Revista Inovação
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Por Lauro Veiga Filho


Lavoura de milho que usa soluções biológicas da Corteva — Foto: Stevanovic Igor/Divulgação
Lavoura de milho que usa soluções biológicas da Corteva — Foto: Stevanovic Igor/Divulgação

O Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA) passará nos próximos meses por um processo amplo de reestruturação, com o objetivo de reforçar investimentos e acelerar a geração de inovações que tornem mais sustentável a produção de alimentos no país. Formado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), organizações estaduais de pesquisa, universidades e organizações públicas e privadas com atuação no setor, o sistema deve se consolidar como “uma grande plataforma colaborativa, integrada e articulada com o setor produtivo”, diz Clenio Pillon, diretor de pesquisa e inovação da Embrapa. A comissão de cinco especialistas criada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para reformular o sistema, sob liderança do ex-presidente da Embrapa Sílvio Crestana, entregou seu relatório ao ministério no começo de outubro, segundo Pillon.

A proposta é assegurar maior robustez ao sistema e está sendo discutida internamente pela Embrapa, que iniciou o processo de atualização de seu planejamento estratégico. As mudanças de rumo, no entanto, começaram antes. Neste ano, o orçamento da empresa para ações de pesquisa, desenvolvimento e inovação saltou de apenas R$ 20 milhões no passado para algo próximo a R$100 milhões, lembra Pillon. Além disso, a nova diretoria executiva da Embrapa negociou o ingresso da empresa no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), assegurando o acesso a quase R$ 985 milhões, dos quais R$ 150 milhões serão direcionados para as organizações estaduais de pesquisa agropecuária. “Isso vai nos permitir fazer uma modernização dos nossos laboratórios e dos nossos campos experimentais. Há muito tempo a Embrapa não acessava recurso tão importante”, relata.

Neste momento, a empresa desenvolve um robusto portfólio de projetos voltados para a agricultura de conservação como estratégia para entregar tecnologias que permitam ao agronegócio enfrentar as mudanças no clima e produzir mais alimentos de forma sustentável, sem pressionar os biomas. Além de segurança alimentar, diz Pillon, o propósito é assegurar soberania na produção de alimentos e na área do conhecimento aplicado à agropecuária. A área de melhoramento genético desenvolve 93 projetos para a agricultura e a pecuária. A plataforma de bioinsumos, envolvendo bioinoculantes, biofertilizantes, biofungicidas e outros produtos de base biológica, prossegue Pillon, inclui em torno de 110 projetos para desenvolvimento de mil insumos para uso agrícola.

O desenvolvimento de bioinsumos, entre outros propósitos, busca reduzir a dependência a fertilizantes importados. “Até temos segurança alimentar, porque produzimos 1,5 tonelada de grãos por habitante/ano diante de apenas meia tonelada na década de 1970. Mas não temos soberania alimentar”, diz Pillon. O uso eficiente da água pela agropecuária, da mesma forma, ocupa espaço relevante na estratégia da Embrapa, o que inclui sistemas de reservação, conservação e utilização eficiente de recursos hídricos.

A necessidade de dar maior visibilidade aos produtores sobre os resultados a campo dos produtos biológicos aproximou a Corteva Agriscience da startup Auravant, responsável pelo desenvolvimento de uma plataforma de monitoramento de plantios por meio de imagens de satélites. No momento, detalha Cristiane Delic, líder do portfólio de biológicos da Corteva Agriscience para o Brasil e Paraguai, 48 propriedades estão sendo monitoradas “para avaliar diferenças vegetativas nas áreas de milho onde foram aplicadas as soluções biológicas”.

Metade daquelas áreas recebeu um fixador biológico de nitrogênio foliar, que recorre à bactéria Methylobacterium symbioticum para converter o nitrogênio disponível no ar em nitrogênio de amônio para o milho durante todo o ciclo de vida da planta. As demais 24 áreas receberam um inoculante solubilizador que aumenta a disponibilidade de fósforo retido no solo e na matéria orgânica para culturas de milho e soja. A tecnologia incorpora duas cepas distintas e exclusivas de bactérias – Bacillus subtilis e Bacillus megaterium –, desenvolvidas por pesquisadores da Embrapa nos últimos 18 anos, que favorecem a solubilização do fósforo, tornando-o disponível para a planta, maximizando sua eficiência nutricional por meio de melhor aproveitamento da adubação fosfatada, descreve Delic. Realizada neste ano, a primeira rodada em campo mostrou um aumento na produtividade de 7,5 sacas por hectare nas áreas monitoradas, quando comparadas aos cultivos sem a aplicação dos mesmos produtos biológicos.

Fundada em fevereiro de 2022, a startup InEdita Bio desenvolveu uma rota tecnológica inovadora no uso de enzimas nucleases para a edição genômica de plantas e depositou dois primeiros pedidos de patente na United States Patent and Trademark Office (USPTO), agência americana de registro de marcas e patentes. Os processos, ainda sob sigilo, como adianta o biólogo Paulo Arruda, CEO da InEdita e coordenador do Centro de Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas da Unicamp, envolvem novas variedades de milho e soja resistentes a pragas e doenças.

Em parceria com a Vesper Ventures, fundo de venture building, a InEdita instalou seu laboratório de pesquisas em Florianópolis (SC), no mesmo edifício que abriga o fundo, apostando numa interação maior entre cientistas e investidores, diz Arruda. A conciliação entre a necessidade de produzir alimentos em larga escala e preservar o meio ambiente, entende ele, passa pelo aumento da produção por hectare cultivado e a edição genômica deve contribuir duplamente, ao promover ganhos de produtividade e reduzir o uso de fertilizantes e pesticidas de origem química. Na sua previsão, as primeiras variedades de soja e milho resistentes respectivamente à ferrugem e à lagarta produzidas pela InEdita deverão iniciar a fase de testes de campo entre o fim de 2024 e começo de 2025.

 Arruda, da InEdita Bio: novas variedades resistentes a pragas e doenças — Foto: Divulgação
Arruda, da InEdita Bio: novas variedades resistentes a pragas e doenças — Foto: Divulgação

A Symbiomics, startup de biotecnologia dedicada ao desenvolvimento de produtos biológicos de nova geração, fechou no primeiro semestre deste ano acordo com a Stoller, controlada pela Corteva, para acelerar o desenvolvimento de tecnologias em microbiomas. A multinacional poderá utilizar o pipeline da Symbiomics, diz Rafael de Souza, diretor-executivo e um dos cofundadores da empresa, posicionando seus produtos no mercado global. “Nosso foco está nas culturas de milho, soja, cana e algodão e a proposta é licenciar a nossa produção para grandes empresas do setor.”

O investimento da Vesper Ventures, ainda na fase inicial da startup, fundada em 2021, abriu as portas para que novos investidores, a exemplo da MOV Investimentos, Baraúna Investimentos e Ecoa Capital, também aportassem recursos no negócio, somando mais de R$ 10 milhões, que permitiram à Symbiomics montar seu laboratório e ampliar sua equipe de pesquisadores, hoje com 12 doutores e mestres. A startup trabalha no desenvolvimento de quatro famílias de bioprodutos, incluindo bioestimulantes, que aumentam a tolerância da planta ao estresse climático; tecnologia de biocontrole, que protege a planta contra patógenos; uma nova linhagem de microrganismos que reduzem emissões ou ajudam a sequestrar carbono; e microrganismos desenvolvidos por meio de engenharia genômica para fornecer fósforo e nitrogênio para as plantações. “Criamos ferramentas que tornam nosso pipeline mais barato, combinando sequenciamento genômico, machine learning e edição genômica”, diz Souza. Os primeiros produtos devem chegar ao mercado na safra de 2025/26.

Desenhado inicialmente para a construção de modelos macroeconômicos, o logaritmo desenvolvido pelo time de inovação da 4intelligence, formada por 16 PhDs, passou a incluir o agronegócio em seu portfólio desde o fim de 2020. A ferramenta automatiza o processo de construção de modelos para a tomada de decisão de empresas e produtores, rodando em nuvem mais de 50 mil especificações para indicar o modelo de maior acurácia, melhor desempenho e maior poder preditivo. “A inovação está em nosso algoritmo, que faz a leitura diária de imagens de satélite, cruzando com dados sobre condições climáticas e uma série de outros indicadores que interferem na lavoura, antevendo a produtividade com grande acurácia”, afirma Juan Jensen, sócio e um dos cincos criadores da startup.

O sistema, que inclui ferramentas de inteligência artificial e aprendizado de máquina, entre outras linguagens e rotinas, permite que o produtor acompanhe todo o processo desde o plantio à colheita, incluindo o monitoramento de riscos, o que possibilita antecipar a solução de problemas que dificilmente conseguiria resolver por outros caminhos, diz Jensen.

Noronha, da JBS USA: investimentos em proteína bovina cultivada — Foto: Paulo Vitale/Divulgação
Noronha, da JBS USA: investimentos em proteína bovina cultivada — Foto: Paulo Vitale/Divulgação

O crescimento populacional projetado até 2050 em todo o mundo, avalia Eduardo Noronha, diretor da unidade de negócios de valor agregado da JBS USA, corresponderá a um incremento da ordem de 70% no consumo de proteínas e os formatos tradicionais de produção não conseguirão atender à demanda. Essa perspectiva levou a multinacional brasileira a investir no que ele classifica como “formas alternativas de produzir proteína”, a exemplo da carne cultivada (a “carne de laboratório”), para complementar a oferta projetada e “fazer frente a essa demanda que virá”.

Um dos responsáveis pela estratégia de proteína cultivada da JBS, Noronha antecipa que, concluídos os estudos e iniciada a produção, “a proteína bovina cultivada chegará inicialmente aos consumidores na forma de alimentos preparados, como hambúrgueres e empanados”. Num passo seguinte, a tecnologia será aplicada para a produção de carnes cultivadas de frango, de suíno e de pescado. Controlada pela JBS, a espanhola Biotech Foods deverá investir em torno de US$ 40 milhões em uma planta-piloto instalada na cidade de San Sebastián, na região do País Basco. Com construção iniciada em setembro de 2022, a planta, com capacidade para mil toneladas de proteína cultivada, deverá entrar em operação no meio do próximo ano.

No Brasil, no centro de inovação do grupo, o Sapiens Parque, em Florianópolis, serão investidos US$ 60 milhões para colocar de pé o JBS Biotech Innovation Center, primeiro centro de pesquisa, desenvolvimento e inovação em proteína cultivada no país. Em execução, as duas primeiras fases do projeto, incluindo a implantação de laboratórios e da planta-piloto, deverão ser concluídas até o fim de 2024. A terceira etapa prevê a construção de um módulo em escala industrial, destinado a demonstrar a viabilidade técnica e econômica da proteína cultivada, ainda em fase de planejamento.

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