Saúde
Group CopyGroup 5 CopyGroup 13 CopyGroup 5 Copy 2Group 6 Copy
PUBLICIDADE

Por Gustavo Rossetti Viana


Rocha, da BP: comissões para avaliar melhores práticas — Foto: Luis Gustavo Benedito/Divulgação
Rocha, da BP: comissões para avaliar melhores práticas — Foto: Luis Gustavo Benedito/Divulgação

As empresas do setor de saúde concentram mais investimentos na área social do que na ambiental e de governança. É o que revela um levantamento da consultoria PwC Brasil sobre as iniciativas ESG de 45 prestadoras de serviços e de 32 organizações farmacêuticas e de biociências. Em relação ao primeiro grupo, a pesquisa examinou os comunicados enviados à imprensa e encontrou 212 menções de metas com o pilar social, em comparação com cinco de meio ambiente e três de governança. No segundo grupo, 77% dos comunicados abordaram temas relacionados a questões sociais, 12% relativos a iniciativas ambientais e 11% referentes a governança. “O setor de saúde é por natureza voltado para o social, para as pessoas, é algo que vem há muito tempo com as práticas de responsabilidade social”, explica Bruno Porto, sócio da PwC Brasil.

Com o “S” de social já em foco e a pressão de investidores, consumidores, órgãos governamentais e reguladores, os investimentos nos outros dois pilares ESG (ambiental e governança) começam a receber mais atenção por parte de hospitais, operadoras e seguradoras, farmacêuticas e provedores de serviços, bem como das entidades de classe, que passaram a criar grupos de trabalho, publicar relatórios de sustentabilidade e estipular metas ambientais e de diversidade racial e de gênero. “O planeta e os stakeholders demandam essa atitude mais responsável, que vai separar as empresas em dois grupos: quem tem ou não um olhar ESG”, avalia Porto.

A Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) criou em 2020 um grupo de trabalho ESG para priorizar projetos dessa agenda junto aos 121 associados e em 2022 preparou o primeiro relatório de sustentabilidade do setor. A coordenadora da área na Anahp, Ingrid Cicca, conta que os hospitais de porte médio e os pequenos, assim como os filantrópicos, estão começando a publicar seus relatórios de sustentabilidade, uma prática antes restrita às grandes redes. “É preciso apresentar para os diferentes públicos quais são suas práticas, senão fica apenas um discurso vazio.”

O primeiro estudo ESG dos hospitais privados, que analisou 193 projetos implementados por 42 instituições, revela investimentos de R$ 119,6 milhões, que trouxeram R$ 7,6 milhões em redução de gastos de janeiro de 2020 a junho de 2021. Tais iniciativas – que beneficiaram 4,2 milhões de pessoas, além de outras 15,5 milhões que deverão ser impactadas até 2030 – envolvem consumo responsável, educação, saneamento, energia, combate à fome e alterações climáticas, melhorias na qualidade do emprego e incentivo à inovação.

Para o diretor superintendente de cuidado público e responsabilidade social do Hospital Albert Einstein, Guilherme Schettino, a área ambiental merece mais atenção do setor de saúde. “É a oportunidade para o setor olhar com mais cuidado para a integração de iniciativas sustentáveis com toda a cadeia de suprimentos. Estamos atrasados e é preciso agir em conjunto para obtermos resultados”, diz. Com a meta de reduzir suas emissões em 50% em 2030 e zerar até 2050, seguindo o Acordo de Paris, o hospital estuda como reduzir o uso de gases anestésicos, como o óxido nitroso, cujos efeitos são mais nocivos ao meio ambiente.

Para viabilizar operações mais sustentáveis, o Hospital Sírio-Libanês criou, em 2022, um grupo multidisciplinar e transversal para assessorar o comitê executivo na implementação da estratégia. “Neste momento, estamos elencando quais iniciativas deverão ser priorizadas na agenda ESG e quais podem ser classificadas ou alocadas em outras áreas”, conta a coordenadora do núcleo de sustentabilidade, Vânia Bezerra. A instituição, que também mira as metas de redução de emissões estipuladas no Acordo de Paris, evitou 5.700 toneladas de emissões GEE em 2022 e usa 100% de fontes renováveis de energia.

A Beneficência Portuguesa (BP) de São Paulo estruturou neste ano comissões para avaliar as melhores maneiras de impulsionar os aspectos ESG. “Em 2022, toda a energia elétrica consumida passou a ser proveniente de fontes 100% renováveis e limpas”, diz Maria Alice Rocha, diretora-executiva de pessoas, experiência do cliente, marketing, sustentabilidade e impacto social da BP.

A Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) criou em 2022 um Comitê de ESG para incentivar a troca de informações entre seus 30 associados. A diretora-executiva da entidade, Milva Pagano, diz que o gerenciamento do consumo e da captação de água, energia elétrica e resíduos produzidos, bem como questões de inclusão e diversidade, são assuntos discutidos pelo grupo. “As questões ambientais ainda estão tímidas no entendimento dos colaboradores e do usuário, mas com informação isso pode mudar”, diz.

Desde 2021, as metas ESG passaram a impactar a remuneração dos executivos e colaboradores do Grupo Fleury, que pretende reduzir o índice de geração de resíduos biológicos em 14,12% até dezembro de 2023 e em 20,54% até dezembro de 2025.

Já as farmacêuticas estão de olho nas metas de diversidade e inclusão. O foco da Pfizer é a questão racial. Com 22% de colaboradores pretos ou pardos, a empresa busca a equidade racial para espelhar melhor a população brasileira – segundo o IBGE, 56,1% se autodeclaram pretos e pardos. “Queremos fazer uma mudança significativa na questão racial, inclusive em cargos de liderança”, diz Cristiane Santos Blanch, diretora de assuntos corporativos e comunicação. No mais recente programa de estágio, metade das 14 vagas foram reservadas a pretos e pardos, e a companhia também oferece cursos, capacitação e mentoria para os colaboradores que já estão na empresa. A ideia é seguir a trajetória usada para atingir a equidade de gênero. “Em 2008, quando começamos o trabalho, não tínhamos mulheres em cargos de liderança, e hoje temos 57%, incluindo a diretora financeira e a CEO”, ressalta Cristiane.

O UnitedHealth Group, que reúne a Amil e a rede de hospitais Americas, conta com seis grupos de diálogo com a participação de 700 colaboradores. A partir de um debate do grupo Melanina, de causas raciais, passou a adotar em sua rede de hospitais uma touca afro. O modelo padrão não atendia aos médicos, enfermeiros e demais funcionários com dreads, blacks ou tranças. “A ideia é tornar a experiência dos profissionais mais confortável, gerando bem-estar e sentimento de pertencimento”, conta o CEO Ricardo Bottas.

O grupo, que conta com 75,3% de mulheres no universo de seus 35.526 colaboradores no Brasil, dos quais 67,4% em posições de liderança, tem como meta de inclusão e diversidade fazer com que 50% das contratações de 2023 em cargos de gerência e diretoria sejam de um grupo diverso: a partir de 50 anos de idade, pessoas pretas ou pardas, mulheres, pessoas com deficiência ou LGBTQIAP+. Para os cargos executivos ou de liderança sênior, o número sobe para 75%. Outro compromisso é aumentar, dos atuais 446 para 830, o número de pessoas negras em cargos de liderança até 2030.

As seguradoras de saúde precisam implementar iniciativas para inaugurar o marco regulatório de sustentabilidade no setor. A Porto Seguro Saúde implantou em 2022 a primeira ambulância elétrica do Brasil, e no primeiro trimestre de 2023 digitalizou as carteirinhas, preservando dois milhões de litros de água e reduzindo a emissão de sete toneladas de gás carbônico na atmosfera. Uma das alternativas das seguradoras para inclusão de mais consumidores aos serviços de proteção financeira é a oferta de produtos mais acessíveis para clientes de baixa renda. Em parceria com hospitais, laboratórios e prestadores regionais, a SulAmérica alcançou 112,5 mil beneficiários do plano de saúde da linha Direto (produto regional com melhor custo-benefício) até o primeiro trimestre deste ano, um crescimento de 84% em relação ao mesmo período de 2022.

Na área social, as instituições de saúde encontram na parceria com o SUS e na telemedicina formas de ampliar o acesso da população aos cuidados médicos. Dos 20 mil colaboradores do Hospital Albert Einstein, 5 mil trabalham em 29 unidades públicas, como os hospitais Vila Santa Catarina e M’Boi Mirim, em São Paulo. Já por meio da telemedicina, a instituição realizou 80 mil consultas nos últimos dois anos nas regiões Norte e Centro-Oeste.

Na Favela dos Sonhos, em Ferraz de Vasconcelos (SP), onde o Fleury instalou uma cabine de telemedicina em parceria com a ONG Gerando Falcões, 86% dos casos são resolvidos pelo médico de família, sem a necessidade de passar por um especialista.

Mais recente Próxima Cobertura vacinal para tirar o atraso

Agora o Valor Econômico está no WhatsApp!

Siga nosso canal e receba as notícias mais importantes do dia!

Mais do Valor Econômico

TRF-3 confirmou sentença que apontou também crimes de desacato e lesão corporal

Atitude de passageira impedida de embarcar com bebida alcoólica em avião gera condenação por resistência

Em discurso nesta quarta-feira, vice-presidente do BoJ mostra cautela após estresse nos ativos globais

BC do Japão indica que não elevará os juros enquanto mercados estiverem instáveis

Danielle Franco, especialista em Direito Administrativo no GVM Advogados, conta neste artigo sobre ações que empresas com contratos com a administração pública podem e deveriam fazer para mitigar seu impacto ambiental

Contratos de concessão e seu potencial fomentador à transição energética

O colunista Thomas Nader aconselha leitor que não vê perspectiva de crescimento na empresa onde trabalha

O que fazer se me sinto estagnado na carreira?

Para Franco Berardi, a inteligência artificial pode ser ferramenta para o progresso desde que haja subjetividade social para governá-la

‘A razão hoje não é algo que pertença ao humano', diz filósofo italiano

‘Se eu virar padeiro e nunca mais trabalhar como ator, não vou me frustrar’, diz o vilão da próxima novela das sete da Globo, “Volta por Cima”

O ator que virou padeiro: após sucessos no cinema e na TV, Milhem Cortaz diz que está realizado

Nos anos 1990, Mônica e Clóvis Borges lideraram a busca por recursos internacionais para adquirir mais de 19 mil hectares de áreas no litoral do Paraná, hoje em processo de restauração

‘Temos um vício no Brasil de achar que plantar mudas salva o mundo’: o casal que comanda a conservação de áreas naturais há 40 anos

Em ‘Diários da assessora de encrenca’, a autora relata bastidores de turnês mundiais com Caetano Veloso e Gilberto Gil, além de dar indicações de bons restaurantes na Europa

O que faz de  Gilda Mattoso a relações públicas predileta de grandes artistas da música brasileira

A Corte analisa um recurso da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional que tenta reformar decisão do Tribunal Regional da 4ª Região

STF começa a julgar cobrança de IR sobre doação