O uso sem cuidados de agrotóxicos é a principal causa de mortes das abelhas, que chegam a atingir meio bilhão de insetos por ano. Responsáveis pela polinização de mais de 90% das plantas nativas e 75% das lavouras, as abelhas se tornaram um novo negócio para startups que vem criando tecnologias para sua conservação. A GeoApis, de Piracicaba (SP) desenvolveu uma plataforma com o objetivo de apaziguar as relações entre produtores rurais e criadores de abelhas, que utiliza georreferenciamento para fazer o diagnóstico dos territórios onde estão as lavouras e as colmeias. Assim, quando o produtor rural fizer algum manejo envolvendo produtos químicos, um alerta é emitido aos apiários e meliponários num raio de até seis quilômetros no entorno, de modo que os criadores possam proteger as abelhas do risco de contato.
A ideia do negócio surgiu a partir de um diagnóstico de campo realizado em 2014 pela engenheira agrônoma Elaine Bassi a pedido de uma empresa de defensivos químicos, que buscava entender a relação entre os produtos e a mortandade das abelhas. Logo percebeu que havia demanda por parte de outras empresas, e levou o projeto, que viria a ser o embrião da startup, para a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (A.B.E.L.H.A), onde ficou incubado.
A Associação se tornou o "cliente anjo" da GeoApis, impulsionando a demanda pelos serviços pelo boca a boca, o que surpreendeu a empreendedora. "Vi que o agronegócio precisava de uma consultoria altamente especializada em abelhas, que construísse tecnologias e pontes para uma convivência harmoniosa", diz Bassi.
Nos últimos cinco anos, a startup saiu de uma área monitorada piloto de 1.000 hectares para 600 mil hectares, especialmente nas culturas de soja e cana-de-açúcar nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul. No interior de São Paulo, a tecnologia chamou a atenção de usinas de açúcar e etanol, que têm desenvolvido projetos para monitorar e frear perdas de abelhas - o grupo São Martinho foi uma das primeiras empresas do setor a fechar contrato com a GeoApis, dando origem ao Projeto Abelhas, que monitora as áreas vizinhas às lavouras nas usinas do grupo, num total de 313 mil hectares.
Renata Camargo, gerente de sustentabilidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica) explica que, embora a cultura da cana-de-açúcar não seja polinizada pelas abelhas, a presença delas no entorno dos canaviais é um indicador de qualidade ambiental. "A presença de abelhas, especialmente as nativas, são indicadores de equilíbrio sistêmico no entorno das atividades produtivas e de recuperação das áreas de preservação permanente".
Os protocolos verdes assinados entre usinas e o governo paulista desde meados dos anos 2000, que puseram fim à queima como método agrícola pré-colheita, também incentivaram projetos de proteção à biodiversidade nas usinas, que incluem, além do monitoramento de apiários e meliponários, apoio técnico aos criadores e medidas de segurança na aplicação de defensivos, especialmente pela via aérea.
Aumentar a presença de abelhas nativas no meio urbano foi a motivação que deu origem ao negócio da Mais Abelhas, startup incubada no Parque Científico e Tecnológico da PUC do Rio Grande do Sul (TecnoPUC), em Porto Alegre. A empresa desenvolve colmeias com design inspirado na natureza voltadas à meliponicultura, que é a criação de abelhas sem ferrão, nativas do território brasileiro - a atividade difere da apicultura, que é a criação de abelhas Api mellifera, de origem africana ou europeia. O público alvo que a startup mira é o nicho de pessoas que vivem nas cidades, em casas ou apartamentos, que buscam criar abelhas nativas como hobby, produzindo mel para consumo doméstico e para evitar que as espécies entrem em extinção, explica Charles Fernando dos Santos, cofundador da Mais Abelhas.
"Existe uma corrente fora do Brasil, que começa a chegar aqui, de se criar abelhas como se fossem animais de estimação. Esses criadores querem ter uma colmeia no jardim, pois entendem que elas trazem benefícios ambientais e até terapêuticos", diz. A abelha jataí (Tetragonisca angustula) é uma das espécies mais procuradas, e contribui para a polinização de hortas urbanas, além de produzir um mel de sabor suave. Finda a etapa do desenvolvimento das colmeias artificiais, a ideia é vender sob encomenda, no e-commerce próprio da marca.