Após um primeiro semestre desacelerado, o mercado de previdência privada aberta ganhou tração no terceiro trimestre e aposta num final de ano de aceleração nas vendas. Os últimos dois meses costumam ser a “safra boa” dessa indústria em função de 13º salário, bônus e planejamento dos investidores para abatimento das contribuições no Imposto de renda. A captação líquida do setor avançou 12,7% (ou 7,7%, se descontada a inflação) de janeiro a setembro, para R$ 28, 63 bilhões. A carteira do segmento supera R$ R$ 1,3 trilhão.
“Nosso negócio depende de emprego e renda, e estamos vendo os primeiros sinais de melhora desses indicadores”, observa Edson Franco, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi). O ano está sendo considerado de recuperação pós-pandemia e consolida a tendência de crescimento acima de inflação e PIB dos últimos dez anos. De 2013 a 2022, mesmo com duas recessões no país, a captação bruta da previdência avançou, em média, 8,6% ao ano - ou 2,2% de crescimento real, descontada a inflação, contra alta líquida de 0,6% do PIB, diz Franco.
Além de usar sua plataforma de investimentos como vitrine, a XP tem crescido com a captura de clientes na concorrência. Por meio da portabilidade de planos, a seguradora tem despontado no topo do ranking da Superintendência de Seguros Privados (Susep) como a casa com mais aportes líquidos. No ano passado, o saldo positivo foi de R$ 10,58 bilhões e em 2023, até agosto, de R$ 4,79 bilhões. “Os investidores buscam maior entrega de serviços, rentabilidade e alocação mais estruturada no longo prazo”, diz Roberto Teixeira, sócio da XP Inc. e líder da XP Seguros. A empresa usa ainda modelo preditivo e inteligência artificial (IA) para mapear clientes que transitam em sua plataforma.
Com mais de 400 fundos na prateleira de 140 gestores, a Icatu também vê aumento em transações via canais digitais. A oferta se dá em diversos parceiros, como bancos, fintechs e canais de varejo. “Temos a maior reserva de PGBL entre as seguradoras independentes, de R$ 19 bilhões “, diz Luciano Soares, presidente do Grupo Icatu Seguros, que tem R$ 50,8 bilhões em reserva. A base de clientes cresceu 10% no ano até agosto, para R$ 4,15 bilhões em contribuições - R$ 2,42 bilhões entraram via portabilidade, mas R$ 6,62 bilhões saíram, segundo dados da Susep. “Vejo a portabilidade como algo positivo, que raramente ocorre entre fundos equivalentes. Costuma ter relação com apetite e percepção de risco. Com o juro real alto, houve estresse nos fundos de renda variável e multimercados”, diz Soares.
O Itaú diz que o mais importante é o aconselhamento adequado e que não indica previdência para quem vai investir por menos de cinco anos, por conta do imposto, que começa em 35% e cai até 10% após 10 anos. Sobre portabilidade - com saldo até agosto positivo em R$ 3,44 bilhões -, o banco começa a registrar movimento oposto ao da migração para papéis pós-fixados ocorrida no primeiro semestre. “Com a redução da taxa de juros e a portabilidade, vemos os recursos saindo do pós-fixado e indo para multimercado ou renda fixa ativa, com papéis de crédito ou títulos do tesouro”, diz Claudio Sanches, diretor de investimentos e previdência do Itaú Unibanco, que de janeiro a agosto teve captação líquida positiva de R$ 6,7 bilhões e R$ 246 bilhões em reserva
“O que mostra recuperação. Temos mais de 120 produtos na prateleira, mais da metade são de gestores parceiros e fazemos assessoria integrada de previdência e investimentos”, afirma Sanches.
Com captação líquida de R$ 1,1 bilhão no primeiro semestre deste ano, o Bradesco registrou melhora de 182,6%, frente a igual período e 2022, totalizando R$ 293, 9 bilhões em reserva. “Nossa penetração nas classes C e D tem crescido nos últimos anos, apesar da participação do varejo ser menor do que no private, saiu de muito baixa para algo mais moderado”, conta Estevão Scripilliti, diretor da Bradesco Vida e Previdência, que reduziu o limite inicial para acesso aos planos para R$ 50, em 95% da grade. “Essa foi a primeira ação objetiva. A segunda é a comunicação massiva do tema previdência aos clientes de varejo. E, a terceira, é a divulgação institucional nos canais digitais, nas mídias individuais e nos canais abertos”, afirma Scripilliti.