Estratégia do Prospera sobre os progressos.
Para empoderar e promover a autonomia financeira das mulheres, a Caixa lançou neste ano o programa Mulheres Plurais com produtos com condições diferenciadas – crédito, investimentos e seguros-, e cursos online e presenciais. “A ideia é que ganhem resiliência financeira e façam uso consciente do crédito”, comenta Michelle Fernandes Vieira, superintendente de Finanças Sustentáveis e Cidadania Digital da Caixa. Outra iniciativa nova é Mulheres de Favela, em parceria com a Cufa (Central Única de Favelas), com foco em empreendedorismo. Já foram realizados três laboratórios de inovação social e uma trilha de formação, impactando mais de quatro mil mulheres de comunidades. “Nossos projetos consideram cada vez mais as necessidades de nichos”, acrescenta Michelle.
Com diversas ações de cidadania financeira e inclusão de não bancarizados, um dos ícones do Bradesco é o Barco Voyager, uma agência flutuante que oferece atendimento e oficinas educativas para a população de regiões remotas da Amazônia. Recentemente, uma equipe da Unibrad (Universidade Corporativa do Bradesco) produziu uma cartilha de educação financeira para índigenas, na língua Ticuna. “O conteúdo e as ilustrações foram desenvolvidos em colaboração com a comunidade e apoio de educadores”, afirma Oswaldo Luiz Nogueira da Silva, gerente de Educação Corporativa do Bradesco
Conforme o executivo, o projeto Unibrad Conexão leva orientações financeiras a outras comunidades indígenas, imigrantes e refugiados, escolas públicas e famílias tutoras de pessoas com deficiência.