A capacitação e a contratação de pessoas de baixa renda e de grupos minorizados têm ocupado lugar de destaque no planejamento do setor financeiro. Há novas formações para especialistas em crédito, tecnologia e cibersegurança. “A educação é uma ferramenta de inclusão”, garante Katiuscia Karine Lange, coordenadora da área de gestão de pessoas da Central Sicredi PR/SP/RJ.
Desenvolvido para potencializar talentos e fornecer oportunidades de trabalho, a instituição financeira cooperativa Sicredi, em parceria com a Febraban Educação, escola de negócios e finanças da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), mantém um projeto de inclusão social que formou 43 profissionais entre 2022 e 2023. O curso “Mercado financeiro com certificação FBB 510” é voltado à atuação em cooperativas de crédito.
Segundo Lange, entre os graduados, 72% são pessoas negras e 60% são mulheres. A faixa etária das turmas, que incluem profissionais que trabalham como copeiros e vigilantes, vai de 18 a 50 anos. “A certificação que estudamos é a mesma feita pelos funcionários de carreira do Sicredi”, diz.
Além de crédito, o conteúdo inclui temas como matemática financeira e lavagem de dinheiro, explica Armando Tosi, professor da Febraban Educação. Do total de 19 formados em 2022, 47% assumiram posições na cooperativa, a maioria como auxiliar de atendimento (22%). Em 2023, dos 24 graduados, 63% foram admitidos, a maior parte em funções como auxiliar administrativo (13%) e caixa (13%). O projeto, que terá uma nova turma diplomada em agosto deste ano, continua em 2025.
De acordo com Ildo Tavares, responsável pela área de parcerias e negócios da Febraban Educação, pelo menos 113 mil alunos participaram de cursos livres ou sobre certificações profissionais ligadas ao mercado financeiro em 2023. “Somente no primeiro trimestre de 2024, já são 25 mil”, diz Tavares, que acrescenta que as qualificações desenhadas para grupos minorizados estão em curva crescente.
Em junho, a Febraban passou a apoiar um projeto de bolsas de estudo para ingresso de negros e indígenas no Poder Judiciário. A ideia do Programa de Ação Afirmativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), é garantir condições e oportunidades mais igualitárias no Exame Nacional da Magistratura.
A iniciativa visa oferecer vagas em cursos preparatórios, com bolsas de R$ 3 mil por até dois anos, para que os candidatos possam se dedicar aos estudos. A mobilização de financiadores é feita via edital e o plano prevê captar doações de aproximadamente de R$ 15 milhões.
A iniciativa do CNJ dialoga com as ações afirmativas das instituições financeiras, que já atuam em outras frentes para ampliar oportunidades de contratação e de evolução de carreira de pessoas negras e com deficiência, diz Amaury Oliva, diretor de sustentabilidade e cidadania financeira da Febraban.
A atuação da entidade no eixo de educação e diversidade ganhou força há cinco anos, com o programa Somamos, conduzido pela Febraban Educação e parceiros do mercado. A atividade impactou mais de 500 pessoas em 12 Estados com capacitações e mentorias. Uma das mais recentes é uma formação em mercado financeiro e cibersegurança para mulheres e pessoas negras. O curso é on-line e gratuito. Conta com 40 alunos e será finalizado em setembro.
“Quem não forma [pessoas], não performa”, garante Diogo Bezerra, fundador e diretor de marketing da Mais1Code, escola gratuita de ensino tecnológico para jovens e empreendedores periféricos, com clientes como o Instituto Nu, do Nubank, e a Iteris, companhia de software com contratos no setor financeiro.
Fundada em 2020, a Mais1Code recebeu mais de 2 mil alunos, a maioria (70%) mulheres e pessoas pretas e pardas (70%). “Aprender tecnologia e inglês pode ajudar a mudar a realidade de muitos”, diz Bezerra, homem negro, que nasceu na periferia de São Paulo e também criou a escola de inglês 4WAY , “para quem pode ou não pagar”.
Além da formação, Bezerra apoia a entrada dos novos profissionais no mercado. A Mais1Code é parceira estratégica do be.tech, programa de capacitação e inserção de talentos da Seastorm Ventures, holding de desenvolvimento de negócios digitais. “Em um projeto piloto que fizemos, 91% dos alunos foram contratados logo no início do treinamento”, diz.
De acordo com a Pesquisa de Diversidade, Equidade e Inclusão 2024, do Instituto Ethos e Época Negócios, 80% das organizações afirmam que manter equipes diversas é estratégico para estimular a inovação. A análise verificou boas práticas com 204 companhias de 11 segmentos. No setor financeiro, a organização mais bem avaliada foi o Banco Pan. Entre os principais indicadores da instituição financeira estão a participação de mulheres (36%) e pessoas negras (20%) na liderança.