Revista Inovação
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Por Simone Goldberg


Franceli Jodas, da KPMG: esforço conjunto de governo e reguladores — Foto: Divulgação
Franceli Jodas, da KPMG: esforço conjunto de governo e reguladores — Foto: Divulgação

Na trilha da transição energética, o hidrogênio verde (H2V) ganha espaço na agenda dos investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) de diversas empresas. EDP Brasil, Raízen, Lightsource BP e Unigel são alguns exemplos desse movimento, com projetos já operando, em construção ou sendo concebidos.

A EDP Brasil inaugurou, no começo do ano, uma unidade de H2Vem Pecém (CE). A instalação, que exigiu R$ 41,9 milhões em investimentos, é alimentada por uma usina solar de três megawatts pico (MWp) e um eletrolisador capaz de produzir 250 Nm3/h do gás. “A localização é bastante favorável e a EDP tem interesse e condições de construir novos projetos no Pecém para abastecer o mercado interno e o externo”, informa o CEO da empresa no Brasil, João Marques da Cruz.

O hidrogênio é considerado verde se for obtido com energia renovável, por meio de eletrólise: a decomposição das moléculas de água em oxigênio e hidrogênio. O uso do novo energético, diz Cruz, ganharia impulso com a criação de um mercado regulado que exigisse a compra de certificados de carbono, provocando o aumento do custo da energia gerada com fontes fósseis.

“Isso tornaria as fontes limpas mais acessíveis e competitivas”, diz o executivo. No entanto, a curto prazo, ele vê o H2V sendo consumido principalmente nos locais próximos à produção. Ainda é necessário, segundo Cruz, identificar as tecnologias mais adequadas para o armazenamento e transporte do H2V, levando em consideração a escalabilidade de produção.

Mateus Lopes, da Raízen: expansão depende da demanda e da tecnologia — Foto: Divulgação
Mateus Lopes, da Raízen: expansão depende da demanda e da tecnologia — Foto: Divulgação

Na avaliação de Franceli Jodas, sócia da KPMG, é necessário um esforço coordenado entre Executivo, Legislativo e reguladores para fazer o mercado de H2V deslanchar. “Esta indústria só conseguirá ser desenvolvida a partir de um plano de desenvolvimento industrial com políticas de incentivo ao investimento na cadeia produtiva e ao consumo no país”, aponta. Ela lembra que o transporte ainda é um problema a ser superado. “Principalmente quando pensamos na produção associada às eólicas offshore e na exportação do produto”, observa.

O Brasil, na visão do country manager da Lightsource BP, Ricardo Barros, é um dos países com maior competitividade para a produção de H2V por eletrólise. Por isso, a empresa quer participar dessa cadeia. Fechou, em junho passado, acordo com o governo cearense para desenvolver parques solares acima de 1GW, próximo ao porto do Pecém.

A Lightsource BP, conta Barros, pretende oferecer à indústria de H2V o conceito de hibridização – blocos de energia compostos por diversas fontes, como eólica e solar, por exemplo. O executivo aponta dois pontos principais para o avanço do mercado de H2V. Um deles é o marco legal, em debate no Congresso. Outro é a viabilização de grandes contratos em escala, dando segurança mínima aos investimentos.

Em outra frente de produção do H2v, a Raízen está construindo, na Universidade de São Paulo (USP), uma estação experimental do energético feito a partir de etanol. Prevista para começar a operar no segundo semestre de 2024, a empreitada tem como parceiros, além do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RGCI) da USP, a Hytron, a Shell Brasil e o Senai CETIQT.

A estação terá capacidade de produção de 4,5 kg H2/h e o hidrogênio servirá para testar a performance do combustível em um veículo leve e três ônibus que vão circular dentro da cidade universitária. Mateus Lopes, diretor de transição energética e investimentos da Raízen, conta que, uma vez bem-sucedido o teste, uma nova estação será construída com capacidade dez vezes superior à primeira.

“A ideia é expandir a produção conforme a demanda e avanços tecnológicos do produto”, destaca Lopes, ao lembrar que a infraestrutura logística do H2v, que não está consolidada no Brasil, exige condições específicas para acondicionamento e transporte do produto.

Por isso, ressalta, o uso do etanol surge como uma alternativa “que permite a geração do hidrogênio no ponto de consumo e permite o aproveitamento da cadeia de produção e logística já estabelecidas”. Para o executivo, essa tecnologia poderá ajudar a descarbonizar diversos setores, como a mobilidade rodoviária, o setor de transporte pesado, além de possuir alto potencial nos segmentos de siderurgia, mineração e agronegócio”, observa.

No setor petroquímico, a Unigel, que vai inaugurar em 2024 a primeira fase de sua fábrica de H2v em Camaçari (BA) – um investimento inicial de US$ 120 milhões –, concebeu uma solução de integração com a unidade de amônia visando utilizar o gás na produção da amônia verde. Serão 10 mil toneladas anuais de H2v e 60 mil de amônia na primeira etapa.

O projeto completo prevê 100 mil toneladas anuais de hidrogênio verde e 600 mil toneladas de amônia verde, totalizando aportes de US$ 1,5 bilhão até 2027. Para Edson Alves, diretor de estratégia inovação da empresa, as demandas para melhorias tecnológicas virão em diversas áreas da cadeia produtiva, como eletrolisadores de maior eficiência energética, materiais mais acessíveis e de menor custo, armazenamento e transporte.

“A produção em escala para o hidrogênio verde dependerá de uma política industrial que possa criar condições de viabilidade para os investimentos”, avalia o executivo. Na lista de condições, ele destaca o marco regulatório, incentivos, acesso a financiamento, infraestrutura de geração e transmissão de energia elétrica de alta tensão, fabricantes locais de equipamentos, avanços no mercado de carbono e logística.

Paulo Emílio Valadão de Miranda, presidente da Associação Brasileira de Hidrogênio (ABH2) – que utiliza o termo hidrogênio de baixo carbono em vez da terminologia de cores –, o armazenamento e o transporte em larga escala são um dos maiores desafios. Entre as possíveis soluções, ele cita a criação de polos de hidrogênio de baixo carbono próximos às opções de consumo – o que já vem ocorrendo no Ceará, que tem mais de 30 acordos assinados com variadas empresas – e a inserção do hidrogênio em linhas de gás natural. “Existem perspectivas de substituição de até 20% do fluxo de gás natural por hidrogênio de baixo carbono. Isso criaria grande demanda”, ressalta Miranda.

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