![Thaís Fagury: “O desafio é o descarte e a captação adequados” — Foto: Divulgação](https://s2-valor.glbimg.com/RadPGAjuYnOQ_inhAXKstGI_lhE=/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2023/e/w/u0JSx8RNu9x322ApJTjA/foto26rel-201-recicla-f6.jpg)
Enquanto o alumínio atingiu um índice de reciclagem equivalente a quase 100% das latinhas produzidas nos últimos anos, embalagens de aço têm taxa de 47%, segundo a associação do setor (Abeaço). Isso representa cerca de 200 mil toneladas do produto retornando para as aciarias das siderúrgicas, onde a sucata é derretida e transformada em chapas de aço, que viram novas embalagens, eletrodomésticos, partes de automóveis e até navios.
De acordo com dados divulgados pela Associação Brasileira de Embalagens (Abre), 8% das embalagens são feitas de metal - 5% de alumínio e 3% de aço. O restante é composto por plásticos (53,7%), papéis (28,8%), madeira (6,4%) e vidro (3,1%). Estima-se que 30% dos resíduos domésticos produzidos no Brasil sejam compostos por embalagens.
Para Thaís Fagury, presidente da Prolata, associação que promove a reciclagem do aço, a maior dificuldade para a reciclagem desse metal é o desenvolvimento da coleta seletiva pelos municípios e a conscientização para o descarte adequado. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), 24,9% das cidades brasileiras não tinham coleta seletiva em 2021. E quando existe, muitas vezes não abrange todo p território municipal.
“O desafio da reciclagem do aço é o descarte e a captação adequados. Existe conscientização por parte do consumidor em relação à lata de alumínio, mas não sobre o aço. Como em muitas cidades não há coleta, ou a coleta é insuficiente, muito material descartado é aterrado”, diz Fagury.
Enquanto o alumínio predomina nas bebidas, o aço está em latas de alimentos, achocolatados, tintas, massas corridas, vernizes, entre outros. De acordo com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos vendidos em embalagens metálicas e plásticas têm obrigação de implementar um sistema de logística reversa. As empresas contratam entidades gestoras para executarem o gerenciamento dos resíduos. A Prolata é um exemplo desse tipo de associação. Grande parte do mercado, no entanto, atua na informalidade.
“A reciclagem é bastante fragmentada e não há exigência de reporte de dados a nenhuma instituição federal. Os números não são totalmente auditados”, diz Fernando Bernardes, diretor de operações da Central de Custódia da Logística Reversa, órgão independente que verifica as operações das entidades gestoras.
Segundo o Instituto Nacional de Reciclagem (Inesfa), como boa parte do aço acaba sendo recolhida por catadores informais, o índice de retorno desse metal, na realidade, seria de 98%. Nesse número estão incluídos, além das embalagens, outros tipos de sucata de obsolescência, como eletrodomésticos, bicicletas, carros e até navios e trens.
Tradicionalmente, cerca de 30% da produção de aço no Brasil é feita a partir da sucata. O restante, do minério de ferro”, afirma o presidente do Inesfa, Clineu Nunes Alvarenga. Em 2022, de acordo com o Instituto Aço Brasil, a produção do metal no país foi de 33,977 milhões de toneladas - o que significaria cerca de 10 milhões de toneladas provenientes da reciclagem.
O aço pode ser reaproveitado infinitas vezes. Os maiores compradores no país são Gerdau e ArcelorMittal. Além da sucata de obsolescência - coletada por catadores, cooperativas e, em sua maior parte, grandes atacadistas - existe a sucata interna, gerada pelas próprias siderúrgicas e sobras da atividade industrial.
O valor médio do alumínio é de R$ 6 o kg, e, do aço, R$ 1. Outros produtos recicláveis, como papel e vidro, são mais baratos, enquanto o plástico varia muito de preço. Isso aumenta a disputa pelos metais, que circulam em uma cadeia de informalidade. O cobre, por sua vez, pode chegar a R$ 30, o que explica o alto índice de roubos de cabos. Muitas cooperativas não trabalham com o metal para evitar produtos com origem criminosa. Há, porém, um mercado ilegal, que inclui pequenas fundições.
Segundo a Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), existem no Brasil cerca de 3.000 cooperativas, que têm entre 90 mil e 100 mil trabalhadores. O número de informais é de aproximadamente 800 mil. Na Coopercaps, cooperativa da cidade de São Paulo, o alumínio e o aço representam entre 5% e 10% do volume coletado. O maior volume é de papelão (cerca de 60%), seguido por plásticos (20%) e vidro (até 15%). Anualmente, são mais de 25 mil toneladas de recicláveis devolvidos à indústria.
“A informalidade interfere no lado social da reciclagem, que é proteger os catadores, e gera uma sombra em cima dos números. Um ferro-velho não legalizado vai sumir com informações, gerando perda de rastreabilidade. Em alguns casos, pode até haver exploração da mão de obra”, diz o diretor comercial da Coopercaps, Marcos Nascimento.