A Petrobras, principal fornecedora de derivados no país, está apostando no aumento dessa produção, especialmente de diesel. Para 2024, só de diesel S-10, a projeção da empresa é produzir 658 mil barris/dia, segundo indica apresentação feita ao mercado no fim de janeiro. Em 2023, esse volume foi de 428 mil barris. Para 2030, a meta é chegar a 948 mil barris por dia.
Em fevereiro de 2024, a produção de diesel S-10 da estatal representou 32,35% dentro do volume total de derivados e a gasolina A, 29,78%. Já o diesel S-500 (mais poluente) participou com 18,22%, de acordo com dados do Painel Dinâmico da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Enquanto busca elevar a oferta nacional de diesel, o que já impactou nos volumes importados neste ano, a estatal vive o desafio de segurar preços em meio ao conflito no Oriente Médio. Em 2024, até o fechamento desta edição, a empresa ainda não tinha feito reajustes. O diesel teve última alteração em dezembro passado, com queda de R$ 0,30, e a gasolina, de R$ 0,12 por litro em outubro.
Com a alta do petróleo no mercado internacional, que até meados de abril chegava a cerca de 18% neste ano, a pressão para a estatal mexer nos preços tende a crescer. Segundo a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), a defasagem média dos preços domésticos – considerando Petrobras e outros fornecedores – em relação à paridade internacional estava em 17% para a gasolina e 10% para o diesel, com base no fechamento do mercado no dia 11 de abril.
Para Sergio Araújo, presidente-executivo da Abicom, com o envolvimento do Irã na Guerra de Gaza, a tendência é de alta no valor do barril e derivados no cenário global. “E se já há uma defasagem grande nos preços dos derivados, ela vai aumentar, assim como a pressão sobre a Petrobras”, diz.
Pedro Souza, líder de óleo e gás da consultoria BIP, observa que, embora os conflitos em curso levem a flutuações positivas nos preços do petróleo, “especialmente se houver interrupções na produção ou no transporte de petróleo e gás em regiões-chave”, essa volatilidade pode ser mitigada pelo crescimento previsto de fornecimento fora do OPEP+, destacando Brasil, Guiana, Estados Unidos e Canadá.
A Petrobras deixou de usar o preço de paridade de importação (PPI) como parâmetro para precificar seus derivados em maio de 2023. O PPI levava em conta a cotação do barril de petróleo no mercado internacional, o câmbio, custos de internação do produto e margem de risco.
A nova forma de calcular os preços considera o custo alternativo do cliente – que contempla as principais opções de suprimento – e o valor marginal para a Petrobras, baseado no custo de oportunidade, dadas as diversas alternativas para a companhia.
No ano passado, a Petrobras registrou 92% de fator de utilização (FUT) – medida que considera o volume de petróleo processado em relação à capacidade operacional das refinarias – e a produção aumentou 1,7% sobre o ano anterior, chegando a 1,77 milhão de barris por dia de combustíveis. Seu plano estratégico 2024-2028+ indica R$ 17 bilhões de investimentos em refino, transporte e comercialização. O aumento de capacidade de processamento nas refinarias subirá em 225 mil barris por dia até 2028.
Relatório da StoneX divulgado no começo de abril mostra que, nos primeiros três meses de 2024, as importações de diesel A (puro) caíram 9%, devido à maior produção nacional e ao aumento do percentual de biodiesel no diesel, que começou a valer a partir de março. Já as compras externas de gasolina tiveram queda maior: 20,3% em relação ao mesmo período do ano passado.
De acordo com a consultoria, essa retração é resultado da alta das vendas de etanol hidratado, da maior produção nacional de gasolina e da defasagem entre o preço local e os valores internacionais, o que desestimula as importações.
Outro levantamento divulgado no começo de abril, o relatório anual Outlook 2024, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), calcula uma retração de 1,7% na oferta de gasolina A neste ano, “devido a um mix de produção tendendo a óleo diesel”, com a demanda por gasolina A apontando para elevação de 3,9%. O óleo diesel deverá ter alta de 2,3% na demanda e de 0,9% na oferta.
Os preços, também analisados no relatório do CBIE, tendem a subir. No caso do diesel, estima-se um reajuste de 1,5%, considerando que os valores definidos pela Petrobras estão em torno de 5,5% abaixo da paridade internacional. Assim, indica o estudo, o litro do diesel deve ter uma média nacional de R$ 5,84.
Já a gasolina está com majoração estimada em R$ 0,17 por litro, chegando a um preço médio de R$ 5,67. Pelos cálculos do CBIE, os valores da Petrobras estão cerca de 23,5% abaixo da paridade internacional.
Na ponta de venda ao consumidor também há sinais de crescimento. A Vibra (ex-BR Distribuidora), por exemplo, quer ampliar sua atuação junto ao agronegócio. “O diesel é a principal fonte de energia da agropecuária e seu consumo cresceu 8% nos últimos cinco anos”, lembra o CEO da empresa, Ernesto Pousada.
Segundo ele, a empresa vai trabalhar estrategicamente para se posicionar como um ator relevante nesse segmento, incrementando logística e infraestrutura, entre outras iniciativas, para atender melhor os clientes desse setor, como cooperativas, agroindústria e produtores rurais em geral.
Em 2023, a Vibra concluiu a ampliação da sua base no porto de Belém, aumentando a capacidade de armazenamento em 58%. O investimento somou R$ 90 milhões. Outros R$ 100 milhões serão investidos em logística para atendimento da região Norte.
Para o ano que vem, a empresa prevê as ampliações das bases do Centro-Oeste, incluindo Campo Grande, Dourados – ambas no Mato Grosso do Sul – e Cuiabá (MT). Há ainda outras expansões previstas para 2025. Uma delas é a da base de Maceió (AL). Outra é de Suape (PE). Ambas visam reduzir os custos para a cabotagem de biocombustíveis. As ampliações pelo Brasil seguem em 2026, quando será a vez de Cabedelo (PB) e Vitória (ES).