Muito da rapidez com que produtos financeiros chegam aos clientes se deve à computação em nuvem. O ambiente dá flexibilidade na contratação de mais ou menos recursos de processamento conforme a necessidade, e eles são pagos conforme o uso. Os bancos resistem em abandonar seus sistemas legados em grandes datacenters, mas as novas aplicações e serviços já estão em nuvem. De acordo com pesquisa da Febraban, a migração para a nuvem continua sendo foco dos investimentos e deve crescer pelo menos 20% em 2023 sobre 2022. Globalmente 80% do setor financeiro já adotou estratégia de múltiplas nuvens ou “multicloud”, segundo a Deloitte.
O Indicador de Excelência em Tecnologia e Inovação (Inexti) 2022, estudo da consultoria IDC e da Oi Soluções, mostra que, em 2021, 49% das empresas utilizavam o modelo híbrido (tradicional e nuvem), indo para 62% nesta segunda edição, com predomínio do datacenter próprio. A pesquisa ouviu 200 executivos de empresas de médio e grande portes de vários setores em todo o país. Entre os desafios apresentados para a migração estão problemas com conectividade (39%), dificuldade para prever custos (38%) e falta de capacitação técnica (20%), diz Marcelo Leite, diretor da Oi Soluções.
Para chegar a uma nota geral do ambiente de automação, o estudo leva em conta a segurança da informação, serviços de tecnologia aplicado aos negócios, modernização da infraestrutura e adoção de nuvem. A nota do ano passado, na primeira edição do estudo, foi de 48 pontos. Neste ano chegou a 52,1 pontos (de um total de 100).
Novos produtos como o Pix e conceitos de “open banking” e “open finance” pressionaram o mercado financeiro no desenho de novos produtos e mobilizaram mais recursos de computação. O número de pessoas que têm conta em banco passou de 165 milhões em 2019 para 188 milhões após a pandemia. “Essa evolução obrigou os bancos a inovar, com 80% deles usando multinuvem, ou seja, diferentes plataformas de nuvem para atender novas demandas dos clientes e desenhar produtos mais interativos”, afirma Diuliana França, diretora de serviços de nuvem da Embratel.
O Banco do Brasil baseou sua estratégia na computação em nuvem para acelerar ofertas. “Reavaliamos as principais aplicações e qual seria o encaminhamento adequado entre desenvolvimento interno, externo ou com recursos de nuvem”, afirma Marisa Mattos, vice-presidente de negócios digitais do Banco do Brasil.
Com essas diretrizes, muitas das principais aplicações do banco (ou “core”) foram migradas para nuvem pública ou privada de forma agnóstica, isto é, com diversos provedores. “Novas aplicações como o Pix, o ‘open banking’ e a segurança já estão na nuvem”, diz Mattos.
Ampliar o atendimento é outro gargalo que pode diminuir com uso da nuvem. Em parceria com a Embratel, o Banco Inter contratou uma central de relacionamento com o cliente para dar conta do crescimento da base de correntistas, que passou de 1 milhão em 2019. “Contratar um sistema de contato em nuvem com o cliente, com flexibilidade para ampliar os recursos de processamento, foi fundamental nesse processo”, diz Guilherme Ximenes, diretor de TI do Inter.
Para Fabiana Falcone, diretora de desenvolvimento comercial da Embratel, a nuvem facilita a criação de serviços específicos conforme o perfil do cliente e habilita novos negócios. Ela reforça, porém, que para manter o ambiente de nuvem é necessário governança operacional, transformação cultural das equipes e governança de segurança.
Estudo da Capco, consultoria de gestão do grupo Wipro para o setor financeiro, que entrevistou executivos seniores de organizações bancárias globais, mostra que as instituições financeiras registraram um crescimento médio de receita de 4% ao usar a nuvem para criar produtos, serviços e modelos de negócio, e reduziram o custo médio em 3,2%. A pesquisa mostrou que 70% dos bancos aumentaram a prioridade do uso da nuvem para melhorar a experiência do cliente, e cerca de 50% aumentaram seu investimento geral em nuvem devido à pandemia. Entre os obstáculos para maximizar o retorno sobre o investimento está a duplicação de sistemas e a escassez de talentos. Para melhorar a gestão de custos, o estudo destaca a importância da parceria com fornecedores.