Paraná
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Por Vinicius Konchinski — Para o Valor, de Curitiba


Nova ligação Brasil- Paraguai, a Ponte da Integração, em Foz do Iguaçu, deve ser liberada para cargas em 2025 — Foto: DER/Divulgação
Nova ligação Brasil- Paraguai, a Ponte da Integração, em Foz do Iguaçu, deve ser liberada para cargas em 2025 — Foto: DER/Divulgação

A ofensiva para reforçar a infraestrutura de transporte do Paraná busca aumentar a integração de sua população e empresas com territórios vizinhos, tanto brasileiros quanto estrangeiros. O objetivo do governo é transformar o Estado num hub logístico da América do Sul, já que ocupa uma região privilegiada no continente. Está no meio do caminho para quem viaja de São Paulo para o Sul do Brasil - e da carga que sai de Santa Catarina e Rio Grande do Sul em direção ao restante do país. Também é passagem para quem vai da região ao Centro-Oeste, passando pelo Mato Grosso do Sul. Ainda faz fronteira com a Argentina e o Paraguai.

Por isso tudo, está relativamente próximo a boa parte das riquezas produzidas no Cone Sul. A um raio de 1.000 km do Estado, concentra-se 70% do Produto Interno Bruto (PIB) continental, incluindo o que é feito desde o norte do Uruguai até o sul de Goiás. A 1.500 km, estão US$ 1,7 trilhão em produção anual - isso é quase o PIB de todo o Brasil em 2022, R$ 9,9 trilhões. Ademais, o Paraná já cumpre papel estratégico para exportações brasileiras e estrangeiras por meio de seu maior porto, o de Paranaguá, o segundo mais movimentado do Brasil. O Paraguai, por exemplo, país sem acesso direto ao mar, usa o terminal para despachar sua soja para a Ásia.

A ideia é que o tal hub logístico facilite esse escoamento, mas também beneficie a economia local. Nelson Costa, superintendente da Federação e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Fecoopar), ressalta que as principais cooperativas agropecuárias do Estado têm associados produzindo no país vizinho, que enviam principalmente grãos para serem processados na crescente agroindústria paranaense. Além disso, Argentina e Paraguai são hoje grandes compradores de óleo e carnes de frango e suína das cooperativas paranaenses, entre outros produtos. Os dois são o segundo e o décimo maiores destinos de exportação do Estado no ano, respectivamente, de acordo com o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

Não é por acaso que o principal projeto de infraestrutura local, a Nova Ferroeste, preveja extensões ferroviárias até Guaíra (640 km de Curitiba), na divisa com o Paraguai, e Foz do Iguaçu (635 km da capital), na tríplice fronteira. Luiz Henrique Fagundes, coordenador do Plano Estadual Ferroviário, afirma que o ramal ferroviário até Foz faz parte de um plano ainda mais ambicioso: a criação de uma ferrovia interligando o Paranaguá ao Porto de Antofogasta, no Chile, na costa do Pacífico. Por enquanto o projeto é embrionário, até porque a Nova Ferroeste sequer tem todas as licenças necessárias para ir a leilão, o que deve ocorrer só no início de 2025. Mesmo assim, é tratado com seriedade não só no Paraná, mas também pelo governo federal e por autoridades paraguaias.

No dia 6, a ministra Simone Tebet, do Planejamento e Orçamento, apresentou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) um relatório do Subcomitê de Integração e Desenvolvimento Sul-Americano com obras do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) consideradas estratégicas para o desenvolvimento regional. O documento cita Nova Ferroeste e prevê sua ligação, em Foz, com uma ferrovia ou rodovia que passaria por Assunção, no Paraguai, e chegaria ao Chile. O ministério não deu detalhes sobre o projeto; informou apenas que o conteúdo do relatório não é público.

O governador do Estado, Ratinho Junior, afirmou ao Valor que discutiu o projeto com o presidente do Paraguai, Santiago Peña, em visita a ele em setembro. Peña teria demonstrado interesse na construção de uma ferrovia bioceânica e, inclusive, levantado a possibilidade de Itaipu Binacional contribuir com a obra, reforçando a importância dela passar por Foz do Iguaçu, sede da hidrelétrica.

Itaipu concluiu em fevereiro o pagamento do empréstimo tomado para sua construção, há 50 anos. Os governos do Brasil e do Paraguai discutem agora o que fazer com recursos obtidos com a venda da energia produzida pela usina e que não precisarão mais ser destinados às parcelas do financiamento. Nos bastidores, acredita-se que o governo do Paraguai estaria disposto a usá-los no trecho paraguaio da ferrovia bioceânica. Quem acompanha de perto o projeto diz que isso envolve acordos diplomáticos negociados sob sigilo.

Itaipu já se comprometeu a investir R$ 510 milhões na construção da nova ponte entre Brasil e Paraguai, a Ponte da Integração, e de suas vias de acesso. A ponte será dedicada ao tráfego de cargas rodoviárias e deve estar liberada em 2025. Fernando Moraes, presidente da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap), avalia que a nova ponte vai desafogar o trânsito na Ponte da Amizade, inaugurada em 1965, e melhorar a interligação produtiva entre os dois países. “A Ponte da Amizade já não comportava mais o transporte de cargas, acumulado com o de passageiros e turistas”, afirma.

A ponte terá ligação com a rodovia BR-277, que faz parte do “Anel de Integração” do Paraná e chega a Paranaguá. Está no pacote de concessões rodoviárias que prevê investimentos de R$ 50 bilhões.

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