![Grazi Mendes: “Como olhamos para o mercado e não vemos essas pessoas?” — Foto: Divulgação](https://s2-valor.glbimg.com/hN6C5nO7Ax9pJTLpnpFiEqfafHI=/0x0:362x509/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2023/i/R/j8ymUCRlCvn913EhsZ4g/05rel-200-educaafro-f10-img01.jpg)
Ações de diversidade, equidade e inclusão (DE&I) ganham tração nas empresas de finanças e tecnologia, mas ainda há muito a conquistar. Estudos identificam uma maior relação entre o avanço das políticas de DE&I e a performance das organizações. Segundo pesquisa feita em 2022 pela consultoria Deloitte com 374 companhias no país, a maioria (94%) enxerga benefícios das ações no desempenho financeiro; acreditam que contribuem para inovação (94%) e geram valor aos negócios (93%). O aumento da retenção de profissionais (91%) também foi apontado.
Mesmo com as vantagens, continuamos, em 2023, falando o óbvio sobre o assunto e lutando pelo mínimo, alerta Grazi Mendes, diretora de D&EI na Thoughtworks, consultoria global de tecnologia. “Como, no Brasil, com 52% da população composta de mulheres e 56% de negros, olhamos para o mercado financeiro e não vemos essas pessoas?”, questiona. Na Thoughtworks, 42% dos funcionários são negros e duas executivas já ocuparam a cadeira da presidência. Em 2018, dois anos antes da conhecida iniciativa da varejista Magazine Luiza, organizou um recrutamento exclusivo para pretos.
Se 80% das vagas disponíveis no mercado são preenchidas por indicações, a maioria entre quem indica e entre quem é lembrado possivelmente será branca, diz ela, ao defender mais ações afirmativas para interromper esse ciclo.
Leia mas:
- Estratégias de varejo sobem de patamar
- Motor de IA pode melhorar detecção de fraudes e monitorar compliance
- Atendimento caminha para hiperpersonalização
- Testes com moedas digitais mobilizam BCs
- Tokens prometem descentralizar e democratizar investimentos
- Modelo de negócio pode gerar US$ 16 tri
- Agenda ESG reforça área técnica
“Diversidade não é caridade. É algo que, se não acontecer, vai pesar no bolso das empresas”, diz Suelen Marcolino, gerente de diversidade, inclusão e pertencimento para a América Latina, Europa, Oriente Médio e África do LinkedIn. Ela conta que, quando trabalhava no marketing de outra companhia, analisou uma campanha de organização que pleiteava uma parceira. A peça, com conotações pouco diversas, passou, antes dela, por vários executivos. Calhou que, naquele momento, uma mulher negra estava em um posto de decisão, diz. “O projeto foi vetado e a parceria não aconteceu, com prejuízo para a outra parte”, diz.
Pesquisa do LinkedIn com 400 consumidores e 400 profissionais de vendas no Brasil durante a pandemia indica que 88% das empresas preferem fazer negócios com pares que tenham a diversidade como pilar essencial, e 90% concordam que a probabilidade de compra aumenta quando o time de vendas reflete a comunidade onde atuam. Para Marcolino, já passou da hora das corporações falarem apenas de atração de talentos diversos. “Isso ficou lá em 2017”, diz. “Agora é preciso discutir retenção e desenvolvimento.” Não adianta contratar grupos minorizados, explica, se o admitido encontrar um ambiente hostil e for embora.
No Banco do Brasil, Tânia Schmidt, gerente executiva de gestão da tecnologia, é uma das fundadoras do Movimento Mulheres na TI do BB, lançado no ano passado “com o propósito de realizar ações no banco e fora dele para incentivar mulheres a trabalharem com tecnologia”. “As mulheres são 42% do quadro [do banco], com 24% de pessoas pretas e pardas, e 2% de PCDs [pessoas com deficiência]”, diz. “Na área de TI, somos 20%.”
Para Schmidt, a tendência é que a diversidade no BB cresça, mesmo com admissão restrita a concursos. Após 214 anos, o banco tem uma mulher na presidência: Tarciana Medeiros, negra e lésbica, com 23 anos de carreira no BB. O conselho diretor também conta com dois integrantes do grupo LGBT+.