Seguros, Previdência e Capitalização
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Bastos, da Susep: atuação para um mercado funcional — Foto: Divulgação
Bastos, da Susep: atuação para um mercado funcional — Foto: Divulgação

Depois de um 2023 de aumento dos preços internacionais do resseguro e de lucros recordes, as empresas do setor trabalham com cenário de estabilidade para 2024 e 2025, o que significa a continuidade do chamado “hard market”, mercado de custos elevados e maior rigor na subscrição de riscos, que prevaleceu durante todo o ano passado.

Na base da projeção feita por executivos de resseguradoras, há um conjunto de fatores atuando simultaneamente. Entram nessa lista as incertezas geradas pela guerra no Oriente Médio e seus desdobramentos, a pressão inflacionária nos mercados internacionais, sobretudo nos Estados Unidos – que vêm mantendo os juros elevados –, e as dúvidas sobre o futuro da política americana. Tantas interrogações, além do aumento da sinistralidade, em especial nas coberturas de catástrofes naturais, não deixam margem para recuos nos prêmios em 2024.

“Essa conjuntura é uma blindagem para qualquer redução de preço”, diz Luiz Araripe, country manager da Gallagher Brasil e CEO da Gallagher Re. A boa notícia é que tampouco há no radar expectativa de alta ao longo dos próximos meses. “Não trabalhamos com alta de preços em 2024”, diz Daniel Castillo, vice-presidente de resseguros do IRB(Re), que detinha monopólio do setor no Brasil até 2008.

O lucro líquido das resseguradoras globais que compõem o Gallagher Reinsurance Index atingiu US$ 97 bilhões em 2023, resultado excepcional quando comparado aos US$ 23 bilhões de 2022, devido à maior subscrição e rentabilidade dos investimentos. No Brasil, o repasse de prêmios das seguradoras para as resseguradoras alcançou R$ 25,2 bilhões no ano passado, 8,9% superior ao registrado em 2022.

O país é visto como um mercado promissor, que oferece oportunidades de crescimento de resseguros, sobretudo diante dos novos investimentos previstos e de sinistralidade inferior à internacional. A perspectiva de expansão econômica e de massa salarial, aliada à de queda de inflação e da estabilidade dos preços das commodities, sustenta o otimismo em relação ao crescimento doméstico. Janeiro de 2024 registrou recorde nas contratações de resseguros, R$ 2,6 bilhões, aumento de 3,6% em relação ao mesmo mês do ano passado, segundo o IRB(Re). Apesar dos ventos favoráveis para as companhias, a conjuntura global não permite mudanças acentuadas de rumo. “Ainda não é um ano de queda de preços. Vamos continuar com um cenário de hard market”, diz Pedro Farme, CEO da Guy Carpenter no Brasil. As projeções apontam para aumento da oferta pelo setor, como indicam as renovações dos resseguros internacionais fechadas em 1º de janeiro de 2024, data em que, tradicionalmente, são renovados mais de 60% dos contratos globais. “O que acontece em janeiro é tendência para o ano. Nossas estimativas são de aumento de 10% no capital dos resseguradores em 2024.” Ou seja, mais dinheiro. Hoje, os US$ 729 bilhões de capital de resseguro disponível no mercado global são recorde. “Em janeiro, houve contenção na subida de preços nas renovações e condições comerciais mais equilibradas”, afirma Farme. É o tom para o ano.

Após a queda relativa na capacidade em 2023, quando o crescimento da procura por parte de seguradoras ultrapassou o da oferta global de resseguros, por conta de choques inflacionários e de juros e da elevada sinistralidade, o que se vê agora são resseguradoras com balanços atrativos e mais capital disponível. “As renovações em 2024 foram muito mais racionais, diferente do que vimos antes em janeiro de 2023. Na minha experiência de mais de 20 anos, nunca tinha visto isso no mercado”, diz Araripe, da Gallagher Re. Neste ano, houve ajustes pontuais em ramos com sinistralidade alta.

A avaliação é a mesma entre os demais executivos do setor. “O resseguro sofreu em 2022 e 2023 com o aumento da inflação. Em 2024, já negociamos os acordos e conseguimos colocar nossos riscos nos mercados local e internacional. Vemos projeções boas também para 2025, 2026 e 2027”, diz Antoine Gerard, vice-presidente de finanças e estratégia da AXA, grupo presente no Brasil há cerca de dez anos. Anelisa Fortes, diretora financeira da AXA, observa que, em 2024, há mais alinhamento de capacidade e menos pressão sobre preços. “O mercado está exigindo que as resseguradoras tenham retenção maior do risco”, diz.

Castillo, do IRB(Re): “Não trabalhamos com alta de preços em 2024” — Foto: Bruno Lorenzo/Divulgação
Castillo, do IRB(Re): “Não trabalhamos com alta de preços em 2024” — Foto: Bruno Lorenzo/Divulgação

A inflação permanece como um elemento desafiador. “Até o momento, assegurar preços adequados tem sido a nossa estratégia, e temos conseguido. Além disso, levamos em consideração uma análise criteriosa desses riscos inflacionários no tempo certo, para uma gestão cuidadosa das reservas”, diz Karsten Steinmetz, CEO da Munich Re do Brasil. Mesmo com perspectiva de queda de inflação em relação a 2023, conforme o último relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado em abril, as taxas permanecem altas. Para 2024, o FMI elevou a projeção global para 5,9%, ante os 5,8% previstos em janeiro.

O Brasil, apesar de viver contextos distintos, é diretamente afetado pela situação externa, sob os aspectos financeiros, políticos e econômicos. “O mercado de resseguros é muito internacional, por se tratar de pulverização de riscos enormes. É normal que [empresas] busquem capacidade financeira para reter riscos em outros países. As guerras lá fora influenciam na capacidade de o Brasil acessar resseguro internacional. Tudo fica mais caro e mais escasso. Por isso, é importante entender a conformação do mercado nacional para que a gente possa se preparar para reagir a esses movimentos com ações anticíclicas”, diz Jessica Bastos, diretora de organização de mercado e regulação de conduta da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Por aqui, há motivos para otimismo. O país tem pela frente um ciclo de crescentes investimentos públicos em infraestrutura, o que aumentará a demanda por seguros e resseguros, tendo em vista os riscos vultosos relacionados aos projetos. Em linha com a nova conjuntura, a Susep divulgará até o fim do primeiro semestre seu plano de regulação, que refletirá a importância do resseguro no processo. “O setor terá relevância histórica para o mercado nacional, pela participação na alavancagem dos investimentos ao oferecer garantias. A Susep está atenta e vai atuar para que o mercado seja funcional no momento em que o país precisar”, diz Bastos, citando a proposta de estudos para a criação da Política Nacional de Resseguro, que visa estabelecer ambiente favorável para oferta de garantias exigidas pelo atual momento econômico.

Freire, da Austral Re: rápido crescimento do mercado de resseguro — Foto: Bruno Ryfer/Divulgação
Freire, da Austral Re: rápido crescimento do mercado de resseguro — Foto: Bruno Ryfer/Divulgação

Entre os itens relacionados ao resseguro no plano de regulação, um diz respeito a questões tributárias e a seus impactos no mercado nacional. O outro, já iniciado, está relacionado ao entendimento da cláusula “claims control”, que dá poderes ao ressegurador de participar ativamente da regulação do sinistro. “Queremos entender como o mercado financeiro internacional pode afetar decisões importantes tomadas aqui. É uma aproximação entre a gestão da Susep e a decisão do governo federal de que o Brasil volte a internalizar centros decisórios”, afirma Bastos. Fortalecer o mercado nacional é uma das prioridades. Na prática, significa ter mais resseguradoras locais, com riscos retidos no Brasil. “Isso nos trará mais autonomia, soberania econômica, e nos deixará um pouco mais imunes. Conseguimos reduzir impactos, mas como é um mercado internacional, esses eventos serão sentidos”, diz.

Quando a demanda supera o patamar de cobertura adequado para as resseguradoras, é preciso recorrer a capital adicional no exterior, mecanismo batizado de retrocessão, uma espécie de resseguro do resseguro. “Nós, como resseguradores, contamos com o mercado internacional, de retrocessões. Hoje, se precisasse comprar capacidade adicional, ia custar muito caro por causa de vários fatores globais (guerras e eventos climáticos), e quando dependemos do mercado internacional, precisamos repassar os custos. O que se ouve na Europa nesse momento é que o ‘hard market’ deve se manter por mais dois anos”, diz Castillo, do IRB(Re).

O aumento de preços, passado e previsto, varia de acordo com os ramos de negócios. “Os valores das coberturas de eventos catastróficos duplicaram, os de resseguros aeronáuticos estão três a quatro vezes superiores aos que eram há quatro anos”, diz o executivo. A alta de sinistralidade nas coberturas de catástrofes naturais em 2023, como os terremotos de grandes proporções na Turquia e no Marrocos, bem como os incêndios florestais no Canadá, em Portugal e no Havaí, pressionou os custos. A guerra na Ucrânia, segundo Castillo, triplicou o custo da energia na Alemanha, elevando os preços dos resseguros. “Todas essas incertezas vêm para o Brasil”, diz.

O ano de 2023 foi recorde em quantidade de eventos em um único ano, conforme relatório da Swiss Re, com 332 catástrofes naturais (terremotos e enchentes) que causaram US$ 280 bilhões em perdas econômicas. Desse total, estavam segurados apenas US$ 108 bilhões (relacionados a 142 eventos). Segundo o estudo, o ano passado foi o quarto consecutivo no qual as perdas seguradas de catástrofes naturais ultrapassam a casa dos US$ 100 bilhões.

De fato, os resseguros para cobertura de catástrofes naturais, conhecidos pelo jargão “nat cat”, passam por momento desafiador, nas palavras de Gerard, da AXA. Isso tanto pela frequência das ocorrências quanto pela intensidade dos eventos. “Os preços para ‘nat cat’ podem duplicar ou triplicar. Vemos pressão no mercado americano e no asiático, especialmente nos países da costa do Pacífico. É uma situação que pode até impossibilitar os contratos, como o mercado imobiliário na Flórida, onde pode se tornar impossível ter seguro e resseguro”, diz o executivo da AXA.

O Brasil, no entanto,vive outra realidade, por estar menos exposto a catástrofes naturais. As projeções dos analistas da AXA são de estabilidade de preços e baixa sinistralidade. “Desde a abertura dos resseguros no Brasil, vemos o mercado bem posicionado e as resseguradoras tendem a aumentar suas capacidades para o mercado nacional”, diz.

Araripe, da Gallagher Re, ressalta o aumento da competitividade no país, com crescimento do setor e abertura do mercado. “A contratação de resseguro em moeda estrangeira (permitida desde o fim do monopólio) é muito comum nas áreas de petróleo e gás e em geração de energia, que cresce exponencialmente no mercado e na qual a Gallagher está super bem posicionada”, diz, citando ações positivas do governo, como a criação da Letra de Risco de Seguro (LRS) e a agenda de investimentos em infraestrutura. “No Brasil, o setor de seguros representa cerca de 6% do PIB, na Inglaterra é 20% do PIB. Tem muito o que desenvolver no país.”A abertura do mercado resseguros em 2008, na visão de Bruno Freire, presidente da Austral Re, levou a uma redução de volatilidade, além de contribuir para a chegada de produtos globais, com o ingresso de novas empresas. No Brasil, o mercado ressegurador é dividido entre companhias com sede no Brasil, chamadas de locais, e as com sede no exterior, mas autorizadas a operar no país, as “offshore”. Em 2023, 56% dos prêmios no país foram para as locais e 44%, para as “offshore”. Em 2017, a participação de mercado das locais era bem maior, de 71%, demonstrando o processo de diversificação do mercado nos últimos anos.

“Várias linhas de negócios surgiram nos últimos anos. O mercado de resseguro cresceu mais rápido do que o de seguros”, diz o executivo da Austral Re, empresa que começou a operar em 2011 e obteve no primeiro trimestre de 2024 lucro líquido de R$ 22,3 milhões, 274% superior ao do mesmo período do ano passado. “Foi o melhor trimestre desde que começamos a operar”, informa Freire. Para este ano, ele acredita que as maiores demandas virão dos ramos de garantia, vida e patrimonial. “Vemos muitas oportunidades e possibilidade de produtos inovadores. As coberturas contra riscos cibernéticos vêm crescendo bastante e serão cada vez mais relevantes”, diz.

A avaliação é um consenso no setor: riscos cibernéticos e seguro garantia vão impulsionar o mercado de resseguros nos próximos anos.

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