“O mercado de reciclagem está em colapso comercial, ambiental e tributário”. A frase é de Aline Sousa. A ativista - uma das pessoas que entregaram a faixa presidencial a Lula na cerimônia de posse, em janeiro - preside pela terceira vez a Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis do Distrito Federal e entorno (CentCoop-DF). Ela atua no Movimento Nacional de Catadores, integra a Secretaria Nacional da Mulher e Juventude da Unicatadores e é representante do Brasil na Aliança Internacional de Catadores.
Souza luta para obter uma renda mínima para os catadores. “O trabalhador que coleta resíduos presta um serviço ambiental valioso aos governos e à sociedade, tirando o lixo das ruas e encaminhando-o para a reciclagem”, diz. “Sabemos que a maioria vive na informalidade, abaixo da linha de pobreza, ganhando uma média de R$ 250 por mês. É muito pouco.”
A proposta levada aos governos das três instâncias, além de empresas, prevê que cada catador receba um salário mínimo, com garantias trabalhistas. “Não se trata de assistencialismo, mas de pagamento pelo trabalho, até porque um dos pontos principais é o incentivo à produção. Tivemos o cuidado de incluir no plano mecanismos de remuneração que funcionam no mercado corporativo”.
O Anuário da Reciclagem, compilado pela Associação Nacional de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), de 2021, informa existirem cerca de 10 mil trabalhadores cadastrados no setor, mas o número real, segundo Sousa, esbarra em 1 milhão. “Não basta doar os materiais recicláveis. Temos que conferir cidadania digna aos catadores”, afirma.
Para Carlos Silva Filho, presidente no Brasil da International Solid Waste Association (ISWA), o país pode mudar de patamar em termos de reciclagem em pouco tempo. “Podemos transformar o setor, ainda muito informal e fragmentado, com a profissionalização desses trabalhadores, unidos em cooperativas, em colaboração com empresas de limpeza urbana e municípios”, afirma. O dinheiro para os programas poderá vir de fontes diversas, de alocações de verbas públicas a parcerias com a iniciativa privada.