Revista Energia
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Santa Luzia, a "Veneza paraibana", se transformou em polo de produção de energias solar e eólica — Foto: Divulgação
Santa Luzia, a "Veneza paraibana", se transformou em polo de produção de energias solar e eólica — Foto: Divulgação

Cercada por três grandes açudes, a pequena Santa Luzia, no semiárido paraibano, é conhecida como a “Veneza paraibana”. A cidade também se destaca pelos festejos de São João, que, a exemplo de outras localidades do interior nordestino, atraem milhares de pessoas todos os anos. Mas o que mais tem movimentado o município de 15 mil habitantes de uns anos para cá são as diversas usinas que o transformaram em importante polo de produção de energias solar e eólica.

Grandes empresas do setor, como a Neoenergia e Rio Alto, investem na região. Apenas a Neoenergia Luzia conta com dois parques solares, com 228 mil painéis e potência instalada de 149 megawatts (MW), suficiente para abastecer mais de cem mil residências. Os parques integram o Complexo Renovável Neoenergia, que se destaca pela integração entre os ativos dos parques eólicos e solares.

Desde a construção dos primeiros aerogeradores, há cerca de sete anos, o município começou a viver um boom, com a chegada de trabalhadores para colocarem as usinas em funcionamento. Sugiram novos hotéis, restaurantes, farmácias, os aluguéis de residências ficaram mais caros e o comércio ficou mais dinâmico. Novas construções surgiram para suprir a demanda por residências. A população flutuante, em alguns momentos durante a construção das gigantescas pás eólicas, chegou a mais de cinco mil habitantes, um terço da população fixa.

Para se ter uma ideia do boom econômico, desde 2017 a arrecadação do Imposto Sobre Serviços (ISS) em Santa Luzia cresceu de R$ 50 mil para cerca de R$ 800 mil mensais, segundo a prefeitura. Após a entrada em operação das usinas eólicas, há dois anos, o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) repassado ao município subiu de R$ 600 mil para em torno de R$ 2,4 milhões por mês.

“Do ponto de vista econômico, sem dúvida está sendo muito bom para o município a chegada das usinas eólicas e solares”, explica Henry Nóbrega, secretário de Gestão e Finanças da Prefeitura de Santa Luzia. Os recursos, segundo ele, permitiram uma série de ações e investimentos por parte da prefeitura. Entre eles, ampliação das instalações e contratação de médicos para a policlínica municipal, que passou a oferecer diversas especialidades médicas, como gastroenterologia e oftalmologia.

Antes, os pacientes que necessitavam de uma consulta eram obrigados a viajar 140 quilômetros até Campina Grande (PB). Na área de educação e assistência social, estão sendo construídas duas novas creches e todas as escolas da rede municipal contam com salas de aula climatizadas.

Lopes, da Capgemini: é preciso distribuir os benefícios de forma justa — Foto: Divulgação
Lopes, da Capgemini: é preciso distribuir os benefícios de forma justa — Foto: Divulgação

A avaliação é compartilhada com o presidente da Câmara de Diretores Lojistas de Santa Luzia (CDL), Nadinaldo Medeiros. O movimento no comércio, afirma, se expandiu de tal maneira que, durante a pandemia, os lojistas não sentiram os efeitos das restrições sanitárias, pois as vendas continuaram altas durante o período mais acentuado da covid-19, que coincidiu com a construção dos parques. “Tivemos um acréscimo de cerca de 30% no movimento do comércio, mesmo na época da pandemia. A construção das usinas foi fundamental para que não sentíssemos de forma grave os efeitos econômicos da covid-19”, lembra Medeiros.

A região de Santa Luzia se destaca pela elevada incidência de radiação solar ao longo do ano, o que favorece a geração de energia solar. Além disso, o clima predominantemente semiárido implica pouca ocorrência de chuvas, o que beneficia a captação eficiente de energia solar. “O projeto em Santa Luzia representa não apenas uma oportunidade de negócios, mas também um importante impulso para a criação de empregos e o surgimento de novas atividades econômicas na região”, explica Matheus D’Alécio Rodrigues, representante da Trina Solar, multinacional chinesa fabricante de módulos fotovoltaicos. Recentemente, a empresa vendeu 16.470 rastreadores para o grupo Rio Alto, que constrói um complexo de usinas solares na região.

A euforia econômica, por outro lado, divide espaço com a preocupação ambiental. Problemas como barulho gerado pelas usinas, comprometimento da vegetação nativa e riscos à fauna local e ao patrimônio natural e histórico despertam discussões e alertas de órgãos como o Ministério Público, entidades civis e as próprias prefeituras. “Ainda não sabemos os impactos ambientais futuros. Esse é um dos desafios que teremos de lidar e ficarmos atentos”, reconhece Nóbrega.

A consultora Ândrea Lopes, executiva da área de transição energética da Capgemini Brasil, explica que os investimentos em usinas solares têm o potencial de transformar de forma positiva pequenas cidades no Nordeste, promovendo desenvolvimento econômico, sustentabilidade e melhoria da infraestrutura. “Contudo, é de extrema importância que esses projetos sejam planejados e implementados de forma a minimizar impactos negativos, envolvendo comunidades locais no processo de decisão e garantindo que os benefícios sejam distribuídos de maneira justa e sustentável.”

Segundo Lopes, apesar de a energia solar ser considerada limpa, a instalação de grandes usinas requer significativa alteração do uso do solo, o que pode impactar ecossistemas locais, especialmente em áreas de alta biodiversidade ou valor agrícola. O enfrentamento desses desafios, alerta a executiva, requer compromisso contínuo e colaboração não apenas do poder público, mas também das empresas de energia solar, das comunidades locais e de organizações da sociedade civil.

Em nota, a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), que congrega empresas e entidades do setor, defende que “a implantação de grandes usinas solares no Brasil atende a rigorosos requisitos legais, regulatórios e ambientais, inclusive quanto ao seu licenciamento, mitigação e compensação de eventuais impactos ao entorno”. A Absolar explica ainda que, desde a concepção dos projetos, “são realizadas interações com as comunidades dos territórios, bem como com os gestores públicos destas regiões, incluindo as comunidades lindeiras, estabelecendo-se planos de atuação conjuntos.”

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