Revista Inovação
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Por Carmen Nery


Maitê Lourenço, da BlackRocks Startups: a partir de 2022, com as dificuldades, a diversidade perdeu relevância — Foto: Divulgação
Maitê Lourenço, da BlackRocks Startups: a partir de 2022, com as dificuldades, a diversidade perdeu relevância — Foto: Divulgação

Mesmo com a desaceleração registrada em 2022, as startups brasileiras conseguiram captar, entre 2019 e 2023, US$ 21,9 bilhões, resultado de 3.471 transações. Nesse período, grandes investidores chegaram ao país, com destaque para o SoftBank, maior investidor global de venture capital, que destinou US$ 5 bilhões para empresas em estágio avançado na América Latina.

Nilio Portella, cofundador do M&P Group e sócio da Bossa Invest, diz que as baixas taxas de juros e o excesso de liquidez, associados à pandemia e à necessidade de digitalização, inundaram o mercado de recursos até 2020. “Nunca houve tanto aporte financeiro. Do lado do investidor, com juros baixos, há uma maior disposição de tomar riscos. Do lado das startups, há a oportunidade de crescimento acelerado.”

Cassio Spina, CEO da Anjos do Brasil, observa, porém, que o fluxo entre 2020 e 2021 foi tão grande que houve, como em 2008, uma exuberância irracional. Ele diz que o investimento-anjo oscila menos do que o dos fundos de investimento. “Apesar do recuo para R$ 800 milhões em 2020, o segmento atingiu R$ 1 bilhão em 2021 e caiu só 2% em 2022, para R$ 984 milhões. Temos 185 startups investidas e esperamos fechar com mais 15 em 2023, com um volume semelhante a 2022.”

Felipe de Matos Sardinha Pinto, vice-presidente da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), diz que, em 2022, o investimento total caiu e houve uma ressaca. “A condição macroeconômica mudou no mundo e tivemos uma sequência de demissões, afetando também as startups, com mais de dez mil demissões e ajustes”, diz.

Segundo a plataforma de inovação Distrito, no Brasil o volume caiu de US$ 10 bilhões em 2021 para US$ 4,4 bilhões em 2022. Desde 2015, o número de novas startups, que vinha superando a marca de mil ao ano, caiu para 831 em 2021, 334 no ano passado e 41 em 2023. De 2015 a 2023, foram 9.006 novatas, com 1.798 saindo do mercado.

“Isso ocorreu devido à escalada dos juros, à redução da liquidez e à queda generalizada das bolsas, porque houve uma correção com grande saída de capital para a renda fixa”, diz Gustavo Araújo, cofundador e CIO da Distrito. Em 2023, o mercado tende a se recuperar, diz ele, mas dificilmente chegará ao pico de 2021.

A Distrito, por exemplo, começou como incubadora, mas em 2019 transformou-se em uma plataforma digital de inovação e mapeia a performance de cerca de 38 mil startups na América Latina; tem 60 corporações clientes e 800 startups residentes. “Fazemos um match das demandas dos clientes com a oferta das startups para concretizar negócios na modalidade SaaS (software como serviço)”, diz Araújo.

A 100 Open Startups é um hub que promove eventos e mede a atividade de inovação no mercado, criando rankings entre nove mil startups, das quais quatro mil fecharam negócio com corporações. Bruno Rondani, CEO e fundador da 100 Open Startups, diz que o mercado é cíclico e já passou por crises como a das ponto.com em 2000, a das debêntures em 2008 e a atual, marcada pela quebra do Silicon Valley Bank.

Para Paulo Costa, CEO do Cubo Itaú, a euforia dos anos de 2020 e 2021 é o ponto fora da curva. Há pessimismo desde o ano passado, mas as indústrias estão voltando a investir. “Não será a curto prazo o que foram 2020 e 2021, mas a tendência é de aumento, porém com dinâmicas diferentes, sem crescimento a todo custo”, afirma.

Marcella Falcão, head de corporates e investors do Cubo Itaú, explica que o Cubo promove oportunidades de negócios (contratos ou aportes) e conta com 470 startups, mais de 70 corporações membros, oito fundos de CVCs e dez fundos de investimento. “Temos 80 startups por semana querendo fazer parte do Cubo. Para a seleção, analisamos o time e sua formação, o quanto a empresa já faturou e o potencial de escalar”, ressalta.

A TIM é uma das 70 corporações que buscam encurtar o caminho da inovação por meio do Cubo e de outras iniciativas, como a Distrito. Renato Ciuchini, vice-presidente de novos negócios e inovação, diz que o sucesso do 5G depende da rede, da penetração de aparelhos e da disponibilidade de aplicações. “Essas aplicações não vão nascer na operadora, e sim por meio de inovação aberta com as startups. Chegamos ao Cubo em 2016 e, em 2019, criamos o hub 5G. Já contratamos mais de 30 startups. Também temos parceria com a Distrito e a AgTech Garage”, destaca.

Já a Stefanini optou por fazer diretamente a aceleração interna por meio do Programa 87.co, integrando as startups ao ecossistema de soluções da empresa. “Conectamos as inovações das startups às nossas soluções para criar novos modelos de negócio. Também já adquirimos mais de 30 startups”, diz Rodrigo Plácido, head de inovação da Stefanini.

O Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) promove, há 25 anos, a inovação por meio da incubadora pertencente à Universidade de São Paulo (USP) e ao Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), abrigando startups intensivas em conhecimento de bases tecnológica e científica. “São 78 empresas que resolvem problemas complexos por meio da ciência e da tecnologia. A meta é chegar a cem empresas em julho de 2024”, diz Felipe Maruyama, diretor de operações, projetos e programas do Cietec.

O mercado de hubs e aceleradoras também tem caminhado para a especialização. Maitê Lourenço, fundadora da BlackRocks, diz que, como aceleradora com foco em startups lideradas por pessoas negras, as dificuldades não se resumem a períodos de crise. Em 2020, com patrocínio do BTG, TikTok e AWS, a empresa realizou um programa para aceleração de startups em estágio inicial. “De 2020 a 2022, aceleramos 24 startups, que, apesar dos desafios, conseguiram entrar no mercado devido à sua capacidade técnica. Dessas, seis conseguiram captar mais de R$ 10 milhões. A partir de 2022, com as dificuldades, a diversidade deixou de ser relevante, diz Maitê.

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