Revista Sustentabilidade
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Por Lúcia Helena de Camargo


Alves, da Ellen MacArthur na AL: poucas fontes no país de recursos — Foto: Divulgação
Alves, da Ellen MacArthur na AL: poucas fontes no país de recursos — Foto: Divulgação

“Se a humanidade quiser sobreviver no longo prazo, terá que eliminar o conceito de lixo”, diz João Amato, professor de economia circular na Fundação Vanzolini. “Precisamos acelerar a transição da atual economia linear, baseada em extrair, consumir e gerar resíduos, para a economia circular, na qual tudo entra novamente no ciclo produtivo”, afirma. Uma iniciativa recente, que busca imprimir velocidade à transformação, é a plataforma Circular Startup Index, base de dados que conecta startups a investidores, lançada oficialmente em maio pela Fundação Ellen MacArthur, principal referência internacional em economia circular.

“Nosso objetivo é facilitar as conexões entre financiadores e empresas que ofereçam soluções alinhadas aos princípios da economia circular: a eliminação de resíduos e poluição, a circulação de produtos e materiais em seu mais alto valor e a regeneração da natureza”, diz Gustavo Alves, gerente de inovação e comunidade para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur. Já integram o banco de dados mais de 500 startups, sendo 66 de países da América Latina, entre eles Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, México e Peru. Dessas, 27 são empresas brasileiras.

Alves considera a inovação um ponto positivo na conjuntura brasileira no rumo da economia circular. No campo dos investimentos, porém, enxerga um “cenário receoso”, com poucas fontes de injeção de recursos. “Temos o desafio de evidenciar às empresas e investidores que, para atingirem suas metas climáticas, precisam ir além das soluções de fim de cadeia (como a reciclagem), implementando iniciativas concebidas para não gerar resíduos.”

Uma das startups que integram a plataforma da fundação britânica é a B.O.B. O nome da empresa é um acrônimo da expressão em inglês “bars over bottles”, que consiste o coração do negócio: a substituição de frascos, potes e garrafas por barras. São vendidos nesse formato produtos como xampu, condicionador, desodorante, creme hidratante e outros cosméticos. “Se algo é líquido, é porque tem água dentro. E para carregar a água é necessária uma embalagem impermeável, de plástico ou vidro, que consome energia no transporte, será descartada em pouquíssimo tempo e levará centenas de anos para se degradar ou precisará de uma logística reversa séria para ser reintegrada à cadeia produtiva”, diz Victor Lichtenberg, CEO da empresa.

Saraceni, do  Movimento Circular:  aposta na  conscientização  do público  — Foto: Divulgação
Saraceni, do Movimento Circular: aposta na conscientização do público — Foto: Divulgação

“Com água encanada nos locais de uso dos produtos, nada disso faz sentido. Os produtos são feitos de extratos naturais e embalados em papel biodegradável”, destaca. “Quando paramos para olhar a montanha de resíduos de embalagens que geramos diariamente, fica claro que a solução não está em reciclar, mas na eliminação em si”, afirma Andreia Ulson, a Chief Marketing Officer (CMO).

Aberta em novembro de 2019, a B.O.B. faturou R$ 11 milhões em 2020. No ano seguinte, foi transformada em sociedade anônima. Segundo Lichtenberg, a expectativa é obter receita de R$ 40 milhões neste ano, sendo 30% do valor da operação internacional, iniciada em janeiro de 2022, com a loja aberta em Orlando, nos Estados Unidos, que chegou a US$ 1 milhão em vendas no primeiro ano. Em julho, a empresa iniciou atividades em solo europeu, na Estônia. “Temos 175 mil clientes ativos e vendemos 750 mil barras desde o início; com isso, foi poupado o uso de 5 milhões de garrafas de 200 mililitros, o que resultou em 60% menos emissões de carbono.”

Os produtos da B.O.B. nascem com o ecodesign intrínseco, qualidade que o professor Amato julga essencial para alavancar a economia circular. “O ideal é conceber processos produtivos do berço ao berço, com máxima eficiência no uso de matéria-prima, água e energia.”

Mas há outras áreas a explorar para avançar, como o negócio das Indústrias Fox, cuja receita vem 100% da reinserção no mercado de componentes de aparelhos descartados. Criada em 2010 para operar a logística reversa de resíduos eletroeletrônicos, em razão da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a empresa processou desde então 1,2 milhão de equipamentos entre geladeiras, freezers, condicionadores de ar, outros aparelhos da linha branca e pequenos eletrodomésticos.

Embora não tenha o percentual da representatividade desse número sobre o total da produção brasileira, a remanufatura evitou emissões de gases de efeito estufa de cerca de 1,8 milhão toneladas de CO2 equivalente, com laudos comprovados por entidades credenciadas pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), segundo Marcelo Souza, CEO da empresa. “Passam por nossas oficinas desde antigos discmans até modernos smartphones”, diz. “O processo nos permite a produção de créditos de carbono, que são comercializados no mercado europeu desde 2011.”

O faturamento foi de R$ 50 milhões no ano passado. A expectativa para 2023 é superar R$ 80 milhões, chegando a R$ 100 milhões em 2024, com a previsão da abertura de novas fábricas.

Outra startup brasileira, que consta da base de dados da fundação Ellen MacArthur, é a eureciclo, cujo negócio é baseado na compensação correta de resíduos, com emissão de certificados de reciclagem rastreáveis. Criada em 2014, teve crescimento rápido: em 2017 contava com 137 clientes; hoje, supera os 7 mil. Segundo o CEO Thiago Carvalho Pinto, a empresa mantém parcerias com mais de 480 operadores, organizações de catadores e centrais de triagem no país, com presença em 26 Estados e no Distrito Federal, além de uma operação no Chile (onde atua com o nome ‘todos reciclamos’, com 300 clientes) e projetos na França. “Desde 2016, foram compensadas mais de 828 mil toneladas de resíduos e distribuídos mais de R$ 50 milhões a centrais de triagem, impactando a renda de mais de 14 mil famílias”, afirma Carvalho Pinto.

Os segmentos que mais cresceram em termos de compensação ambiental de resíduos via eureciclo foram o de cosméticos, com alta de 320% entre 2019 e 2022, equivalentes ao volume de 21 toneladas, e os produtos de limpeza, que enviaram para a logística reversa 84 mil toneladas no período, variação positiva de 327%. “Acreditamos em um futuro no qual a logística reversa, a educação ambiental e a inclusão social sejam o tripé de uma nova sociedade, com a cadeia produtiva rumando à circularidade”, afirma Carvalho Pinto.

A área de embalagens de agrotóxicos, muito poluente, busca a circularidade para além do cumprimento da lei, que estabelece a responsabilidade compartilhada entre os elos da cadeia. O Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) faz a gestão do Sistema Campo Limpo (SCL), programa de logística reversa de embalagens vazias de defensivos agrícolas, integrando 160 fabricantes, canais de distribuição, 260 associações de revendas e cooperativas. Com 400 unidades de recebimento, o sistema processa embalagens de 2 milhões de propriedades rurais no país. A entidade não possui o dado sobre a totalidade das embalagens que chegam ao mercado, mas segundo Marcelo Okamura, presidente do inpEV, o SCL promove a destinação ambientalmente correta de 100% das embalagens plásticas que recebe, encaminhando 93% para reciclagem e 7% para incineração.

Desde o início de suas operações, em 2002, até dezembro de 2022, a instituição destinou corretamente 700 mil toneladas de embalagens, sendo que foram 52,5 mil toneladas apenas em 2022. O material se transforma em 33 diferentes artefatos, como tubos de esgoto e outros produtos para a construção civil. Okamura relata que estudos realizados anualmente pela Fundação Espaço Eco mostram que a operação evitou a emissão de 974,1 mil toneladas de CO2 à atmosfera, de 2002 a 2022, volume que seria equivalente a 18 mil viagens de caminhão ao redor da terra.

Vinicius Saraceni, coordenador do Movimento Circular, aposta na crescente conscientização do público para fazer avançar a pauta da economia circular no país. “Em três anos de atuação, alcançamos 2 milhões de pessoas no Brasil e no exterior, levando orientação sobre a transição da economia linear para a circularidade, usando como ferramentas educação e cultura, incentivando o desenvolvimento sustentável de novos processos, produtos e atitudes para uma sociedade sem desperdícios”, diz. A instituição promove o Prêmio Mundo sem Lixo e o Desafio Circular, que premiam projetos de economia circular criados por estudantes da América Latina. Saraceni celebra 265 mil acessos à plataforma em português, inglês e espanhol, 60 parcerias e 60 ações com parceiros, 2,4 mil inscritos na Circular Academy e 12 mil usuários dos recursos educacionais.

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