Saúde
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Por Roseli Loturco


Stuart, da RGS: há fôlego para consolidação nos próximos dez anos — Foto: Vivian Koblinsky/Divulgação
Stuart, da RGS: há fôlego para consolidação nos próximos dez anos — Foto: Vivian Koblinsky/Divulgação

O ritmo acelerado de fusões e aquisições no setor de saúde, que era crescente desde 2019, arrefeceu. O cenário de grandes grupos indo às compras de forma verticalizada formando conglomerados com vértices complementares, que vão de hospitais a planos de saúde, clínicas especializadas, laboratórios de diagnósticos, farmacêuticas e healthtechs, teve seu auge em 2021, quando atingiu 110 transações, caindo para 66 no ano passado e 17 de janeiro a abril deste ano, queda de 37% em comparação a igual período de 2022, segundo dados da PwC Brasil.

Na liderança das negociações, operadoras de planos de saúde como Hapvida e NotreDame Intermédica se uniram. A Rede D’Or ficou com 70 hospitais, além de adquirir a SulAmérica. O Fleury comprou o Hermes Pardini e a Dasa, a Oncoclínicas, bem como Kora Saúde, Mater Dei, Qualicorp e Odontoprev ampliaram suas operações. Mas o cenário macroeconômico mudou de meados de 2022 para cá, com alta da inflação e taxa Selic em 13,75%, elevando o custo de capital para novas transações. Além disso, a sinistralidade das operadoras de saúde saiu de 77,74% em 2020 para 89,21% ao fim de 2022. O resultado é que as empresas do setor estão entre as que mais perderam valor de mercado nos últimos 24 meses encerrados em 12 de junho de 2023. Liderando a lista estão Kora Saúde, Dasa, Qualicorp e Hapvida, que caíram 86%, 81%, 81% e 72%, respectivamente, segundo cálculo da Capital IQ.

Para os especialistas, as grandes companhias devem primeiro passar por um processo de integração das transações feitas, antes de voltarem a novas aquisições, porque precisam apresentar melhores resultados e, para tanto, estão buscando por meio de follow on e leaseback – quando pegam ativos hospitalares e realugam – levantar capital.

“O plano de captação de recursos da Hapvida entre abril e maio foi de R$ 2,45 bilhões, sendo um terceiro follow on da venda da São Francisco e leaseback de R$ 1,25 bilhão. Eles pegaram dez hospitais para fazer o leaseback”, afirma Luis Fernando Joaquim, sócio e líder de life sciences e health care da Deloitte. Segundo ele, também pesa nessa conta o piso da enfermagem, porque as redes têm operações no Norte e Nordeste, onde a diferença de piso salarial é grande, o que leva o mercado a não ter certeza se conseguirá captar os recursos que gostaria de levantar, já que o custo de capital está muito elevado.

Por outro lado, Joaquim aponta o ganho de sinergia da união de algumas operações, lembrando que há muito a consolidar, porque existem 6,4 mil hospitais entre públicos e privados em todo o país. “A sinergia advinda da Rede D’Or com a SulAmérica já rendeu R$ 412 milhões, com a redução de estruturas administrativas e físicas e compra de medicamentos, no primeiro trimestre deste ano. Já o Grupo Fleury com o Hermes Pardini conseguiu sinergia de R$ 200 milhões a R$ 220 milhões em Ebtida incremental.”

Batista, da JK Capital: clínicas de especialidades têm bons desempenhos — Foto: Leo Martins/Divulgação
Batista, da JK Capital: clínicas de especialidades têm bons desempenhos — Foto: Leo Martins/Divulgação

O fato é que muitas das operações ocorridas neste ano não envolveram os grandes grupos. Com exceção da Oncoclínicas, que anunciou a aquisição da Unidade de Oncologia Clínica e Pediátrica (UOCP) em São Paulo, especializada em tratamento oncológico para crianças e adolescentes, e da Alliar (Alliança), com a aquisição da ProEcho, que possui 13 unidades no Rio de Janeiro, novos players se destacaram.

“Como o fundo de private equity Crescera, que comprou uma participação de 27% no grupo Salus, dono da franquia de clínicas odontológicas Sorridents e da Giolaser. Houve ainda a farmacêutica uruguaia Megalabs, com a aquisição do Complexo Almeida Prado 46, e a Opty, grupo de atendimento oftalmológico, que adquiriu o Serviço Oftalmológico de Pernambuco (Seope)”, diz Leonardo Dell’Oso, sócio da PwC Brasil. E a transação entre o grupo de laboratórios Widal Pacheco, que anunciou a aquisição de dois laboratórios de análises clínicas – Endocrimeta e Conte – na capital gaúcha e região metropolitana.

Segundo ele, há muito a ser consolidado e uma maior estabilidade político-econômica pode voltar a impulsionar as fusões e aquisições a partir do fim deste ano. Com a aprovação do arcabouço fiscal, espera-se um crescimento maior do Produto Interno Bruto (PIB) em 2023 e, nos próximos anos, queda da inflação e da taxa de juros. As perspectivas de aprovação de uma reforma tributária podem puxar a retomada dos negócios.

Como o foco da consolidação nos últimos anos ocorreu nos grandes centros econômicos, principalmente no Sudeste e Sul, os analistas veem espaço em regiões subexploradas, como Centro-Oeste e Nordeste, especialmente no subsetor de serviços médico-hospitalares. “Entretanto, a viabilidade desse processo demandará a aplicação de estratégias diversas daquelas até então utilizadas para os grandes centros econômicos, porque essas regiões possuem características diversas, como concentração populacional, níveis de emprego e renda”, observa Dell’Oso.

Especialistas acreditam que há uma forte tendência à verticalização, em busca de otimização e eficiência operacional, e assim os grupos buscam crescer de forma inorgânica. “Usualmente são teses que estão investidas por fundos de investimentos”, afirma Igor Batista, sócio da JK Capital. Ele acredita que as consolidações sigam tendências do envelhecimento populacional e mudanças no estilo de vida que possam ocasionar doenças.

“Nesse contexto a consolidação se torna mais óbvia. As clínicas de especialidades têm apresentado bons desempenhos e continuam no radar de muitos players como oftalmologia, reprodução humana, clínicas oncológicas, fisioterapia, entre outras modalidades”, afirma Batista, que aponta que o mercado de saúde mental também vem se aprimorando no Brasil. “É possível analisar uma forte tendência de consolidação nesse segmento”, destaca.

Para a RGS, há fôlego para consolidação na saúde pelos próximos dez anos e os arranjos entre as empresas podem se dar em diferentes modelos. “A Oncoclínicas não está verticalizada, mas tem feito joint ventures com as Unimeds. É uma verticalização via parcerias com as operadoras. A Dasa, que não é verticalizada ainda, pode operar de duas formas, verticalizada ou não”, observa Renato Stuart, sócio responsável pela cobertura no setor de saúde da RGS.

Já o Banco Fator tem dois mandatos de fusões e aquisições no setor em andamento. Um relacionado a serviços de atendimento pré-hospitalar e home care e o outro para uma empresa que tem atuação em planos ambulatoriais. A empresa de home care tem atuação em São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais, e o valor da operação é estimado em R$ 200 milhões. “Já a empresa de planos ambulatoriais tem foco digital e propósito de venda de planos direto ao beneficiário, sem a intermediação de corretores. É uma startup com foco na região metropolitana de São Paulo”, afirma Marcus Mazetto, sócio da área de investment banking do Fator. Para a startup, o banco busca investimentos de um fundo de venture capital, série A, em torno de R$ 30 milhões. “A expectativa é que essas operações venham a mercado já no segundo semestre.”

Das clínicas especializadas, a DaVita é uma das mais agressivas no processo de consolidação. Foram mais de cem aquisições desde 2016, sendo que mais da metade ocorreu nos últimos três anos. “Nós não reduzimos o perfil e foco. O que aconteceu é que a saúde pública se agravou muito, com clínicas sendo fechadas. São mais de 800 prestadores privados de tratamento renal no país que atendem mais de 80% dos pacientes do SUS”, afirma Bruno Haddad, CEO da DaVita, especializada em tratamento renal. Segundo ele, existem 150 mil pacientes crônicos renais no Brasil, sendo que 120 mil são do Sistema Único de Saúde (SUS). “Como a remuneração do SUS caiu muito, o valor de mercado dessas empresas também caiu e elas deixaram de ser interessantes para aquisição. Por isso, a DaVita passou a ter foco em clínicas privadas. Hoje, mais de 60% de suas clínicas atendem pacientes do SUS. “Mais de 50 novas operações estão sendo avaliadas pela DaVita, mas estamos dando foco às clínicas com atendimento privado, pois o preço de remuneração do SUS está abaixo do custo da diálise”, diz Haddad.

Além das clínicas especializadas e laboratoriais, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) chama a atenção para o setor. “O Brasil tem mais de dois mil hospitais privados e a maior das redes tem em torno de 70 hospitais. Há um enorme espaço de consolidação. Mas as oportunidades serão mais seletivas e se concentram nas grandes cidades do interior do Brasil”, diz Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp. Para ele, os números mostram que os próximos movimentos se darão nos polos regionais do país.

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