O centro logístico da Scania, localizado em Vinhedo (SP), responde por todo o abastecimento de peças de reposição pós-venda da rede de concessionárias e dos clientes da montadora para a América Latina, além de atender fluxos logísticos com a Bélgica e a África do Sul. Diariamente, são movimentadas 42 mil peças para reposição ou armazenamento na unidade, que mantém cerca de 40 mil itens disponíveis, que são levadas a 180 pontos no Brasil, além dos destinos internacionais.
Mas a Scania quer mais. A empresa está investindo R$ 65,7 milhões na ampliação do centro logístico, para aumentar em 50% a capacidade física da unidade. Segundo Paulo Moraes, vice-presidente de vendas e marketing da companhia para a América Latina, as obras devem ser concluídas até o fim de 2025. Ele acredita que o investimento vai melhorar a experiência dos clientes, permitirá atender novos mercados e vai preparar o centro logístico para o avanço dos veículos elétricos.
Para Moraes, a facilidade no deslocamento foi decisiva na mudança da operação, de São Bernardo do Campo para Vinhedo, em 2013. “Estamos perto de Campinas, que tem muito potencial logístico e é um polo de tecnologia. Há conexão direta com as principais rodovias e com o Aeroporto de Viracopos e um rápido acesso ao Rodoanel, o que reduz o custo e o tempo da entrega de peças”, explica.
A ampliação da unidade da Scania reforça um movimento de aceleração nos investimentos em centros de distribuição e logística no país. A busca por capilaridade é um dos fatores que impulsionam o mercado. A RD-Raia Drogasil inaugurou, em 2023, centros em Cuiabá (MT), Manaus (AM) e Benevides (PA).
“Buscamos repor amanhã tudo que foi vendido hoje. Fazemos isso em cerca de 90% de nossas farmácias”, diz Eduardo Freme, diretor de planejamento e desenvolvimento logístico da RD-Raia Drogasil. Ele explica que os investimentos logísticos vão continuar.
“No ritmo atual de abertura de quase 300 farmácias por ano, a expansão de CDs é uma peça-chave para a RD”, afirma. A empresa também fará investimentos em tecnologia nos centros que já estão em operação. “Temos ainda um projeto importante de revisão de nossa malha logística, que deve nos ajudar a evoluir na forma que pensamos a localização de nossas operações e estoques.”
Já a Cantu Grupo Wine inaugurou em fevereiro um novo centro de distribuição em Itajaí (SC), praticamente dobrando o número de docas de envio e recebimento para oito e aumentando sua capacidade de 1,8 mil para 3,6 mil posições de paletes. Assim espera atender cerca de seis mil clientes em todo o país.
German Garfinkel, diretor de supply chain e B2B do Grupo Wine, entende que o investimento era necessário para evitar problemas no atendimento aos clientes da empresa. “Os restaurantes trabalham com estoques pequenos de vinhos, então as entregas precisam ser muito ágeis, em um mercado muito pulverizado”, explica.
Garfinkel conta que, além de uma estrutura de cross docking em São Paulo, para simplificar as entregas no mercado paulista, a empresa está investindo na construção de mais uma operação desse tipo, em Belo Horizonte, para agilizar o atendimento no mercado mineiro. Novos investimentos em outras regiões não estão descartados. As oportunidades, porém, serão avaliadas com parcimônia. “Primeiro, vamos terminar esse investimento e consolidar a nova operação em Itajaí”, diz Garfinkel.
Para Gilberto Lima, CEO da operadora ID Logistics no Brasil, a demanda crescente por infraestrutura logística tanto no B2C (Business to Consumer) quanto no B2B (Business to Business) impulsiona essa expansão. “Esperamos crescer 20% ao ano no Brasil, nos próximos dois anos”, diz Lima. Para isso, a empresa conta com projetos para novos centros de distribuição, possivelmente em São Paulo, Minas Gerais e Goiás.
Além disso, a ID Logistics vai assumir a operação do primeiro centro de distribuição da Wella Company no Brasil, o terceiro maior da companhia de cosméticos em todo o mundo. A unidade, em Minas Gerais, ocupará 12 mil m² de área construída, com uma capacidade de armazenamento para cerca de 14 mil posições de paletes e para movimentar até 120 mil caixas por mês, além de infraestrutura diferenciada para acondicionar produtos em aerossol e inflamáveis.
O novo centro fica em Extrema, no sul de Minas que está próximo aos principais mercados do país e com acesso por importantes rodovias. A cidade ainda tem um outro fator importante de atração: benefícios fiscais. As vantagens tributárias oferecidas pelo Estado têm atraído grande número de empresas para a região.
Entre os projetos recebidos por Extrema, está o novo centro de distribuição da Adidas, operado pela DHL Supply Chain e inaugurado em janeiro. Com um investimento de R$ 70 milhões, o novo CD é a âncora do campus logístico da DHL no sul de Minas e será o principal hub logístico da fabricante de materiais esportivos no país.
Sérgio Luciano Correia, diretor sênior de operações da DHL Supply Chain Brasil, diz que os benefícios fiscais influenciaram a decisão, mas não são o único fator. “Há outras variáveis, como o nível de serviço, a proximidade dos mercados-alvos, os custos de frete e se a operação envolve importação”, enumera.
Correia observa ainda que o peso dos benefícios fiscais varia de acordo com o tipo da operação e as características de cada cliente. E acrescenta que o cenário poderá mudar nos próximos anos, em função da reforma tributária.
Enquanto isso, os investimentos continuam aquecidos, especialmente nos segmentos de fármacos e varejo, aponta Correia. O diretor da DHL destaca também a importância dos aportes em tecnologia para tornar os centros cada vez mais eficientes. “Nosso CD com a Adidas conta com uma torre de controle que supervisiona a operação e gera insights para melhorias no funcionamento do centro”, explica.
Fábio Fialho, CMO da operadora logística Infracommerce, concorda que a evolução tecnológica favorece a expansão dos centros de distribuição. “O uso de tecnologias de inteligência de estoque, aliado a sistemas de predição de demanda, ajuda a buscar o melhor posicionamento para o CD”, diz.
Fialho acredita que o mercado brasileiro vive um momento de descentralização. “Antes, as empresas buscavam escala. Por isso houve grande concentração. Mas a tecnologia virou o jogo e viabilizou operações descentralizadas, que aproximam os centros dos seus consumidores finais, para reduzir o custo logístico e acelerar o atendimento.” Esse movimento abre oportunidades para novos modelos que atendam, especialmente, empresas de médio porte.