O comércio internacional aéreo enfrentou um cenário desafiador em 2023. Segundo a Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata, na sigla em inglês), a demanda global no ano passado caiu 1,9%, com retração de 2,2% nas operações internacionais, por fatores como inflação e juros elevados em diversos países, além das guerras Rússia-Ucrânia e na Faixa de Gaza.
No Brasil, a movimentação aérea de carga e correio recuou 3% em 2023, na comparação com o ano anterior, chegando a 1,248 milhão de toneladas, de acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O vilão foi o mercado internacional, com retração de 6,2%, para 804,6 mil toneladas. Já no segmento doméstico, houve avanço de 3,3%, somando 444,2 mil toneladas transportadas. Logo no começo deste ano, houve uma retomada. Dados da Anac de janeiro de 2024 revelam alta de 1,7% na movimentação total de carga e correio sobre igual mês de 2023.
“A aviação é um dos termômetros econômicos. O que sempre aumenta a demanda de passageiros e carga é a economia”, diz Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes. Segundo ele, com a inflação das economias mais avançadas desacelerando – o que vem se confirmando nos Estados Unidos, União Europeia e Japão nos últimos meses –, deve haver recuperação do comércio internacional, com os reflexos positivos no Brasil.
O GRU Airport, em Guarulhos, registrou 664,5 mil toneladas de cargas em 2023, 4% acima de 2022. “Apesar do cenário de importação menos aquecido, esse crescimento foi impulsionado pelo e-commerce, em expansão no país”, diz João Pita, diretor comercial e de cargas do GRU Airport. Para 2024, as perspectivas são positivas.
Também no Estado de São Paulo, o Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, sentiu as adversidades do comércio global. O total movimentado caiu 16% em 2023 em relação a 2022, para 299,6 mil toneladas de cargas. Há indicativos de retomada, porém existem questões a serem acompanhadas, como as situações de tensão no Oriente Médio e na Ucrânia, afirma Maria Fan, diretora comercial. A concessionária Aeroportos Brasil Viracopos investiu no ano passado R$ 15 milhões na reforma da estrutura da cobertura do terminal de cargas, que atende as áreas de tecnologia, metal-mecânico, químico e farmacêutico. O terminal também tem se consolidado como hub para exportação de frutas e se tornou porta de entrada de equipamentos de grandes eventos como Rock in Rio, Lollapalooza e Fórmula 1.
Já o RIOgaleão Cargo movimentou 51,2 mil toneladas em importação e exportação em 2023, ante 55 mil no ano anterior, e mais de nove mil toneladas de carga doméstica. As cargas importadas, maior parcela da operação, avançaram 14%, totalizando US$ 11,1 bilhões, diz Leandro Lopes, gerente comercial. Segundo ele, a mudança regulatória que determinou a coordenação dos aeroportos do Rio de Janeiro, com maior fluxo de voos para o Galeão, também tem gerado aumento de carga doméstica. Em janeiro, o salto foi de 273%.
No Aeroporto Internacional de Brasília, a alta de 5% no volume das cargas em 2023 foi motivada pela expansão do e-commerce no Centro-Oeste. O destaque no início do ano foi o retorno da operação cargueira da Latam com origem em Miami, duas vezes por semana, para atender remessas expressas e cargas farmacêuticas, hoje o principal segmento atendido no aeroporto.
A projeção de crescimento de 9% em vendas do setor farmacêutico no Brasil, feita pelo Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos do Estado de São Paulo (Sindusfarma), tem justificado investimentos logísticos. Por conta da demanda crescente, o Aeroporto Internacional Santa Genoveva, em Goiânia, está finalizando a construção de um terminal de cargas farmacêutico, com mais de 6 mil m², totalmente climatizado. “O Centro-Oeste tem uma indústria farmacêutica pujante e, por isso, desenvolvemos este projeto, com soluções personalizadas”, diz Monique Henriques, diretora comercial da CCR Aeroportos, concessionária que administra o aeroporto.
No Norte, a movimentação de carga no Aeroporto de Manaus caiu 4% em 2023, para 129 mil toneladas. O terminal de cargas da capital amazonense, terceiro maior do país, atende principalmente a Zona Franca e segmentos que tiveram queda nas vendas em 2023.
No ano passado, a Latam Cargo transportou 111 mil toneladas no mercado doméstico, menos 13,9% ante 2022. No mercado internacional, o volume variou pouco (150 mil toneladas em 2023, ante 149 mil toneladas no ano anterior). Otávio Meneguette, diretor da Latam Cargo Brasil, diz que a empresa projeta para este ano crescimento entre 10% e 12% de toneladas por quilômetros disponíveis (ATK).
A Latam Cargo anunciou investimentos no Norte. “A partir de abril, passaremos a operar a nova rota cargueira Guarulhos-Belém-Manaus, uma vez por semana, com aeronaves cargueiras Boeing 767-300F”, afirma Meneguette. O resultado será a duplicação da capacidade para a capital paraense. No começo de março, a empresa ampliou de seis para nove as frequências cargueiras semanais com destino a Manaus.
Já a Gollog encerrou 2023 com avanço de 75% em carga transportada sobre o ano anterior, somando 100,7 mil toneladas. No período, entraram mais cargueiros em operação. Para 2024, a empresa prevê crescimento expressivo. Segundo Rafael Martau, diretor-executivo, o fato de a Gol ter entrado em recuperação judicial (nos Estados Unidos) não vai comprometer as atividades. “Todos os investimentos planejados para a Gollog estão confirmados.”
Com uma logística abrangente e capilaridade de rede, as receitas domésticas da Azul Cargo subiram 7% em 2023. Novos terminais foram construídos em Vitória, Belo Horizonte e Congonhas. Em 2024, serão inaugurados terminais em Guarulhos, Viracopos e Recife. “Estamos focados em investir em infraestrutura e em soluções logísticas inovadoras”, afirma Izabel Reis, diretora da Azul Cargo. Uma das iniciativas para aumentar a produtividade foi a ampliação da frota com cargueiros classe F, aeronaves E195 transformadas para o transporte de cargas. “Essa estratégia proporciona eficiência e flexibilidade na utilização da nossa frota, permitindo adaptação rápida às necessidades do mercado.”