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Por Eliane Sobral — Para o Valor, de São Paulo


Rosana Passos de Pádua, Coface Brasil: guerra no Oriente Médio ainda não elevou os preços no mercado de seguros, mas a conta deve chegar para as resseguradoras — Foto: Divulgação
Rosana Passos de Pádua, Coface Brasil: guerra no Oriente Médio ainda não elevou os preços no mercado de seguros, mas a conta deve chegar para as resseguradoras — Foto: Divulgação

Pelas normas internacionais, em casos de guerras, as seguradoras têm até sete dias para notificar os clientes e cancelar as apólices contratadas. O governo israelense agiu rápido e, apenas seis dias depois de ser atacado pelo grupo palestino Hamas, aprovou um pacote de US$ 6 bilhões para cobrir os riscos de suas empresas aéreas e garantir que elas continuassem voando. As seguradoras com operações globais também não perderam tempo e nesta semana, de acordo com a imprensa internacional, começaram a emitir os avisos de cancelamento de apólices para as companhias israelenses. No setor de seguros, por ora, esse foi o efeito mais visível nos negócios do novo capítulo do conflito entre israelenses e palestinos.

O que não quer dizer, porém, que as seguradoras e seus clientes corporativos não estejam preocupados com a duração dos embates e com eventuais desdobramentos. “Ainda não sabemos qual será a dimensão deste conflito em Israel, nem o alcance da guerra no Oriente Médio”, afirma Rosana Passos de Pádua, CEO da Coface Brasil, que trabalha com seguros de crédito. No caso da Coface, diz a executiva, a procura por esta modalidade de cobertura aumentou de forma significativa nos últimos tempos porque a conjunção dos astros econômicos - pressões inflacionárias e juros em alta ao redor do mundo - tem tornado o ambiente de negócios mais volátil. E não só.

O setor já está sob pressão pelas mudanças climáticas que produzem eventos extremos, como o furacão Ian, que deixou um rastro de destruição na Flórida, em 2022. De acordo com superintendente de gerenciamento de riscos e sinistros da BMG Seguros, Jonathas Abdou, dos estragos produzidos pelo Ian, avaliados em US$ 96 bilhões, só US$ 57 bilhões estavam segurados.

“No caso da guerra entre Rússia e Ucrânia, quando se somam todas as perdas - danos materiais, transporte marítimo e aéreo - estamos falando em algo entre US$ 10 bilhões e US$ 25 bilhões”, diz Abdou, lembrando que esses valores são referentes às perdas contabilizadas ao redor do mundo e não apenas nos países envolvidos. “Os efeitos financeiros causados por conflitos são menores do que em desastres naturais. Porém, no caso de desastres naturais, o mercado tem uma série de ferramentas para se preparar. Em casos de guerras e conflitos armados, não. Eles entram na cota do imponderável.”

Embora os executivos digam que é cedo para estimar os estragos materiais que derivarão da guerra em Israel, vale lembrar que o conflito entre Rússia e Ucrânia já gerou perdas da ordem de US$ 10 bilhões apenas para as empresas que trabalham com leasing de avião. “As estimativas apontam para algo entre 400 e 500 aeronaves em leasing seguradas na Rússia. Neste caso, as perdas não foram relacionadas a nenhum acidente ou bombardeio e, sim, o fato delas estarem paradas, ou sem peças de reposição por causa do embargo econômico”, afirma Adbou.

William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenues, gestora de valores americana, afirma que, apesar das pressões sofridas por seguradoras e resseguradoras, a performance financeira dessas empresas continua saudável e os resultados na bolsa americana deste segmento têm se mostrado mais positivos do que a de alguns bancos

“A guerra gera mais pânico do que impacto econômico. É claro que ele existe, mas tende a ser localizado, como no caso do preço do petróleo, com o conflito na Rússia”, afirma Alves. “Há também o efeito contrário. Quando falamos em conflitos, o sentido de insegurança aumenta e a tendência é de que as pessoas procurem mais proteção, o que faz aumentar a demanda por determinados tipos de seguros”, avalia Amâncio Paladino, diretor de produtos de previdência e seguros da XP.

A CEO da Coface lembra que, em geral, os preços ainda não subiram no mercado de seguros. “Mas a conta vai chegar para as resseguradoras”, comenta. No Brasil, diz ela, os efeitos dos problemas causados pelo rombo nas contas da Americanas foram maiores do que os causados pela guerra na Ucrânia. “Dos mais de 4.600 fornecedores da Americanas, apenas 40 tinham seguro de crédito. Certamente, esse impacto foi muito maior no caixa das empresas, do que os trazidos pelo conflito na Rússia”, diz.

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