Revista Sustentabilidade
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Por Anna França


Plantio de eucalipto no Brasil tem alta produtividade — Foto: Divulgação
Plantio de eucalipto no Brasil tem alta produtividade — Foto: Divulgação

Há quase quatro décadas o setor de papel e celulose resolveu investir para mudar sua imagem de indústria altamente poluidora. Com uso de novas tecnologias, revisou processos de produção, reduzindo o uso de água, produtos químicos e energia usada na extração de celulose da madeira e no seu branqueamento. Com base nesse avanço, a indústria se tornou referência na temática ESG (sigla em inglês para meio ambiente, social e governança).

O Brasil tem quase 10 milhões de hectares cultivados, uma área maior do que o Estado do Rio de Janeiro, e outros 6 milhões de hectares destinados à conservação de florestas nativas. Assim, o setor consegue estocar quase 4,5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalentes (CO2eq), medida de carbono retirada da atmosfera pelas florestas.

Com isso, o país se consolidou como o maior produtor e exportador de celulose do mundo em 2022, atingindo receita anual de R$ 250 bilhões e produção de 25 milhões de toneladas da fibra, alta de 10,9% frente a 2021. Já as exportações deram um salto de 22%, alcançando 19,1 milhões de toneladas embarcadas, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).

Nesta jornada, quatro pilares foram fundamentais: carbono estocado em florestas; carbono removido pelas florestas manejadas durante o crescimento das árvores; emissões evitadas pelo uso de energia renovável; e estoque de carbono em produtos de origem florestal. De acordo com a Ibá, 73% das empresas do setor possuem inventário de emissões e 50% publicam resultados.

A produtividade do eucalipto, uma das mais altas do mundo, atinge 35,3 metros cúbicos por hectare ao ano, um salto de 47% desde 1980. Além disso, o prazo de colheita diminuiu. “Enquanto na Austrália, local de origem da espécie, gira em torno de 13 ou 14 anos, no Brasil, as empresas colhem em sete anos”, diz o diretor-executivo da Ibá, José Carlos da Fonseca Jr.

Maior produtora de celulose do mundo, a Suzano está investindo R$ 22,2 bilhões em uma nova unidade no Mato Grosso do Sul. Quando estiver pronto, em 2024, o Projeto Cerrado produzirá 2,55 milhões de toneladas de celulose ao ano, ampliando a capacidade da empresa para 13,5 milhões de toneladas anuais. A planta utiliza gaseificação na biomassa para substituir o combustível fóssil em seus fornos, tornando-se autossuficiente na geração de energia. Conforme o presidente da Suzano, Walter Schalka, tudo isso conferiu uma competitividade que começa com as árvores, passa por investimentos na operação industrial até a logística. “A América do Sul atingiu um patamar que é muito difícil de ser replicado”, afirmou o executivo em evento recente do setor.

A virada do jogo, de acordo com a diretora de comunicação e sustentabilidade da Suzano, Marcela Porto, veio com a criação da certificação da produção pelo Conselho de Manejo Florestal (FSC), organização não governamental criada em 1994 para garantir a rastreabilidade. Atualmente, os fabricantes do setor destinam até 2% da receita para investir em novas soluções de conservação.

Com o maior aporte de sua história, de R$ 12,9 bilhões, a Klabin concluiu em junho o Puma II. Localizado no Paraná, o projeto incluiu duas máquinas, sendo uma de Eukaliner, um papel Kraftliner feito 100% com fibras de eucalipto que é patenteado pela Klabin e que exige menos gasto energético para ser produzido. Por ações como essas, a empresa integra, pelo terceiro ano consecutivo, o Índice Dow Jones de Sustentabilidade. A companhia já possui balanço positivo de carbono e tem como meta reduzir 25% de suas emissões até 2025, chegando em 49% até 2035, segundo o gerente de sustentabilidade, Júlio Nogueira.

Nascida há 50 anos no Chile como um projeto de reflorestamento de áreas degradadas de minas de sal, a Arauco planeja investir US$ 3 bilhões em uma fábrica de celulose no Mato Grosso do Sul. A previsão é de que as obras tenham início em 2025, segundo o diretor de desenvolvimento e novos negócios, Mário Neto.

A expectativa é entrar em operação no primeiro trimestre de 2028, com capacidade para 2,5 milhões de toneladas/ano de celulose de fibra curta. “Hoje toda operação é carbono neutro, com 70% de plantio comercial e 30% de mata nativa”, afirma.

Os investimentos das empresas incluem pesquisas para se evitar a chamada desertificação que, segundo ambientalistas, as plantações de eucalipto provocam no solo. O setor utiliza hoje o esquema de mosaico, que prevê o plantio de espécies nativas entremeadas com os eucaliptos, dando mais qualidade ao solo, segundo o vice-presidente de sustentabilidade e comunicação da Bracell, Márcio Nappo.

As pesquisas também avançam no desenvolvimento de clones de plantas mais eficientes, bem como novos usos para a celulose. A Bracell aposta na celulose solúvel destinada às indústrias têxtil, farmacêutica, de tissue, ou papéis higiênicos, e papelão. Segundo Nappo, a unidade em Lençóis Paulista (SP) já consumiu R$ 15 bilhões. “É uma planta que pode produzir até 3 milhões de toneladas de papel kraft (papel, papelão e tissue) e 1,7 milhão de celulose solúvel, reaproveitando tudo”, diz.

A Dexco também se interessou pelos subprodutos da celulose. Por isso, a empresa do grupo Itaúsa fechou uma joint venture com a austríaca Lenzing para a criação da LD Celulose. O projeto consumiu US$ 1,8 bilhão e entrou em operação este ano em Minas Gerais, com capacidade de até 500 mil toneladas de celulose solúvel, que vão abastecer as fábricas da Lenzing na Europa. A fibra se torna um fio, conhecido como tencel, muito usado pela indústria de roupas para substituir fibras sintéticas e até o algodão, garantindo conforto térmico, maciez e durabilidade. Foi uma sinergia feliz, segundo o gerente de ESG e RI, Guilherme Setúbal. “Tínhamos uma base grande de 43 mil hectares, preparada para a expansão de painéis. Mas com a diminuição do consumo procuramos outros usos.”

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