Os indicadores que Santa Catarina conquistou em saúde nos últimos anos, somados ao elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado, têm atraído viajantes para o chamado “turismo de parto”, sobretudo para famílias russas que escolhem o Brasil para ter um bebê. Mãe de três filhos, Yulia Marchenko, de 38 anos, vive em Florianópolis há pouco mais de dois anos. A sua filha mais nova, Kira, nasceu na cidade. Ela conta que os motivos para escolher a capital foram o parto humanizado, atendimento público gratuito e a possibilidade de ter o bebê em casa.
“Isso é muito atraente. Uma mulher russa não está acostumada a cesariana, é importante para ela dar à luz naturalmente. Muitas russas aqui [em Florianópolis] dão à luz em casa com obstetras e doulas. A Rússia não tem partos domiciliares”, diz Yulia. A intenção era ter a filha e voltar para Rússia, mas ela e o marido retornaram à cidade, encantados pelo mar e pela acolhida. “Não somos estranhos aqui”, conta. Ela montou um café, e ele, uma empresa de mobilidade.
Yulia vê o movimento de russas ao Brasil como algo positivo, principalmente pelo atendimento na hora do parto. “Acho ótimo que as mulheres russas venham para cá e escolham o Brasil. Agora é muito popular”. Ela afirma que não tem reclamações de sua experiência na rede pública catarinense. “Foi excelente, a equipe me tratou bem”, conta. Em 2022, Florianópolis registrou apenas uma denúncia de violência obstétrica, segundo o Disque 100, e 31 casos de mortalidade materna em todo o Estado.
A decisão da família de Yulia não é isolada. A cidade foi muito procurada por casais russos nos últimos anos. De apenas um registro de bebê filho de russos em 2016, o número saltou para 121 em 2022, segundo a Arpen (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais). A Brazilmamma, uma das empresas que vendem pacotes de “turismo de parto” para russas, diz em seu site que dar à luz em clínica particular custa a partir de R$ 11 mil, e em casa, a partir de R$ 10 mil.
A enfermeira Marli Nascimento, especializada em obstetrícia, calcula ter auxiliado no parto de pelo menos 80 mulheres russas no ano passado. “Elas procuram muito o Brasil pelo parto natural, que ainda é muito forte”, afirma.
De acordo com o Itamaraty, russos não precisam de visto para entrar no Brasil e têm estadia permitida por até 90 dias. Para o professor Fernando Hellmann, do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a vinda de casais russos também envolve questões geopolíticas, como a possibilidade de obter o passaporte brasileiro, que dá livre circulação na América do Sul. “Esse turismo médico é um problema geopolítico e [muitos] estão em busca de um passaporte. O Brasil tem boa relação com muitos países”, afirma o professor.