Os bancos começam a colocar na rua os primeiros produtos no novo ambiente do open finance e estabelecem parcerias com aplicativos para uso de tecnologia para capturar clientes de forma mais assertiva. As experiências mostram que quem dá a largada em um mercado que tende a se tornar cada vez mais competitivo corre o risco de errar, mas também de colher os frutos.
“Casos de uso” são tidos como experiências necessárias para testar a reação do consumidor em ambientes conhecidos, como no WhatsApp, mas que eram trafegados com outras finalidades até então. Nessa linha, produtos e serviços que vão além do consolidador financeiro buscam monetizar essas experiências.
O Banco do Brasil (BB), que possui 3,1 milhões de consentimentos para a troca de dados financeiros de cerca de 2 milhões de clientes únicos, acaba de lançar uma solução com o uso de dados do open finance, que simula a contratação da portabilidade de crédito pelo app do banco.
A solução, que está em piloto com a participação de clientes e funcionários, deve ser ampliada para toda a base nas próximas semanas. “A portabilidade de crédito é uma opção interessante para quem busca melhores condições de pagamento ou taxas. No BB essa opção ficou mais prática e rápida. O open finance decola quando fica perceptível e é fácil para o cliente enxergar isso”, observa Raquel Ferrari, ou Keka, como prefere ser chamada a gerente de open finance regulatório do BB.
A executiva explica que o banco está desde o início no projeto do open finance discutindo junto com o Banco Central (BC) todas as suas funcionalidades e o considera desafiador do ponto de vista regulatório. “Por enquanto ainda não estamos na competição ‘full’, mas sim cooperando entre associações e fazendo experiências fechadas com clientes e funcionários”, diz Keka.
O banco já vinha testando outras funcionalidades, como o Minhas Finanças, caso de uso que permite a organização financeira e gera sugestões de economia, a Hiperpersonalização de taxas, para pessoas física e jurídica, o Incremento de limites, para cartão de crédito e CDC, o Pagamento de parcela vencida de CDC, com saldo de outros bancos e via ITP (iniciador de pagamento), e a Aplicação em Fundos BB, com saldo de outros bancos via ITP.
Agora entra nesta lista a Portabilidade de crédito, com dados do open finance via celular. “A gente priorizou ser o banco com ‘caso de uso’ na rua desde o início, sem medo de errar. Saímos para transmitir junto com o receptor e já ofertando entrega de valor ao cliente para prover benefício visível, porque o open finance é mais complexo do que o Pix”, afirma Keka.
Para a Open Finance Brasil, que auxilia o Banco Central na parte técnica da implementação do open finance, criar estrutura de transição é o grande desafio para que o regulador veja isso de forma distribuída. “Observar os ecossistemas de formação é o grande desafio de 2023, para permitir que se crie soluções a partir daí”, diz Élcio Calefi, CIO do Open Finance Brasil.
No Itaú, os “casos de uso” têm sido feitos em parceria com a Meta. O banco também disponibilizou no final do mês de junho o serviço de simulação e contratação de empréstimo pessoal no WhatsApp. A iniciativa faz parte do iVarejo 2030, um projeto de transformação do varejo do banco, que aposta na digitalização somada à manutenção da conveniência física como modelo de negócio.
Com a novidade, o banco já soma mais de 50 funcionalidades na plataforma e diz que o uso da tecnologia da Meta tem sido fundamental para avançar mais rapidamente. “A Meta oferece várias APIs para trafegar dados em tempo real para uso da Inteligência Artificial [IA] na plataforma”, diz Nina Dragone, head de vendas para serviços financeiros na Meta. Para o Itaú, a IA tem sido importante para aquisição de clientes novos.
“Na aquisição em mar aberto é importante para trafegar os nossos dados proprietários e ensinar a Meta quem são os nossos clientes de maior valor. No caso dos cartões, é um mercado cheio de desafios. Estamos usando o Capi”, conta Juliana Yamana, superintendente de growth e analytics do Itaú Unibanco.
O Capi é uma API (aplicação para intermediar a comunicação entre dois sistemas diferentes) de conversão da Meta. A tecnologia, que usa IA, ajuda anunciantes a usarem dados e sinais para aumentarem as conversões de suas campanhas e diminuírem o custo de aquisição de clientes. “A partir daí, o Itaú desenvolveu um modelo de propensão que alimentou a IA da Meta por meio da Capi em campanhas com mais assertividade na aquisição de clientes. A taxa de aprovação de clientes em cartões foi de 80%”, conta Yamana.
A executiva diz que essa experiência de negócios está trazendo conhecimento para que o banco possa testar novos produtos. “Tem muito negócio novo pela frente neste modelo de mindset e de test learning”, diz.