Seguros, Previdência e Capitalização
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Por Erivelto Tadeu


Escabin, do BTG Pactual: mais difícil é adequar informações compartilhadas — Foto: Divulgação
Escabin, do BTG Pactual: mais difícil é adequar informações compartilhadas — Foto: Divulgação

Depois de ter os prazos prorrogados por duas vezes, a implementação da fase 2 do open insurance (Opin), ecossistema aberto de compartilhamento de dados do setor de seguros, foi finalmente iniciada. A execução dessa etapa, que vai até julho, prevê a troca de informações pessoais, tais como o cadastro de clientes e seus produtos – mediante o consentimento dado por eles –, entre as empresas participantes do setor.

O Opin segue basicamente o mesmo princípio do open banking, sistema aberto de partilhamento de dados bancários pessoais: ofertar serviços e produtos de acordo com as necessidades e riscos das pessoas e estimular a concorrência no mercado segurador. A diferença em relação ao open banking, que já está em operação também em outros países, é que o Opin é uma exclusividade do Brasil.

A Superintendência de Seguros Privados (Susep), reguladora e fiscalizadora do ecossistema, definiu três grandes fases para implementação do sistema. A fase 1, de compartilhamento de dados públicos sobre canais de atendimento e produtos de seguro, previdência complementar e capitalização disponíveis para comercialização, está finalizada, com as informações já disponíveis. A fase 2, que trata exclusivamente do compartilhamento de dados pessoais, vai até julho. E, por fim, a fase 3, prevista para iniciar nos próximos meses, é quando os serviços estarão operacionais por meio do ecossistema.

Nessa segunda etapa serão compartilhados apenas dados cadastrais e de seguro residencial, em razão do particionamento do calendário de execução, diante da dificuldade das empresas participantes do Opin em cumprir os prazos de implementação definidos pela Susep. O órgão regulador decidiu segmentar o calendário de implantação de outras modalidades de seguros, mas, mesmo assim, a opinião de alguns agentes do setor é que dificilmente os prazos serão respeitados.

“Os prazos são muito apertados, e não são novidade nenhuma os adiamentos. Desde antes da abertura da consulta pública para os atos normativos e regras do Opin já vínhamos debatendo com a Susep a questão dos prazos e alertando que eles eram inexequíveis”, conta Alexandre Leal Neto, diretor técnico e de estudos da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg).

Angelo, da Zurich Santander: desafios tecnológicos relevantes para o setor — Foto: Divulgação
Angelo, da Zurich Santander: desafios tecnológicos relevantes para o setor — Foto: Divulgação

Ele atribui os atrasos na implementação tanto à exiguidade dos prazos como à complexidade da tarefa e aos reflexos gerados pela pandemia de covid-19, que obrigou as empresas do setor a modificar radicalmente a forma como trabalhavam e a rever seus projetos. A sobreposição de fases é outro aspecto que interfere no cumprimento do cronograma de implantação do Opin, segundo o executivo. “Isso porque se eventualmente muda alguma coisa numa fase anterior, há reflexo na posterior e gera atrasos.”

A Susep definiu, por exemplo, que os dados relativos a seguros de automóveis deveriam ser liberados para o cliente dar consentimento em 15 de maio – o que até a conclusão da edição desta revista não havia ocorrido – e as informações sobre seguros de vida a partir de 15 de julho, data final da segunda etapa de implementação. No entanto, nenhum desses produtos devem estar disponíveis tão cedo para o consumidor, avaliam executivos do setor.

O diretor da CNseg diz que a Susep tem se mostrado bastante aberta para debater a questão do calendário. “Temos conversado para tentar alongar um pouco esses prazos. A expectativa era que no começo de março teríamos o ‘go live’ de alguns produtos, mas, devido a problemas com algumas definições dos diretórios participantes, que estão sendo corrigidos, ainda temos um longo percurso a trilhar para que a fase 2 esteja totalmente implementada e funcionando adequadamente”, explica Leal Neto.

Outro motivo do avanço lento da fase 2 é o tamanho do desafio tecnológico. Muitas empresas ainda não concluíram, por exemplo, o desenvolvimento e a realização dos testes de suas APIs (interfaces de programação de aplicações), por meio das quais será feita a troca das informações. Um indício dos contratempos técnicos que muitas empresas do ecossistema estão enfrentando foi a dificuldade da reportagem do Valor para encontrar empresas dispostas a falar sobre o tema, inclusive algumas seguradoras de maior porte, incluídas nos segmentos S1 e S2 da regulação prudencial, cuja participação no open insurance é mandatória.

Leal Neto, da CNseg: sobreposição de fases atrapalha o cronograma — Foto: Divulgação
Leal Neto, da CNseg: sobreposição de fases atrapalha o cronograma — Foto: Divulgação

O diretor de produtos da Zurich Santander, João Batista Mendes Angelo, avalia que os desafios tecnológicos são bastante relevantes para toda a indústria de seguros, visto que as empresas estão se adaptando a um ambiente padrão alinhado às regulamentações. “É uma transformação e adaptação de todos os players, para que operem de forma harmônica em uma estrutura que, mediante autorização específica dos clientes, vai permitir o envio de informações de uma seguradora para outra”, explica ele, ao enfatizar que a Zurich Santander realizou todas as entregas regulatórias e está em dia com o cronograma do open insurance.

Para o superintendente de produtos da Brasilprev, Sandro Bonfim, a grande dificuldade para as empresas participantes do Opin, de modo geral, é realmente construir uma estrutura bastante robusta em um prazo relativamente curto. “É um grande desafio para todas as seguradoras, mas principalmente para aquelas que ainda estão no início da jornada digital”, diz ele, ao afirmar que, embora no caso da previdência privada, que é o foco de atuação da empresa, o cronograma seja julho, a Brasilprev não deve enfrentar obstáculos tecnológicos.

Bonfim conta que a Brasilprev já vem há alguns anos investindo fortemente no processo de digitalização das operações, independentemente do Opin. Ele cita como exemplo a criação, há cerca de três anos, de dois novos setores na companhia: o Digital Experience Lab (DxLab) e a superintendência de dados. “Quando veio o open insurance, nós já tínhamos uma base tecnológica sendo construída. Eu acho que o desafio é para aquela seguradora que porventura saiu um pouco depois nesse processo de digitalização, pois ela terá que recuperar o tempo perdido, o que não é trivial.”

Caminho semelhante foi seguido pelo BTG Pactual, que criou uma equipe de tecnologia voltada exclusivamente para o open insurance. “Essa prioridade foi definida no fim de 2021 e passamos 2022 inteiro cumprindo o cronograma de entregas de tecnologia. Nós fomos a primeira seguradora dentro da fase 1 a disponibilizar as nossas APIs para testes e a estarmos on-line dentro do Opin”, afirma Gabriel Escabin, head de previdência do BTG Pactual. Na opinião dele, a parte mais difícil tecnologicamente é a adequação das informações que precisam ser compartilhadas da maneira que a Susep estruturou nos manuais. “É preciso considerar que nem todos os sistemas das seguradoras têm as informações em um único local. Isso pode ter um impacto enorme no processo de entrega de APIs.”

Um obstáculo adicional que as empresas terão de superar na fase 2 é obter o consentimento dos consumidores de produtos e serviços de seguros para compartilhamento de suas informações entre diferentes sociedades autorizadas/credenciadas pela Susep. O executivo do BTG Pactual avalia, no entanto, que não haverá resistência por parte do consumidor. “O que existe atualmente é um desconhecimento em relação ao propósito e aos benefícios do open insurance. Mas, à medida que as seguradoras, os bancos e as plataformas de investimento começarem a divulgar mais e a desenvolver o processo de educação do consumidor, o interesse irá aumentar”, pondera Escabin.

Na avaliação de Bonfim, da Brasilprev, ainda haverá um período de aculturação do consumidor, mas, a partir do momento em que ele constatar que o ambiente é seguro, confiável e traz benefícios, a tendência é a adesão aumentar. Ele cita o caso do Pix, o sistema de pagamento instantâneo do Banco Central (BC). “Quando o Pix entrou em operação, o BC imaginava um determinado nível de adesão e acabou superando todas as expectativas. É claro que se trata de uma ferramenta mais simples e fácil de usar, mas quando o consumidor perceber as vantagens do open insurance, como ofertas comerciais melhores e mais adequadas ao perfil dele, a aceitação será maior.”

A expectativa do mercado é que as ofertas sejam aceleradas a partir da integração com o open banking, que vai unir os projetos e colocar em prática o open finance. Porém os resultados dessa convergência só devem começar a aparecer entre 2024 e 2025, segundo prevê Thiago Barata, coordenador-geral de projetos da Susep e responsável pelo Opin.

Angelo, da Zurich Santander, avalia que os resultados aparecerão após a implementação, uma vez que a relevância está associada ao amadurecimento dos sistemas e dos primeiros testes. Executivos do setor observam, porém, que, para que isso se concretize, o open insurance terá que estar 100% operacional e toda a cadeia completa. Segundo eles, a competitividade no setor só será ampliada se mais empresas participarem do ecossistema. Hoje participam do Opin somente as grandes seguradoras dos segmentos S1 e S2, entidades abertas de previdência privada e sociedades de capitalização.

A Susep abriu a possibilidade de participação das Sociedades Processadoras de Ordem do Cliente, as chamadas SPOCs, que deverão englobar os corretores de seguros e que, segundo a entidade reguladora, irão prover serviços de agregação e compartilhamento de dados, painéis de informação e controle (dashboards) exclusivamente através do consentimento dado pelo cliente, ou, como representantes do segurado e com consentimento dado por ele, “prestar serviços de iniciação de movimentação, sem deter em momento algum os recursos pagos pelo cliente, à exceção de eventual remuneração pelo serviço, ou por ele recebido”. Mas, até o momento, nenhuma empresa demonstrou interesse, nem mesmo as seguradoras, que podem operar como SPOCs, mantendo o status de S1 ou S2, segundo a CNseg.

Um dado incontestável pelos agentes do setor, no entanto, é que o novo ambiente de compartilhamento de dados terá forte impacto no modus operandi do mercado e será um divisor de águas para a indústria de seguros. Pesquisa realizada sobre open insurance no Brasil pela empresa de serviços de tecnologia e consultoria Capgemini cita, como exemplo, o surgimento de novos produtos, com maior capacidade de personalização, o desenvolvimento de novos canais de distribuição e o ingresso de outros competidores no mercado, o que deve proporcionar uma jornada digital mais simples.

Segundo o estudo publicado em janeiro, em que foram ouvidos 78 executivos do mercado segurador brasileiro, 77% dizem acreditar que haverá inovações em produtos, 73% avaliam que novos competidores devem ingressar no mercado e 74% esperam que haverá uma crescente diversificação na intermediação. Contudo, esses impactos não serão imediatos. Ainda de acordo com o levantamento, o Opin deverá trazer impactos a partir de 2025, conforme avaliam 50% dos entrevistados, e será mais sentido nos produtos de seguros de automóveis, vida, previdência e nos chamados massificados, como seguro residencial. Em termos de clientes, as pessoas físicas e as micro e pequenas empresas devem ser as mais beneficiadas.

A jornada do open insurance é desafiadora, seja para as seguradoras, seja para os canais de distribuição atuais, como os corretores, que hoje são responsáveis por 90% da venda de seguros no Brasil, observa Gustavo Leança, líder de soluções para seguros da Capgemini Brasil. “Mas há uma grande transformação tecnológica e de processos que ainda precisa ser empreendida e que deve estar escorada em bases sólidas de dados, arquiteturas abertas, integrações eficientes, muita cibersegurança e capacidades analíticas que permitam transformar dados em insights.”

O consultor da Capgemini lembra que a esses desafios deve se somar a consolidação do open finance. Quando o open banking e o open insurance se juntarem, será permitido ao cliente fornecer seus dados de seguros para bancos, fintechs e demais participantes do ecossistema. “Essa nova realidade deve apresentar oportunidades e desafios inusitados, que somente o futuro será capaz de nos dizer quais são”, diz Leança.

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