Revista Energia
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Pereira, da Coppe/UFRJ: potencial hidrelétrico está se esgotando — Foto: Divulgação
Pereira, da Coppe/UFRJ: potencial hidrelétrico está se esgotando — Foto: Divulgação

Quando a seca afeta a hidrelétrica, a falta de vento paralisa a usina eólica e a onda de calor provoca aumento do consumo, as térmicas socorrem o sistema. No ano passado, as 3.020 termelétricas instaladas em 26 Estados brasileiros e no Distrito Federal produziram quase 22% da energia gerada no país, de acordo com o Sistema de Informações de Geração da Agência Nacional de Energia Elétrica (Siga/Aneel).

“O Brasil precisa cada vez mais de termelétrica, porque o potencial hidrelétrico está se esgotando”, diz Amaro Pereira, professor de planejamento energético da Coppe/UFRJ. “A geração térmica é acionada em especial em situações de elevada demanda energética”, informa nota do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), encarregado de coordenar as operações de geração e transmissão de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional (SIN).

Para atender ao crescimento da carga de energia prevista no Plano Decenal de Expansão de Energia 2024, da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a expansão do parque gerador termelétrico deveria agregar mais 10.500 MW até o fim do ano. O Brasil, ainda de acordo com o Siga, tem 41 novas usinas em construção, com capacidade para aumentar a geração energética em 4.361 MW. Outros 46 projetos autorizados, mas com a construção ainda não iniciada, poderiam acrescentar mais 4.049 MW ao sistema. A estimativa da Aneel é que a participação das térmicas ganhe cerca de três pontos percentuais na matriz energética.

“Na medida em que se torna cada vez mais complexo o aproveitamento do potencial hidrelétrico e é cada vez menor a possibilidade de construção de reservatórios de regularização, o aumento da geração térmica se torna necessário para garantir a segurança do sistema”, aponta o plano decenal da EPE. O Leilão de Reserva de Capacidade de Potência de 2024, marcado para agosto deste ano, prevê nova contratação de reserva proveniente de usinas termelétricas.

Está em análise um projeto de nova termelétrica no Polo Gaslub Itaboraí, antigo Complexo Petroquímico, localizado na região metropolitana do Rio de Janeiro, a partir do gás do pré-sal, informa a assessoria de imprensa da Petrobras. A companhia lidera a geração termelétrica no Brasil. São 13 térmicas espalhadas por oito Estados, que somam uma capacidade instalada de geração de 5,3 MW.

A maior térmica do país, porém, é a Porto de Sergipe I, da Eneva. Inaugurada em 2020, tem capacidade instalada de 1,5 mil MW e fica próxima ao terminal marítimo Inácio Barbosa, em Barra dos Coqueiros, em Sergipe.

A segunda maior termelétrica do país é a GNA I. “As térmicas são um banco de energia. O Brasil precisa de energia segura e o uso do gás natural tem pegada de carbono, mas menor que outras fontes”, diz Emmanuel Delfosse, presidente da Gás Natural Açu, uma associação entre a Prumo Logística, bp, Siemens Energy e SPIC Brasil dedicada ao desenvolvimento e operação de projetos de energia. A usina térmica a gás instalada no porto do Açu, em São João da Barra, no norte fluminense, custou R$ 5 bilhões. Tem capacidade de geração de 1,3 GW e pode atender seis milhões de residências. O segundo ativo do grupo será a GNA II, ao lado da GNA I. Orçada em R$ 7 bilhões e conclusão prevista para o ano que vem, vai produzir mais 1,7 GW. Juntas, vão representar 17% do parque gerador termelétrico brasileiro.

Cento e vinte usinas térmicas estão integradas ao SIN, de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que negocia a energia no mercado brasileiro. A maior parte produz para consumo próprio ou opera isoladamente. A termelétrica verde da Aço Verde do Brasil, inaugurada em 2023 com um investimento de R$ 80 milhões, está integrada ao SIN, mas toda a produção energética serve à siderúrgica do grupo Ferroeste, em Açailândia, no Maranhão.

A térmica é abastecida pelo gás gerado no processo produtivo dos altos-fornos da usina. Com uma capacidade de geração de 10,75 MW, atende 30% da necessidade da siderúrgica, que produz 600 mil toneladas anuais de vergalhões e ferro-gusa. “A termelétrica se alinha ao processo da siderúrgica de só usar gases de biomassa. Nós somos a única com biomassa com certificação I-REC. Nossa emissão é zero”, diz Sandro Raposo, diretor de ESG e novos negócios na Aço Verde do Brasil.

“Um dos gargalos das termelétricas é a emissão de gases de efeito estufa, principalmente das usinas a carvão”, afirma o professor Pereira, da Coppe/UFRJ. A fonte nuclear, que abastece duas térmicas no Brasil, segundo ele, não emite poluente. A biomassa tem a vantagem de permitir a captura de gás carbônico na lavoura de cana. Já o gás natural emite 0,4 tonelada de CO2 equivalente por megawatt por hora (MWh), enquanto as térmicas a óleo emitem 0,8 tCO2/MWh e as de carvão liberam 1,1 tCO2/MWh.

“O Brasil não vai fazer novas térmicas a carvão, porque não há financiamento para projetos que não capturem CO2, mas no futuro elas podem ganhar fôlego, incorporando tecnologias de captura do carbono da atmosfera”, diz Luiz Fernando Zancan, presidente da Associação Brasileira do Carbono Sustentável (ABCS). A vantagem da energia do carvão, que responde por 1,6% da geração termelétrica, é que ela custa cerca de R$ 100 por MWh, podendo chegar a R$ 250 por MWh se incluído frete ferroviário ou carvão subterrâneo, ante os R$ 600 por MWh do gás, que é uma commodity e tem cotação internacional.

Embora apenas 21 das termelétricas sejam conectadas à rede de gasodutos de 9.400 km do país, elas absorvem 40% da capacidade fornecida pelas transportadoras de gás – outros 40% vão para a indústria e 20% são divididos entre o uso residencial e industrial e veículos movidos a GNV. Em 2021, no pico, o transporte atingiu 82 milhões de metros cúbicos por dia. Para atender ao aumento de demanda, as empresas que operam no transporte de gás quase quadruplicaram o volume de investimentos previstos de R$ 5 bilhões para R$ 18 bilhões até 2030. “O sistema aumenta a competitividade e traz segurança ao consumidor”, afirma Rogério Manso, presidente da Associação de Empresas de Transporte de Gás Natural por Gasoduto (ATGás), que representa cinco operadoras do setor.

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