Seguros, Previdência e Capitalização
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Por Jiane Carvalho


O setor de seguros, mesmo com avanços regulatórios e expansão consistente de algumas linhas de produtos, quer acelerar o passo para atingir patamares no Produto Interno Bruto (PIB) como os de países desenvolvidos. A dificuldade em chegar a algumas camadas da população, tema antigo em debate, deve ser enfrentada com o Plano de Desenvolvimento do Mercado de Seguros (PDMS), lançado neste ano e com metas para 2030.

Há iniciativas desenhadas para produtos, canais de distribuição, eficiência regulatória e imagem do seguro, sempre com o consumidor no centro das ações. A meta é atingir a marca de 10% de participação no PIB em oito anos, o que será possível só com uma agenda proativa envolvendo diversos atores públicos e privados.

Na visão do setor, o ritmo atual de aumento das receitas não é suficiente para atingir o patamar desejado de participação no PIB e elevar em 20% a parcela da população que consome seguros. O ano de 2023, segundo a Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNseg), começou com avanço de dois dígitos na receita (prêmios emitidos). No primeiro bimestre, as seguradoras arrecadaram R$ 58,3 bilhões, crescimento de 10,3% sobre igual período de 2022. Sem contar seguro-saúde e DPVAT (danos pessoais causados por veículos automotores), trata-se do mesmo percentual que a entidade estima para o ano todo. Em 2022, a arrecadação chegou a R$ 355,9 bilhões, expansão de 16,2% na comparação anual, porém com boa parte do volume de prêmios gerada mais por repasse de custos – inflação mais gastos com sinistralidade – do que por atingir mais camadas da população. Só em indenizações, resgates, sorteios e benefícios, os gastos somaram R$ 219,4 bilhões, resultado15,5% superior a 2021.

“O PDMS foi criado para elevar a base de brasileiros que consomem seguro e da percepção de que o mercado pode gerar mais reservas para a poupança nacional”, diz o presidente da CNseg, Dyogo Oliveira, acrescentando que, se nada fosse feito, em 2030 o setor poderia chegar só perto de 8% do PIB. Elaborado pela CNseg e federações associadas – Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), Federação Nacional de Previdência Privada e Vida ( FenaPrevi), Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) e Federação Nacional de Capitalização (FenaCap) –, ele é composto por 65 iniciativas para melhorar a oferta e estimular a demanda por seguro.

Para Oliveira, o desempenho positivo em receita, nos últimos anos, é fruto do maior amadurecimento da sociedade sobre a importância de ter um seguro, por causa da pandemia, e dos esforços das seguradoras em lançar produtos e melhorar os canais de distribuição, com uso intensivo de novas tecnologias. “A indústria tem que olhar para os 67% dos trabalhadores brasileiros que ganham até dois salários mínimos, com produtos adequados, ou ficará presa nos 30% do mercado que já está bem ocupado.”

A CNseg está trabalhando com o Banco Central (BC) em um Pix recorrente, que permita o pagamento mensal de seguros, com recursos creditados às seguradoras. “É um mecanismo mais eficiente para venda de seguros de baixo valor, como o auxílio funeral, que pode custar R$ 10 por mês, sendo R$ 4 gastos apenas com emissão de boleto”, afirma Oliveira.

Outra iniciativa é consignar o seguro no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), permitindo que os valores pagos às seguradoras saiam direto da folha de pagamento de benefícios, como ocorre com empréstimos consignados para aposentados. “Negociamos com o INSS que pagamentos da previdência privada e seguro de vida, por exemplo, possam também ser consignados, o que gera facilidade e economia de custos.”

O presidente da FenaPrevi, Edson Franco, que responde por seguros de vida, acidentes pessoais e funeral, diz que as medidas podem ser importantes para acelerar o passo. “Está bem encaminhado, porque é uma alternativa para reduzir o custo da cobrança por inibir maior massificação dos produtos de menor valor.”

Gontijo, da Bradesco Seguros: novas tecnologias são positivas para o mercado — Foto: Bitenka/Divulgação
Gontijo, da Bradesco Seguros: novas tecnologias são positivas para o mercado — Foto: Bitenka/Divulgação

Hoje, segundo a FenaPrevi, os seguros de pessoas representam apenas 0,6% do PIB. “Só 17% da população tem seguro de vida e 9%, cobertura para invalidez. O funeral chega a 26%. É muito pouco”, destaca Franco. No primeiro trimestre, os seguros de pessoas avançaram 12,5%, com R$ 14,6 bilhões em prêmios, e melhora da sinistralidade. “Desde março de 2020, quando eclodiu a pandemia, até o fim do primeiro trimestre deste ano, pagamos R$ 44 bilhões em indenizações, sendo R$ 7,2 bilhões ligados à covid-19. Neste ano, efeitos ligados à pandemia já não são relevantes.” As captações brutas da previdência privada chegaram a R$ 39,3 bilhões no primeiro trimestre, alta de 4,9%, com ativos de R$ 1,2 trilhão.

Além do Pix, Oliveira diz que o governo lançou um pacote de medidas para estimular o crédito, que permite o uso de recursos da previdência privada e capitalização como garantia de operações junto a instituições financeiras. A nova Lei de Licitações também passou a prever seguro-garantia para até 30% do valor da obra.

No Supremo Tribunal Federal (STF), uma vitória do setor: os ministros acolheram uma ação da CNseg de inconstitucionalidade de leis estaduais que permitiam a oferta de proteção veicular por associações, concorrência com o seguro-auto, mas sem as mesmas regras ou garantias. “Com melhora nos canais de distribuição, produtos mais adequados às camadas que não têm seguro e iniciativas do governo, podemos ganhar escala, volume distribuído, e o preço tende a cair. Este é o efeito multiplicador que buscamos.”

Segundo Antonio Trindade, presidente da FenSeg, entidade que representa o ramo de “seguros de danos” como garantia, auto e rural, além de alguma piora na economia, o que pode atrapalhar os planos do setor são eventuais movimentos do Congresso ou do próprio governo que interfiram na livre inciativa. “No seguro-garantia, no Minha Casa Minha Vida e em projetos de estradas e saneamento, as iniciativas do governo vão gerar uma demanda enorme por seguro. Por outro lado, o setor pode ser um agente fiscalizador importante na área pública, mais eficaz do que o próprio governo”, com as seguradoras, por exemplo, exigindo qualidade e prazos de quem executa as obras.

Chang, da Fitch Ratings: receitas devem avançar 10% neste ano — Foto: Divulgacao
Chang, da Fitch Ratings: receitas devem avançar 10% neste ano — Foto: Divulgacao

Nos seguros acompanhados pela FenSeg, a expectativa é de crescimento na casa dos dois dígitos. O seguro-auto, no primeiro bimestre, avançou 25,3% na arrecadação; o rural, 24,6%; e o prestamista, 20,7%. Trindade destaca a melhora na sinistralidade, que nos últimos anos pressionou as seguradoras. No rural, a queda foi de 77,3% e nos seguros de danos e responsabilidades, 20,2%.

O avanço das receitas nos últimos anos, diz Trindade, tem ocorrido por preços maiores, o que não é o cenário ideal. “Vendemos a mesma quantidade de seguros, ou menos em alguns casos, mas com receita maior. Não é um crescimento bom, mas um ajuste necessário para algumas das carteiras, principalmente auto, com custos maiores para indenizações e elevada sinistralidade.”

O seguro-auto viu a base, em unidades seguradas, diminuir pelos preços elevados. Levantamento da FenSeg, que cruzou os dados das seguradoras com a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), mostra que eram 20,2 milhões de unidades em dezembro de 2021, número que caiu para 19,9 milhões em junho de 2022, queda de 1,5%. “O bom crescimento é com mais itens vendidos, maior penetração e receita em alta. Neste ano, a sinistralidade estará mais controlada e vai ajudar”, diz Trindade.

A agência de classificação de risco Fitch Ratings projeta para este ano avanço das receitas de seguros, sem saúde, na casa de 10%, ainda com algum repasse de custos mais altos no primeiro semestre. “Os prêmios [arrecadação] vêm subindo pelos preços maiores, mas com alguma melhora. A sinistralidade em vida, que chegou a 60% em 2021 com a pandemia, caminha para a normalidade, na média de 30%. O rural também teve quebras de safras importantes, enquanto no auto a desorganização das cadeias produtivas fez os preços do produto dispararem”, diz Alexandre Chang, diretor da Fitch Ratings. Ele vê com bons olhos a iniciativa do PDMS, que pretende elevar de 6% para 10% a participação dos seguros no PIB.

Assis, da BB Seguridade: seguro-rural cresce mesmo com mais sinistralidade — Foto: Silvia Zamboni/Valor
Assis, da BB Seguridade: seguro-rural cresce mesmo com mais sinistralidade — Foto: Silvia Zamboni/Valor

Dados da Fitch mostram que com receitas maiores, sinistralidade caminhando para a normalidade e ganhos financeiros com a correção das reservas aplicadas em títulos públicos, o desempenho das seguradoras tem melhorado ano a ano. O retorno sobre ativos ou patrimônio médio (ROAE) das seguradoras, no ambiente regulado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), saltou de 11,6% em 2021 para 23% no ano passado, ainda inferior à pré-pandemia, com 26,1% em 2019. Já no seguro- saúde, regulado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), houve piora no indicador, recuando de 3,5% em 2021 para 2,2% no ano passado.

“Vemos ainda uma pressão forte sobre a lucratividade das operadoras de saúde. Esperávamos um 2022 difícil, mas foi um pouco pior”, diz Chang. No ano passado, os planos de saúde registraram prejuízo operacional de R$ 11,5 bilhões, o pior resultado desde o início, em 2001, da série histórica da ANS, segundo a FenaSaúde. Entre setembro de 2021 e setembro de 2022, dado mais recente disponível, houve aumento de 1,7 milhão de beneficiários de assistência médica.

Outro aspecto importante do PDMS, lembra o presidente da Bradesco Seguros, Ivan Gontijo, são os esforços planejados para melhorar a imagem cultural do seguro. “A indústria de seguros tem uma importância estratégica, tanto como agente de formação de poupança interna quanto como investidor institucional. No entanto, nosso mercado é subpenetrado e temos muito a evoluir em termos de participação no PIB. O Brasil é apenas o 18º mercado de seguros no mundo.” Segundo ele, o desafio é disseminar essa cultura no país, mostrando sua função social como fator de aumento da qualidade de vida e previsibilidade dos negócios.

A Bradesco Seguros, que em 2022 viu as receitas com seguros, previdência e capitalização saltarem 28,9% sobre o ano anterior, tendo arrecadado R$ 14,8 bilhões, volta a repetir no começo deste ano um bom desempenho. Houve expansão de 13% no faturamento no primeiro trimestre ante igual período de 2022, totalizando R$ 25 bilhões, com destaque para o avanço dos segmentos de auto (26,5%), saúde (22%) e previdência (12,2%). O lucro líquido da seguradora atingiu R$ 1,8 bilhão, mais 10,6% na mesma base de comparação.

Gontijo destaca os esforços em inovação e tecnologia como determinantes para a seguradora e o setor como um todo em seu plano de elevar a participação no PIB. “As novas tecnologias são positivas para o mercado em diversos pontos. Com elas conseguimos facilitar processos. Também possibilitam a criação de novos produtos e serviços e a ampliação do ‘clientecentrismo’.” O faturamento com comercialização de produtos nos canais on-line ultrapassou R$ 762 milhões no primeiro trimestre deste ano, aumento de 45% em relação a igual período de 2022.

O alerta da Bradesco Seguros para o setor como um todo é a área de saúde, mesmo tendo registrado faturamento de R$ 9,4 bilhões no ramo no primeiro trimestre, crescimento de 22% ante igual período de 2022. “Os segmentos de saúde e vida foram os que tiveram o maior impacto no último ano. Somente nos três primeiros meses de 2022, foram pagos R$ 10,7 bilhões em indenizações e benefícios, incluindo eventos relacionados à covid-19”, diz Gontijo. A seguradora adotou várias iniciativas para controlar custos, como diversificação do portfólio de produtos, que incluem planos regionais e um novo modelo de coparticipação de categoria seguro para pequenos grupos (SPG), com redução de custos e mais acessíveis aos segurados.

O fato de não trabalhar com o seguro-saúde foi lembrado por Ullisses Assis, CEO da holding BB Seguridade, como um fator positivo no desempenho em 2022. “Depois de um 2021 pagando indenizações altas pela covid-19, vimos a sinistralidade do produto vida cair no ano passado no setor como um todo, mas as seguradoras que sofreram mais tinham o seguro-saúde no portfólio, o que não é nosso caso.”

A BB Seguridade, holding de seguros, previdência e capitalização do Banco do Brasil, registrou lucro líquido de R$ 6 bilhões no ano passado, alta de 53,7% em relação a 2021. As principais contribuições vieram da Brasilseg, que responde por produto vida, rural e prestamista, e da Brasilprevi. Sem os impactos do setor de saúde suplementar, o destaque em sinistralidade ficou por conta do rural, em que a Brasilseg é líder. “Pagamos mais de R$ 3 bilhões em indenizações, principalmente no primeiro trimestre, por conta dos efeitos do La Niña nas plantações.”

Mesmo com alta sinistralidade, a seguradora avançou no produto rural, com a receita crescendo 52% no ano passado. “A sinistralidade é ruim, mas também foi uma grande propaganda para o produto. Assim como a covid-19 chamou a atenção para o produto vida, a quebra de safra ajudou nas vendas no rural”, afirma Assis. “Dado da Susep até março deste ano mostra as vendas do rural caindo 2%, mas nós crescemos 40% no período sobre 2022. E com sinistralidade mais baixa.” No Brasil, somente 20% da área plantada tem seguro, em comparação a 90% nos Estados Unidos.

Assis também aponta a importância dos investimentos em tecnologia e inovação para ajudar o setor a elevar a participação no PIB. “No fim de 2021, aceleramos em um ano o processo de transformação digital. Foram quase R$ 600 milhões investidos em tecnologia da informação no ano passado. Tudo isto possibilitou tracionar nossa venda de mar aberto”, explica, se referindo à estratégia de venda de seguros fora das agências do BB, o que tem dado resultado. No ano passado, 14% das vendas foram feitas 100% em canais digitais. “Tivemos R$ 4 bilhões de faturamento de seguros e previdência usando inteligência analítica para ofertar os seguros.” Em 2022, segundo Assis, R$ 1 bilhão de prêmios foram alcançados fora do canal BB. “Tecnologia fez diferença. Sem rede para distribuir para os parceiros, não seria possível”, destaca.

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