O profissional do mercado financeiro da era digital precisa entender muito mais de tecnologia do que antes e “circular” por diferentes áreas de negócios das instituições, segundo especialistas em tecnologia da informação, treinamento e gestão. Habilidades como criatividade e uma postura mais empática com as necessidades dos clientes também aparecem como prioritárias.
“A época de pedir projetos somente para o departamento de TI acabou”, diz Maurício Garcia, conselheiro acadêmico do Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli), de ensino na área de computação e software. Todas as áreas de uma empresa devem conhecer os avanços do setor, e quem não estudar as inovações que estão chegando vai ficar de fora do mercado, afirma.
De acordo com uma pesquisa recente feita nos Estados Unidos pelo site de empregos ResumeBuilder, saber usar ferramentas de inteligência artificial como o ChatGPT já é um diferencial nos currículos. Quase a totalidade (91%) das firmas com posições abertas no portal estão em busca de perfis com essa competência.
Na avaliação de Claúdia Silva, gestora pós-venda de contas corporativas e líder da comunidade de afinidade étnico-racial da Cisco, gigante de tecnologia para internet com 78 mil funcionários no mundo, além de conhecimentos em inovação, a mão de obra precisa ganhar pensamento crítico, com uma fácil “leitura” sobre a sociedade atual. “O profissional de finanças deve saber para qual usuário pretende inovar, mostrar empatia e entender a ‘dor’ do cliente”, diz. E esse público inclui desde famílias que se sustentam com uma determinada quantia por mês a donos de negócios abertos todos os dias, destaca.
Um levantamento feito em 2022 por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) indica que 75 milhões de brasileiros vivem com meio salário mínimo ou menos.
Para Darlan Costa, superintendente de arquitetura de TI da Caixa Econômica Federal, os candidatos à indústria financeira precisam desenvolver uma postura mais criativa e analítica. “Sem criatividade ou espírito empreendedor, as ideias da área de TI ficam sem vida”, afirma o executivo, há 23 anos no banco estatal. “As tecnologias estão disponíveis para todos, mas saber trabalhar com uma visão baseada em dados pode fazer a diferença.”
Costa diz que a Caixa tem investido em programas internos para descobrir talentos que queiram seguir carreira em áreas estratégicas para a companhia, como a computação em nuvem e UX (experiência do usuário, na sigla em inglês). Em março, o braço de ensino corporativo da instituição, a Universidade Caixa, foi premiada no Cubic Awards 2023, competição global que reconhece equipes de treinamento pela influência positiva nas organizações.
Para o superintendente, o executivo de finanças deve ser mais “cross areas”, ou seja, multissetorial. “É necessário circular por setores da organização.” Assim, o funcionário de TI “entende” o departamento de negócios e o colega da tecnologia sabe o que o time de negócios está fazendo”, diz.
Claúdia Silva, da Cisco, afirma que as corporações devem se movimentar para que os talentos que desenvolvem não sigam para a concorrência. “Precisam oferecer um ambiente de trabalho em que o funcionário se sinta ouvido [pela direção] e saiba que a companhia tem um ‘rumo’ para ele”, diz a executiva, há 29 anos no mundo corporativo, sendo 11 deles na multinacional de TI. “O salário não é o único motivador.”
A gestora afirma que benefícios como expedientes flexíveis e cultura organizacional baseada em colaboração entre times são ferramentas cruciais para a retenção do quadro. “A Cisco já mantinha uma política de trabalho a distância antes da pandemia”, lembra Silva, que hoje cumpre expediente de forma remota. “Também é possível participar de fóruns on-line com funcionários de todo o mundo sobre a área de trabalho ou setores em que exista algum interesse em atuar no futuro.”