Revista Energia
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Uma safra considerada extraordinária de cana-de-açúcar no agronegócio brasileiro, no ciclo 2023/2024 – a moagem de cana atingiu perto de 650 milhões de toneladas, aumento de 19,40% em relação à safra passada –, proporcionou um avanço substancial da produção de etanol no país. Segundo levantamento da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), que representa as principais unidades produtoras da região Centro-Sul, a produção brasileira de etanol chegou ao patamar recorde de 33,07 bilhões de litros, 15,9% maior que na safra de 2022/2023.

A produção de etanol hidratado cresceu 22%, indo a 22,32 bilhões de litros, enquanto a de etanol anidro atingiu 13 bilhões de litros, com um crescimento de 7% em relação à safra anterior.

“Foi o melhor resultado de todos os tempos”, afirma Patrícia Audi, diretora-executiva da Unica. “Tivemos uma convergência de boas condições climáticas e de produção. Não houve desabastecimento de fertilizantes, as chuvas chegaram no momento certo e registramos uma maior produtividade.” Na primeira quinzena de março deste ano, por exemplo, as vendas de etanol totalizaram 1,46 bilhão de litros, o que representou um aumento de 51,38% em relação ao mesmo período da safra 2022/2023, informa Audi.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de etanol, ranking liderado pelos Estados Unidos, que produzem o combustível a partir do milho. Os efeitos desse desempenho são impressionantes, segundo a diretora-executiva da Unica. “O simples fato da opção pelo etanol levou a que 670 milhões de toneladas de gás de efeito estufa fossem retirados do meio ambiente”, diz.

O consumo de etanol também impacta positivamente a indústria automobilística brasileira. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 83% dos carros vendidos atualmente em território nacional contam com alimentação flex (gasolina e etanol).

A participação do etanol de milho na produção de etanol no país também vem crescendo significativamente. Foram adicionados, neste ano, ao volume total do etanol brasileiro pelo menos 5,96 bilhões de litros de etanol a partir do milho, segundo dados da Unica. A safra 2023/2024, aliás, marcou o início da operação da planta de etanol de milho da São Martinho, um dos maiores grupos sucroenergéticos do país.

Audi, da Unica: ciclo 2023/2024 foi o melhor de todos os tempos — Foto: Divulgação
Audi, da Unica: ciclo 2023/2024 foi o melhor de todos os tempos — Foto: Divulgação

Com quatro usinas – São Martinho, Santa Cruz e Iracema em São Paulo e Boa Vista em Goiás –, o grupo processou na safra 2023/2024 cerca de 23,1 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, produzindo 1,5 milhão de toneladas de açúcar e próximo de

1 bilhão de litros de etanol proveniente da cana. Com o início das operações da planta de etanol de milho acoplada à usina de álcool de cana-de-açúcar de Boa Vista, localizada em Quirinópolis (GO), a São Martinho acrescentou a seu portfólio um potencial de 210 mil metros cúbicos de etanol, além de 150 mil toneladas de DDGS (“dried distillers grains with solubles”, um subproduto utilizado para alimentação de gado), e 60 mil toneladas de óleo de milho. O investimento chegou a R$ 740 milhões. “Esta nova operação reforça a posição da São Martinho como um dos provedores mais eficientes de biocombustíveis e consolida a entrada da companhia no mercado de proteínas para uso animal”, diz Felipe Vicchiato, diretor financeiro.

Igualmente relevante é o desempenho da FS, primeira empresa que utiliza exclusivamente o milho na fabricação de etanol no país. Joint venture do fundo de investimentos norte-americano Summit Agricultural Group com a brasileira Tapajós Participações, a FS iniciou suas operações em 2017 e hoje conta com três unidades fabris, em Lucas do Rio Verde, Sorriso e Primavera do Leste, em Mato Grosso, com capacidade para produzir anualmente 2,2 bilhões de litros de etanol, além de 1,8 milhão de toneladas de DDGS. “Nosso plano de expansão contempla a abertura de mais unidades industriais no Estado de Mato Grosso, com objetivo de atingir capacidade produtiva de 5 bilhões de litros de etanol por ano”, destaca Rafael Abud, CEO da FS.

O cenário se mantém positivo, portanto, para o etanol de cana-de-açúcar e de milho, mas também para outros tipos de biocombustíveis derivados de matérias-primas como soja, girassol e gordura animal e vegetal. No setor de biodiesel, por exemplo, os produtores comemoram, desde março deste ano, o aumento da adição obrigatória de biodiesel ao litro do óleo diesel, que foi de 12% para 14%.

“Para as indústrias de biodiesel, isso representa um novo impulso aos negócios e a possibilidade de retomada do crescimento, já que desde 2023 esse percentual deveria ser de 15%”, afirma Silvio Roman, diretor de biodiesel do grupo Delta Energia e do conselho administrativo da Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio). “Nossa previsão é de que a produção brasileira de biodiesel alcance em 2024 um total de 8,9 bilhões de litros, um aumento de 22% em relação ao ano passado.”

Unidade Boa Vista da São Martinho, com planta de etanol de milho — Foto: Divulgação
Unidade Boa Vista da São Martinho, com planta de etanol de milho — Foto: Divulgação

Com duas usinas, em Rio Brilhante, no Mato Grosso do Sul, e Cuiabá, no Mato Grosso, e capacidade de produção de 1,6 milhão de litros de biodiesel por dia, o grupo Delta vem se consolidando como um dos principais fabricantes de biocombustível no país, segundo Roman. “As duas unidades estão em linha com as iniciativas do governo federal quanto ao incentivo à agricultura familiar.” Todos os insumos para a produção são adquiridos de cooperativas de mais de 800 produtores familiares do Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Alagoas, conta ele.

Para Emerson Kapaz, presidente do Instituto Combustível Legal, as perspectivas de crescimento do setor de biocombustível são muito grandes, e os investimentos que estão sendo feitos em várias frentes, como de combustíveis de aviação, vão tornar os negócios nesse campo muito competitivos. Segundo ele, no ano 2000, os biocombustíveis representavam 15,4% da matriz energética brasileira. Em 2023, chegaram a 27,8%. “Ou seja, 28% do volume de combustíveis já é de fonte energética limpa”, diz.

No entanto, Kapaz chama atenção para uma das preocupações crescentes dos produtores e consumidores de biocombustíveis. “Na hora em que se fala em aumentar os percentuais de mistura obrigatória de 27% para até 35% de etanol anidro na gasolina e de mais biodiesel no óleo diesel, o desafio é conseguir ter maior eficiência no controle do abastecimento aos consumidores para evitar concorrência desleal no setor e as fraudes”, afirma.

Outro setor com perspectivas de crescimento excepcional é o de biogás e biometano, aponta Roberta Godói, vice-presidente de soluções energéticas da Energisa, um dos grandes grupos empresariais privados do setor elétrico brasileiro. “O Brasil é uma fonte inesgotável de insumos para produção de biogás e biometano”, diz ela. Estudos da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás) indicam que o país passará de seis plantas de biometano atualmente em operação para 93 plantas em 2029. A capacidade instalada de produção atual é de 470 mil metros cúbicos de biometano/dia. “Até 2029, a projeção é de o Brasil atingir 6,6 milhões de metros cúbicos de biometano/dia.”

A Energisa, particularmente, segue essa trilha de expansão do biometano, indica a VP da companhia. Em agosto do ano passado, investiu R$ 60 milhões na aquisição da Agric, que atua com compostagem de resíduos orgânicos industriais para produção de biofertilizantes. Os recursos serão utilizados para aprimorar os biodigestores, que convertem os resíduos em biogás, mas também terá foco nos sistemas de produção de biometano a partir do tratamento do biogás, explica Godói. “Em 2024, estão previstos investimentos de mais de R$ 80 milhões na Agric, destinados à implantação das plantas de geração de biometano”, diz.

Em novembro do ano passado, o grupo São Martinho anunciou o início de construção de uma planta de biometano na unidade Santa Cruz, no município de Américo Brasiliense, interior de São Paulo, com a capacidade para produção aproximada de 15,6 milhões de Nm3 de biometano (metro cúbico normal, padrão ANP – Agência Nacional do Petróleo) durante a moagem, e geração de crédito de descarbonização (CBIOS) referentes à produção de combustível renovável. O início da operação está previsto para o segundo semestre de 2025, com investimento de R$ 250 milhões e financiamento do BNDES e da Finep, informa Vicchiato, da São Martinho. “Esta iniciativa adiciona um novo produto ao portfólio da companhia, atrelado às melhores práticas de sustentabilidade.”

A Gás Verde, do grupo Urca Energia, também reforça sua atuação no setor de produção de biometano a partir de resíduos sólidos urbanos. Ela produz atualmente 160 mil metros cúbicos de biometano por dia, utilizados em caldeiras de grandes indústrias, cervejarias, empresas de construção e frota de veículos. Em junho de 2023, adquiriu oito térmicas a biogás, produtoras de energia elétrica, que estão sendo transformadas para produzir biometano nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Maranhão. “Com isso, a produção deve superar 500 mil metros cúbicos/dia até 2026”, informa o CEO Marcel Jorand.

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