Marco do ecossistema de inovação brasileiro, a startup de mobilidade 99 tornou-se, em 2018, o primeiro unicórnio brasileiro. Logo em seguida, Nubank, maior startup da América Latina, e o iFood conquistaram o título. Entre 2018 e 2022, as condições favoráveis do mercado proporcionaram uma torrente de novos unicórnios brasileiros.
Atualmente, 24 dos 45 unicórnios da América Latina estão no Brasil, o equivalente a 53%. Além disso, 15 startups já abriram uma oferta inicial de ações (do inglês Initial Public Offering ou IPO).
A maior transação privada envolvendo uma fintech brasileira foi a aquisição por US$ 1 bilhão pela Visa da startup Pismo. Em sete anos, a Pismo cresceu com apenas duas rodadas de capital, atraindo acionistas como Redpoint eventures, SoftBank, Amazon, Accel Partners e Headline Ventures. Outros investidores incluem a Pruven, B3 e Falabella Ventures.
Já a Creditas foi criada em 2012 e, em pouco mais de dez anos, levantou mais de US$ 800 milhões em investimentos e tornou-se unicórnio. Hoje, é uma das startups mais valiosas da América Latina.
Desde a fundação em 2016, a Neon levantou mais de R$ 3,7 bilhões em diversas rodadas de investidores, como o fundo General Atlantic, Banco Votorantim e Banco BBVA. Hoje, são mais de 26 milhões de clientes e uma carteira total de crédito de R$ 4 bilhões.
Mas a alta de juros global e a redução da liquidez parecem ter posto fim ao fenômeno dos unicórnios e seu crescimento a qualquer custo. Hoje, a aposta é nas resilientes e adaptáveis: as chamadas startups camelos. “O que se pede é que o empreendedor seja mais camelo do que unicórnio: encontre um modelo de negócio que pare em pé e cresça de forma mais sustentável”, diz Gustavo Araújo, cofundador e CIO da Distrito.
Segundo ele, 80% dos 24 declarados unicórnios brasileiros não teriam mais esse título se a avaliação fosse feita hoje, dada a elevada taxa de juros. Isso não significa que não estejam saudáveis. “Podem valer menos, mas os fundamentos persistem e podem ter maior faturamento e mais usuários.”
Já as camelos seguem crescendo orgânica e sustentavelmente, em especial as que integram ecossistemas. Em 2020, a Voltz nasceu como fintech focada em utilities e associada à Energisa, com o objetivo de explorar as sinergias dos 8,5 milhões de clientes da distribuidora de energia. “Desde o início, o Ricardo Botelho, CEO da Energisa, determinou o foco em resultados financeiros. Isso não significou que o crescimento fosse lento. Oferecemos conta digital e dez produtos para mais de um milhão de clientes”, diz Tiago Linz de Albuquerque Compagnoni, coCEO e fundador da Voltz.
Entre os fundos, a ordem é ter mais critério na liberação dos recursos. O Grão VC é um venture capital criado em 2016, que tem no portfólio empresas como Gringo, Cayena e Kanastra. O fundo tem procurado ajudar na gestão das investidas, a maior parte em estágio inicial, podendo receber de US$ 100 mil a US$ 500 mil. “A demanda é por geração de caixa e rentabilidade. Buscamos empresas de tecnologia com time forte, capaz de executar o plano num mercado grande o suficiente”, diz Sung Lim, CIO e CFO do Grão VC.
Desde a fundação em 2011, o fundo latino-americano NXTP investiu em mais de 200 startups em estágio iniciaL, com foco em B2B (vendas de empresas para empresas), entre as quais estão a Amaro, a Cargo X e a Nuvemshop. “Investimos apenas em empresas B2B de quatro verticais: cloud, e-commerce, fintech e marketplace B2B, com aportes de US$ 500 mil a US$ 5 milhões”, diz Alex Busse, sócio e cofundador do NXTP.