Revista Inovação
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Por Sérgio Adeodato


No Acre, drones são utilizados no manejo florestal de madeira, reduzindo os custos em 31,5% — Foto: Divulgação
No Acre, drones são utilizados no manejo florestal de madeira, reduzindo os custos em 31,5% — Foto: Divulgação

A peconha, rudimentar apetrecho que permite subir no alto das palmeiras para a coleta dos cachos de açaí, já não é o principal instrumento na lida com o manejo do fruto, no município de Portel, na Ilha do Marajó (PA). A velha engenhoca de cordas para apoio dos pés na escalada das árvores permanece essencial, mas junto vem a tecnologia digital, pela qual é possível reduzir danos à biodiversidade e gerir a produção. Na floresta, celulares e computadores ligados à internet promovem ganhos de eficiência, renda e tempo para que os extrativistas possam se dedicar a outras atividades – produtivas, educacionais ou comunitárias. Ou seja, são sinônimos de qualidade de vida.

Em Portel, no Pará, o mapeamento digital e o inventário dos açaizais nativos, somados a técnicas de mínimo impacto, já resultam em safras mais longas, com produção 30% maior. “A extração, antes de maio a setembro, agora ocorre praticamente o ano inteiro, com mais facilidade de acesso às árvores e menor esforço físico, o que significa menos riscos à saúde”, revela Teofro Gomes, ribeirinho da comunidade Santo Ezequiel Moreno. Onde a tradicional dança do carimbó convive com os decibéis dos “paredões” do som eletrônico, os celulares – na mão de todos no povoado – começam a ser usados não só para mensagens de texto, áudio ou vídeo.

Na onda da “bioeconomia digital”, novos aplicativos atraem jovens para atividades tradicionais, reduzindo o êxodo para as cidades. “Mas ainda faltam incentivos financeiros para a novidade pegar”, alega Gomes, no comando da cooperativa agroextrativista local, que ajudou na validação da tecnologia em torno do açaí, desenvolvida pela Embrapa e a empresa Equilibrium Web, no Pará.

“O entendimento das realidades locais é fundamental para a tecnologia digital surtir efeito na Amazônia”, ressalta Silvia Massruhá, presidente da Embrapa. Segundo ela, diante dos desafios de uma região onde muitas vezes falta o básico, como conectividade e energia elétrica, a atual demanda das inovações, inclusive em inteligência artificial (IA), pode ser habilitadora de políticas para suprir as lacunas. “Essas ferramentas ajudam na inclusão socioprodutiva, com redução de desigualdades”, reforça.

Massruhá, da Embrapa: ferramentas ajudam na inclusão socioprodutiva — Foto: Saulo Coelho/Divulgação
Massruhá, da Embrapa: ferramentas ajudam na inclusão socioprodutiva — Foto: Saulo Coelho/Divulgação

No Acre, drones com ferramentas digitais são utilizados no manejo florestal de madeira, reduzindo custos em 31,5%. “A internet na Amazônia, cada vez mais barata, e a capacidade de instalar sensores na natureza, com dispersão rápida da informação, criam as condições para a IA entrar em várias aplicações”, destaca Marcos Ene Chaves, pesquisador da Embrapa em Belém. Em laboratório, sensores dentro de colmeias captam dados a cada minuto sobre as condições do plantel de abelhas nativas, especializadas em polinizar o açaí. Em paralelo, múltiplas imagens identificam animais com pólen, e tudo é processado por computadores. Na plataforma InfoBee, a IA orienta produtores sobre melhores métodos, visando à qualidade do mel e à polinização do açaí.

“Precisamos treinar algoritmos a partir de indicadores locais na Amazônia”, observa Macaulay Abreu, cofundador das startups Onisafra e ForestiFi e diretor de negócios de bioeconomia da Navegam, sediada em Manaus (AM). A empresa, voltada à logística intermodal e a serviços digitais para monitoramento das cadeias florestais até o consumo, faz a ponte entre fornecedores e compradores de produtos amazônicos que exigem critérios de qualidade e origem sustentável. Está previsto transformar ativos futuros da natureza em tokens digitais, via blockchain, como forma de antecipar valores para cooperativas e gerar estoques com liquidez. O êxito do negócio, diz Abreu, está no conhecimento sobre as complexidades regionais. “Não há como usar padrões das grandes commodities.”

A bioeconomia atrai startups e institutos de pesquisa de outras regiões para a Amazônia, no rastro da tecnologia digital. “É um passo natural para nossa história em inovação”, afirma Caio Perecin, coordenador técnico de projetos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT) no Amazonas. A instituição criou uma unidade em Manaus e participa do consórcio que assumiu neste ano a gestão do novo Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), destinado a desenvolver inovações para transferência ao mercado. Após 23 anos inoperante por questões administrativas do governo federal, a estrutura – agora comandada por entidade civil sem fins lucrativos – se moderniza com tecnologias digitais e planos de atrair investimentos robustos da iniciativa privada e de fundos internacionais.

São 26 laboratórios que pesquisam produtos naturais, novos materiais e biotecnologia, além de um centro para análises e certificações de insumos amazônicos para exportação. “A meta é captar R$ 224 milhões e registar pelo menos dez pedidos de patente, em quatro anos”, diz o gestor do CBA, Elias Moraes. Uma aposta está nas fibras de curauá – um tipo de abacaxi nativo – para uso têxtil.

“O cenário dos bionegócios apresenta grande amadurecimento na Amazônia, com tíquete médio de investimento cada vez maior”, aponta Paulo Simonetti, líder de captação do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio). A política pública investe em startups recursos obrigatórios de pesquisa e desenvolvimento (P&D) que as indústrias da Zona Franca de Manaus são obrigadas a repassar. Até agora foram R$ 128 milhões em aportes – no total de 37 empresas investidoras.

Segundo mapeamento do Idesam, ONG que coordena o programa, já existem pelo menos 204 startups de bionegócios na Amazônia Legal, muitas distribuídas em comunidades com nomes regionais inspirados no Silicon Valley, o Vale do Silício, meca da inovação nos Estados Unidos. A maior floresta do planeta abriga o Jaraqui Valley (Amazonas), o Tambaqui Valley (Rondônia), o Açaí Valley (Pará) e o Buriti Valley (Roraima). “O momento é oportuno, no contexto climático; nossa última chance para impulsionar a bioeconomia como modelo de valorização da floresta”, observa Rafael Kamke, arquiteto de soluções na Fundação Certi.

Com filial em Manaus, a instituição levou para a Amazônia a referência de sucesso do polo de inovação de Florianópolis (SC) e neste ano selecionou 70 negócios de bioeconomia para capacitação inicial. “A diversidade da floresta exige múltiplas soluções que incluem tecnologias digitais para transformar potencial em realidade”, afirma Kamke.

Na capital amazonense, o Sidia, instituto tecnológico que tem a Samsung como principal mantenedor, reúne 1,2 mil programadores, técnicos e designers, com demanda crescente na bioeconomia. “A visão computacional ajuda na rastreabilidade de produtos e geolocalização de árvores e recursos naturais”, explica Bárbara Formoso, diretora do Manaus Tech Hub, braço de inovação aberta do Sidia. Entre as novidades, destaca-se o sistema de IA e aprendizagem de máquina que identifica espécies de madeira pelo celular na fiscalização ambiental – tecnologia agora aprimorada por startups. Em Rondônia, a plataforma Precifica processa dados da produção para estabelecer preços justos na piscicultura do tambaqui, peixe nativo de alto consumo na região.

“É uma maneira de valorizar o conhecimento de povos tradicionais, porque não partimos do zero”, observa Guilherme Oliveira, diretor científico do Instituto Tecnológico Vale (ITV), em Belém (PA). De acordo com ele, espécies amazônicas já usadas precisam de uma nova camada de informação e dados para evoluir em seu aproveitamento. E ferramentas digitais são essenciais, como nos estudos do cacau, alvo de mapeamento genético como indicativo de quais plantas usar conforme as características do ambiente.

No ITV, também o pirarucu começa a ter o genoma destrinchado para, futuramente, orientar o manejo sustentável, mas a cereja do bolo é o jaborandi. A planta amazônica, explorada por extrativistas na Floresta Nacional de Carajás, contém um valioso insumo: a pilocarpina. Patenteada muitos anos atrás no exterior para tratamento de glaucoma, a substância foi depois aprovada pela agência americana de saúde para evitar a presbiopia, a deficiência de visão após os 40 anos. O mercado global em 2017, antes da nova aplicação médica, girava em torno de US$ 9,7 milhões, faturados por multinacionais.

“Trata-se da única molécula da Amazônia atualmente ativa no mercado farmacêutico”, afirma Oliveira. Além da extração na floresta, o vegetal é também plantado em outras regiões do país, mas a pilocarpina só é produzida em alta quantidade no ambiente natural. O desafio é entender a razão disso e desenvolver rotas sintéticas para imitar a natureza, sem precisar exauri-la. A bioinformática se encarregará de processar os dados no mundo digital, e não nos tubos de ensaio.

Mais recente Próxima Biotecnologia brasileira em ascensão: a força gerada pela própria natureza

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