Desde que lançou em outubro a Leroy Merlin Pay, plataforma de serviços financeiros, em parceria com a Pefisa - fintech da Pernambucanas -, a Leroy Melin já contou com a adesão de 20 mil pessoas. “Era preciso revisar nossa oferta para estar aderente às novas demandas”, afirma Ignácio Sanchez, CEO da Leroy Merlin. “Criamos a plataforma com o propósito de acompanhar o cliente em todos os momentos, da decoração à reforma e construção. Foi um ano de trabalho”. Segundo ele, todas as informações estão centralizadas em um super app, no qual o cliente pode gerir a conta, consultar faturas e limites, antecipar parcelas, realizar Pix ou transferências, pagar contas, além de ter acesso ao programa de fidelidade.
Com 53 lojas, a Leroy Merlin não foi a primeira varejista a ter a Pefisa como parceira estratégica para fornecimento de tecnologia e desenvolvimento de serviços financeiras. Palmeiras, Carmen Steffens e Autopass estão entre os clientes da fintech, que opera no modelo banking as a service (BaaS). “Nosso conhecimento de varejo e a capacidade de concessão de crédito, aliados às soluções tecnológicas, têm nos permitido potencializar a performance de negócios de nossos parceiros”, diz Marcelo Lobuto, CEO da Pernambucanas. “Sabemos as dores que precisam ser sanadas, também somos varejistas”.
Há décadas a parceria entre instituições financeiras e varejistas tem gerado resultados para ambos os lados. O que mudou nos últimos tempos foi o avanço do bank as a service que, de acordo com o Future Market Insights, deve faturar cerca de US$ 12,2 bilhões até 2031.
“Diferentemente de um passado recente, agora o dinheiro está na conta do varejo e o cliente começa a transferir a sua vida para a instituição financeira do varejista”, afirma Roberto Wajnstok, sócio-diretor da Gouvêa Consulting. Segundo ele, o momento é desafiador. Com o aumento da inadimplência, o varejo passa a flertar com risco na venda e ao trazer esse tipo de serviço para dentro de casa, diminui o problema e amplia a receita. “O varejista tem a base de visitantes e compradores, enquanto a instituição financeira tem produtos que podem aumentar a receita gerada ou até ser responsável pela conversão de uma visita em pedido”, diz. “Se o cliente deixar o dinheiro na conta, o varejista ganha no floating, rendimento em cima do dinheiro parado. Se o cliente usa o cartão, ganha no interchange, se adquire uma cesta de serviço, ganha na margem”.
Segundo estudo feito pela Deloitte, o varejo físico, e-commerce e empresas de distribuição e consumo de bebidas, hotéis e agências de viagem podem, juntos, aumentar suas receitas em R$ 24 bilhões em 2026 com a ampliação de serviços financeiros. Seriam cerca de R$ 13,9 bilhões provenientes da oferta de crédito e R$ 10,1 bilhões de outros serviços, como conta de pagamento, adquirência, investimento, Pix e boleto.
Setores podem aumentar suas receitas em R$ 24 bi em 2026 com a ampliação de serviços financeiros
O interesse é grande e das mais diversas partes. A F360, plataforma de gestão financeira para o varejista, vem desenvolvendo estratégias para se tornar, a médio prazo, o internet banking do cliente. “Já avançamos com o open finance, afinal, as operações têm que acontecer em um só lugar”, diz Henrique Carbonell, CEO da F360.
O caminho, porém, não é simples. Até mesmo gigantes do varejo, como o Mercado Livre, deram um passo de cada vez. Em 2004, o grupo lançou o Mercado Pago como meio de pagamento. Em 2017, o Mercado Crédito e, em 2020, se tornou participante no lançamento do Pix. “Foi apenas em 2022 que nos transformamos em banco digital”, diz Daniel Davanço, country head de pagamentos para empresas do Mercado Pago. “Sempre tivemos visão ecossistêmica, com o objetivo de oferecer soluções que facilitem a vida dos usuários. Conhecemos bem o nosso público e com isso desenvolvemos produtos e serviços sob medida”. Os números do terceiro trimestre surpreendem: são 48,8 milhões de usuários ativos, 28,5 milhões de pagamentos únicos de conta digital e 315 transações por segundo. O volume total de pagamentos bateu US$ 47,3 bilhões.
Para Jorge Inglesias, CEO da Topaz, uma das maiores empresas de soluções financeiras da América Latina, a tendência dos próximos cinco anos são os bancos sem “cara” e os apps de varejo com mais serviços financeiros. “A oportunidade vale para varejistas com base de clientes estabelecida. Não se trata de aumentar a base com serviços financeiros. Mas, sim, de gerar mais negócios para que o cliente final tenha percepção de maior valor agregado”. E vai além: “Não é só aumento de renda. É fidelização, posicionamento de marca”.