O Paraná vem sofrendo, em épocas alternadas, com intempéries climáticas. Há dois anos, uma seca inclemente provocou perdas das safras de soja e milho estimadas em mais de R$ 30 bilhões, de acordo com a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab-PR). Agora é o excesso de chuvas que assombra os produtores paranaenses. Estradas rurais tornaram-se intransitáveis, pontes foram levadas pelas águas, isolando comunidades e afetando o escoamento da produção, lavouras e granjas foram inundadas.
“O maior risco, especialmente para os produtores de trigo e cevada - que, até o fim de outubro, tinham colhido 84% dos 1,4 milhão de hectares de trigo e 36% dos 87,3 mil ha de cevada -, é a quebra na produção e a perda da qualidade do produto”, diz o secretário Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara.
No sul do Estado, as duas culturas e o milho foram bastante prejudicadas. “A produtividade está abaixo do inicialmente esperado e, para piorar, a qualidade do produto não é das melhores. Houve relatos de áreas desclassificadas para a indústria cervejeira e panificação, que estão sendo destinadas à ração animal devido ao excesso de chuvas”, informa em boletim o Departamento de Economia Rural (Deral), órgão vinculado à Secretaria da Agricultura e do Abastecimento. No trigo, cerca de 30% da área plantada no Estado foi prejudicada. De acordo com o órgão, “estão remunerando de forma distinta o produto colhido antes e depois das chuvas”.
As perdas atingiram a produção agropecuária em várias regiões, segundo a Coordenadoria Estadual da Defesa Civil. No núcleo regional de Francisco Beltrão, o município de Ampére (530 km de Curitiba), no sudoeste do Estado, apresentou perdas de 91 mil sacas de soja, 16,6 mil sacas de milho, 16 mil litros de leite e 5 mil quilos de peixes, de acordo com o coronel Fernando Schunig, coordenador da Defesa Civil do Paraná.
Vários municípios relataram estragos em estradas rurais, muitos danos em lavouras recém-plantadas, que provavelmente precisarão de replantio, e erosão. Em Ortigueira (255 km da capital), na região central, levantamento preliminar aponta para perda de 80% em olericultura (produção de hortaliças) a céu aberto, 70% em qualidade do trigo, 10% da produção de leite e 30% da de mel.
O Deral aponta que o feijão vem se desenvolvendo lentamente no Estado devido ao solo encharcado, com risco de queda na produção. Na região noroeste, as enchentes causadas pelo rio Ivaí afetaram áreas recém-plantadas de arroz.
O Paraná tem uma produção muito diversificada e o impacto das chuvas em excesso foi generalizado. “Todas as culturas importantes, além da pecuária leiteira e da produção das granjas de frangos, foram afetadas fortemente”, diz Natalino Avance de Souza, presidente do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná - Iapar-Emater (IDR-PR).
“Somos um Estado eminentemente agrícola, com 305 mil estabelecimentos rurais, dos quais 85% de pequenos agricultores e agricultura familiar”, afirma Souza. “Com um Valor Bruto de Produção (VPR) da ordem de R$ 192 bilhões, esses eventos climáticos mais recentes podem impactar seriamente a base de toda a economia do Estado.”