Revista Agronegócio
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Por Simone Goldberg


Complexo de Rio Grande (RS) da Yara, que usará 100% da capacidade — Foto: Divulgação
Complexo de Rio Grande (RS) da Yara, que usará 100% da capacidade — Foto: Divulgação

O desafio brasileiro de reduzir sua dependência de fertilizantes importados – o país compra 85% de suas necessidades no exterior – está de volta aos holofotes. Em junho, o governo montou um grupo de trabalho para revisar as metas do Plano Nacional de Fertilizantes (PNF) e várias empresas do setor fazem novos investimentos.

Mosaic, Yara, Viter e Morro Verde são algumas protagonistas desse movimento. Os aportes têm como objetivo a construção e modernização de unidades, expansão da capacidade de distribuição e parcerias com foco em produto sustentável. As maiores compras de fertilizantes no país são para as culturas de soja, milho, cana-de-açúcar, algodão e café, entre outros.

“O movimento de compra de fertilizantes vem sendo puxado pela safra recorde de grãos no Brasil”, diz Eduardo Monteiro, country manager da Mosaic Fertilizantes, que, destaca, anunciou neste ano investimentos superiores a R$ 1,2 bilhão.

Monteiro, da Mosaic: aportes de R$ 1,2 bilhão neste ano — Foto: Divulgação
Monteiro, da Mosaic: aportes de R$ 1,2 bilhão neste ano — Foto: Divulgação

Uma das instalações contempladas com recursos é o Complexo Mineroquímico de Taquari-Vassouras, em Rosário do Catete (SE), que produz potássio – insumo do qual o Brasil é bastante dependente de importações. O empreendimento terá sua vida útil ampliada de 2024 a 2030, ganhando novos equipamentos e melhorias de infraestrutura. Com isso, a empresa quer elevar a produção de 300 mil toneladas para 450 mil toneladas por ano. Também será erguida nova unidade no Tocantins para mistura, armazenagem e distribuição de fertilizantes. “No primeiro ano, serão 500 mil toneladas, chegando à capacidade produtiva anual de 1 milhão de toneladas em 2028”, diz.

Segundo Monteiro, embora a situação geopolítica ainda seja um tema sensível por causa da continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia – o Leste Europeu é um grande fornecedor de fertilizantes para o Brasil –, os níveis de estoque nacionais estão estáveis.

Outra que aposta em 2023 como ano de retomada, principalmente para os fertilizantes especiais, é a Yara Brasil. Seu diretor de desenvolvimento de mercado, Guilherme Schmitz, diz que esse nicho de insumos tem crescido a taxas superiores aos demais fertilizantes. “Por conta do valor que agregam para o agricultor, com o aumento da produtividade e rentabilidade”, observa.

Este ano, o Complexo de Rio Grande (RS) da Yara trabalhará com 100% de sua capacidade produtiva pela primeira vez. O parque industrial recebeu investimentos de R$ 2,1 bilhões entre 2016 e 2022. Em 2023, outros R$ 150 milhões serão aplicados em melhorias operacionais. A capacidade plena de granulação de fertilizantes é de 1,2 milhão de toneladas por ano. Já para distribuição, mistura e ensaque, o complexo é capaz de processar 2,2 milhões de toneladas anuais. A Yara também está apostando em biofertilizante e em novos lançamentos no mercado nacional.

Em 2024, a empresa começará a receber os primeiros lotes de biometano da Raízen, fruto de uma compra de longo prazo fechada em 2021. O insumo, que substituirá o gás natural, possibilitará à Yara iniciar a produção de amônia verde e fertilizante verde. “Em relação ao fertilizante verde, inclusive, a Yara tem uma parceria com a Cooxupé, a maior cooperativa de café do mundo, para fornecer o insumo a partir de 2024.”

Já a Viter, unidade de negócio de insumos agrícolas da Votorantim Cimentos, ampliou neste ano sua parceria comercial, firmada inicialmente em 2021, com a Morro Verde Fertilizantes. O objetivo é aumentar a capacidade de produção de calcário agrícola com alto teor de magnésio em Minas Gerais. O acordo inclui aquisição de equipamentos, melhorias e ampliações das estruturas de armazenagem e carregamento.

“O mercado atendido é majoritariamente dos cultivos de cana-de-açúcar, café, citros e grãos”, afirma o gerente-geral da Viter, Marcelo Giuliano de Sousa. A Morro Verde, por sua vez, produz insumos agrícolas com bases minerais de fosfato, potássio e é focada em oferecer soluções para a agricultura bioregenerativa de baixo carbono.

Segundo Sousa, apesar do atraso nas compras de fertilizantes observado nos últimos meses, a proximidade da safra 2023/24 deve dar impulso às aquisições. A Viter, por contar com um produto nacional, não sofre grandes abalos com as variações cambiais.

“Devido a não indexação com o dólar americano, conseguimos manter os preços mais estáveis, enquanto as matérias-primas importadas sofreram fortes oscilações para cima e para baixo”, diz Sousa. Ele está otimista para 2024. “Acreditamos que um crescimento econômico global no cenário pós-pandemia deva impulsionar a demanda por alimentos, refletindo em melhores preços.”

De acordo com o presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), Roberto Levrero, a dinâmica do mercado está diferente neste ano. “A redução dos preços das commodities agrícolas, a valorização do real e o movimento de readequação dos preços dos fertilizantes convencionais estão retardando a decisão de compras de insumos pelo produtor.”

A expectativa do setor, diz ele, é de que os negócios destravem nos próximos dois meses, “uma vez que não há uma percepção consistente de redução na área plantada”. Levrero destaca que os fertilizantes especiais apresentaram crescimento médio anual de 23,8% no período 2014 a 2022 e o aumento de adoção tem se dado em todas as culturas, com maior ou menor intensidade.

Para a sócia da KPMG e líder de agronegócio, Giovana Araújo, o cenário atual é desafiador, embora a relação de troca entre fertilizantes e grãos, como a soja, tenha voltado a ficar atrativa, “o que deve impactar positivamente as vendas visando o plantio da soja em setembro”. Ela aponta que, após os elevados investimentos realizados no ciclo de produção 2022/23, os produtores têm hesitado em comprar insumos. “Por conta do atraso na comercialização dos grãos e em um contexto adverso marcado por desafios climáticos, queda das cotações e elevadas taxas de juros”, diz Giovana.

Dados da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda) mostram que, de janeiro a abril deste ano, as entregas de fertilizantes ao mercado brasileiro totalizaram 10,87 milhões de toneladas, queda de 4,4% em relação a igual período de 2022.

Já a produção nacional de fertilizantes intermediários ficou, no acumulado do quadrimestre, 12,7% menor do que no mesmo período de 2022, somando 2,2 milhões de toneladas. As importações chegaram a 10,89 milhões de toneladas, uma redução de 3,7% em comparação aos quatro primeiros meses de 2022.

Em meados de junho, o Conselho Nacional de Fertilizantes (Confert), composto por integrantes de diversos ministérios, criou um grupo de trabalho para revisar o Plano Nacional de Fertilizantes (PNF), criado na gestão Bolsonaro e que agora precisa ser adequado à visão do governo Lula. A meta-base é cortar em cerca de 50% a dependência de importações até 2050. O prazo para a entrega da revisão é de 90 dias.

Outros temas na pauta do Confert são a necessidade de aumentar a oferta de gás natural para a produção de compostos nitrogenados e de pesquisar e explorar possíveis reservas de fósforo e potássio, levando em conta questões ambientais e sociais, além da criação de um centro de excelência de fertilizantes.

O Conselho também considera o uso de pó de pedra em substituição ao potássio em alguns compostos na fabricação de fertilizantes e a expansão do programa Caravana FertBrasil, da Embrapa, que leva tecnologia e conhecimento a produtores rurais. Tais temas estarão na agenda das seis câmaras técnicas em formação pelo Confert.

Análise da consultoria Datagro indica que o nível de estoques de fertilizantes no país está elevado, principalmente por conta do alto volume importado em 2022 em decorrência das incertezas do cenário global. Por isso, a demanda tem oscilado de maneira mais tímida no primeiro semestre deste ano. Segundo o levantamento, após os choques provocados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, o mercado mundial tem mostrado sinais de maior equilíbrio entre oferta e demanda em 2023. Fornecedores como Canadá, Estados Unidos e China ampliaram suas produções de fertilizantes químicos, em especial os potássicos. Também surgiram novos players como Nigéria, Omã e Jordânia.

Além disso, segundo a Datagro, os fertilizantes russos não pararam de chegar aos portos brasileiros, porque os dois países mantiveram seus acordos feitos antes do estouro da guerra, no fim de fevereiro de 2022. “A expectativa, portanto, é de que em 2024 o comportamento do mercado de fertilizantes retorne ao patamar de antes da pandemia, tanto nas entregas quanto nos preços.”

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