A bolsa pode ser a mesma: um modelo atual da icônica Jackie 1961, da Gucci. Mas a experiência de compra, nem sempre. Ser recebido por vendedores que entendem os seus hábitos, falam a sua língua e - melhor ainda - oferecem aquele parcelamento amigo no cartão é coisa do Brasil. Essa realidade de mercado ganhou relevância durante a pandemia de covid-19 e continua sustentando as vendas do varejo de luxo no país.
“Desde então, podemos dizer que as grifes de luxo estrangeiras, instaladas no Brasil, crescem dois dígitos, ao ano”, diz Martin Gutierrez, senior partner da MCF Consultoria, citando dados da Associação de Marcas e Empresas de Luxo (Abrael). Isso porque, sem poder viajar, o cliente brasileiro foi mais às compras internamente.
“Estamos muito felizes com o resultado do primeiro ano da marca no Brasil”, diz Fernanda Rigon, diretora-geral da marca alemã Philipp Plein no Brasil. A marca, que veio em operação direta, possui uma butique no Village Mall (Rio de Janeiro) e uma loja de ponta de estoque no shopping Catarina Fashion Outlet, em São Roque (SP). Até o fim do ano, deverá abrir uma butique em um shopping da capital paulista.
Outro fator que vem estimulando as vendas do setor de luxo, diz Gutierrez, da MCF, tem a ver com os preços praticados por aqui. “A diferença entre os valores cobrados pelas grifes no Brasil e nos Estados Unidos não ultrapassa os 20%”, afirma. Adicione-se aí a possibilidade de parcelamento, e o pacote de “vantagens” fica completo. “Isso sem falar na facilidade de ter um vendedor com o seu histórico de compras e que pode enviar uma sacola de produtos diretamente na sua casa”. De acordo com ele, essa modalidade de venda representa hoje entre 30% e 40% do faturamento das butiques de grife.
Atento às novas demandas do consumo de luxo, o Grupo Flamboyant, dono do Flamboyant Shopping, em Goiânia, prepara uma nova expansão para agregar mais grifes ao portfólio, que já conta com Bulgari, Dolce & Gabbana, Emporio Armani, Gucci e Louis Vuitton. “Serão cerca de 50 novas lojas, de marcas nacionais e internacionais”, diz Emmanuele Louza, sócia-diretora executiva do grupo.
Para a executiva, as grifes de luxo estão cada vez mais propensas a expandir para além do eixo Rio-São Paulo. E a região Centro-Oeste, que concentra o dinheiro do agronegócio, parece a direção correta. O poder de consumo é tamanho que, em alguns casos, modifica a estratégia das empresas estrangeiras. “A Louis Vuitton nunca havia feito uma loja temporária”, diz Emmanuele. “Mas nós os convencemos.” O resultado animou a grife francesa a se instalar, posteriormente, em definitivo no shopping.
Até o fim deste ano, o shopping deverá contar com uma loja da joalheria Tiffany & Co e outra da Channel Beauty. Segundo Emmanuele, as grifes de luxo instaladas aqui aproveitaram muito bem a demanda reprimida de consumo que resultou do cancelamento de viagens internacionais durante a pandemia. “Ficou muito clara a diferença de tratamento pelas equipes de vendas locais, que investem constantemente em uma relação mais próxima com o cliente”, diz a executiva. “Lá fora, esse consumidor brasileiro é só mais um.”
Fernanda Rigon, da Philipp Plein, que o diga. Os primeiros resultados no país incentivaram a grife alemã a ter mais lojas e ampliar a oferta com outras linhas, como a Plein Sport. “Queremos triplicar o faturamento, este ano”, diz. “Viemos para ficar e acreditamos muito no mercado brasileiro, apesar das suas dificuldades.”