Para as empresas, elas proporcionam ganho de imagem e reputação, reduzem custos, aumentam a eficiência operacional e as possibilidades de acesso a mercados exigentes, além de atrair mais clientes e investidores. Para as pessoas, asseguram melhorias sociais e qualidade de produtos e serviços. O grande beneficiado pelas certificações, contudo, é o planeta: para alcançar e manter qualquer tipo de certificação de aderência à sustentabilidade é preciso assumir compromissos sérios de preservação do meio ambiente. “É obrigatório apresentar evidências e dados dos critérios escolhidos, o que pode ser um desafio, especialmente quando se trata de indicadores subjetivos como impacto social ou ambiental”, diz Tiago Casemiro, gerente comercial da Associação Portuguesa de Certificação (Apcer). “A adequação às metas pode exigir investimentos significativos em tecnologia, infraestrutura, processos internos e treinamento, uma preocupação das empresas, em especial as de pequeno porte”, diz Felipe Augusto Faria, CEO do Green Building Consulting Brasil (GBC), organização que trabalha pela sustentabilidade no setor de construção.
Apesar de limitadores, tais desafios não têm afetado a decisão de empresas de seguir esse caminho. Na Natura &Co, os esforços envolvem, além da Natura, a The Body Shop e a Avon, duas outras companhias do grupo. “Em 2020 chegamos à terceira certificação de Empresa B, conquistada em 2014 e renovada em 2017, com a maior pontuação de nossa série histórica (153 pontos) e uma das poucas empresas do mundo a pontuar em sete modelos de negócio de impacto: desenvolvimento de funcionários, redução, remediação e conservação de recursos, solo e vida silvestre, redução de toxinas e em processos de fabricação ecológicos inovadores “, diz Angela Pinhati, diretora de sustentabilidade de Natura &Co América Latina.
Neste ano, a companhia alcançou a sexta recertificação para a linha Natura Ekos, concedida pela União para o Biocomércio Ético (UEBT, na sigla em inglês) – que assegura o fornecimento ético dos bioativos com respeito à biodiversidade e às pessoas, gerando renda e condições seguras de trabalho para as comunidades de sua cadeia produtiva. No ano passado, recebeu a certificação internacional Roundtable on Sustainable Palm Oil, de cadeia de custódia em suas plantas de Cajamar (SP) e Benevides (PA), que garante a rastreabilidade dos derivados de palma. A empresa tem ainda selos ligados à proteção animal, como o The Leaping Bunny, fornecido pela organização Cruelty Free International, que identifica produtos que não são testados em animais, e a da People for the Ethical Treatment (Peta), que atesta segurança e eficácia de produtos e matérias-primas sem crueldade animal.
Além da B-Corp, a The Body Shop tem a certificação da The Vegan Society, concedida a produtos que não contêm ingredientes de origem animal e não são testados em animais. A meta, segundo Paula Pimenta, gerente geral Latam, é que, até o fim do ano, todo o portflólio seja 100% vegano – hoje 60% das fórmulas da marca são veganas. A Avon ainda espera, para 2025, o selo B-Corp. No campo da proteção animal, a categoria maquiagem da marca já validou os processos e prevê para 2024 a obtenção do selo Leaping Bunny, diz Daniel Silveira, vice-presidente de marca, marketing e inovação da Avon Latam. Desde julho linhas de perfumaria Avon Fragrance e de cuidados com a pele (Avon Care e Renew) já usam o selo. Esse leque de certificações tem feito o grupo ganhar reputação não só com consumidores, mas com o mercado financeiro. “Ao mostrar o alinhamento das empresas com valores socioambientais, aumentamos a confiança do mercado”, diz Pinhati.
A Vivo também inclui a satisfação de stakeholders entre as vantagens das certificações. Segundo Ana Letícia Senatore, gerente de meio ambiente da Vivo, os clientes, especialmente os empresariais, valorizam compromissos com a redução de impactos ambientais relativos à operação, como a geração de resíduos sólidos, emissões atmosféricas, de ruído e radiação. A companhia tem uma série de ISOs – certificações conquistadas e, no Brasil, oferecidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), após um processo de avaliação das empresas em relação ao cumprimento de normas e padrões internacionais de qualidade e atuação. “Além da ISO 14000, temos as certificações ISO para saúde e segurança ocupacional, responsabilidade social, gestão de energia, segurança da informação, gestão de vulnerabilidades e de diretrizes para o sistema de compliance”, diz Senatore.
Com critérios específicos para promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais, gerar benefícios sociais e reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa, a Imaflora fornece certificações como FSC, Rainforest Alliance e PEFC, das siglas em inglês para Programa para o Reconhecimento da Certificação Florestal. Também faz verificações privadas e específicas como Practices, Tripleway, Selo Elos e FSA/SAI tanto para pequenos agricultores familiares e comunidades amazônicas quanto para grandes indústrias de alimentos, traders de commodities agrícolas, fazendas e grandes cooperativas. “Nos últimos três anos crescemos 30%, o que representa o fornecimento de 500 certificados para um total de 5 milhões de hectares”, diz Luiz Iaquinta, gerente de certificação socioambiental no Imaflora.
Como Iaquinta, Faria, do GBC, observa maior interesse por certificações do setor. “Tivemos um recorde de 219 novos projetos registrados em 2022, ritmo que está se mantendo neste ano, e percebemos uma elevação do nível técnico do mercado: 10% do total de certificações no Brasil para os green buildings são para o nível mais alto, o platina”, diz. O GBC oferece a construções sustentáveis os selos Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), GBC Casa & Condomínio, para o setor residencial e o Zero Energy. O GBC tem 2.300 empreendimentos registrados dos quais cerca de mil estão certificados.