A ideia de negócio com base no valor da floresta nasceu no jardim, quando uma paisagista comentou com Gilberto Derze o valor dos pés de mogno plantados ali. Em 2015 ele fundou a Radix, para reflorestamento de áreas degradadas. Depois de teste com mogno africano em 10 hectares da fazenda do sogro em Minas Gerais, a operação ganhou escala com mais 200 hectares em Roraima.
O apoio de “crowdfunding” pela plataforma SMU reuniu R$ 6 milhões, de mais de mil investidores, e está em sua décima rodada, com título tokenizado e mercado secundário. Outros R$ 1,3 milhão do Fundo Vale estimularam a chegada de espécies nativas como ipê, maçaranduba, andiroba, cumaru, paricá, diz Derze.
O potencial financeiro das florestas em pé foi mais recentemente estimulado pelo avanço do mercado voluntário de crédito de carbono (CO2) nas modalidades REDD+ (conservação de áreas com risco de desmatamento), ARR (plantio onde não havia floresta ou em áreas desmatadas) e ALM (boas práticas em agricultura ou pecuária), explica Janaína Dallan, presidente da Aliança Brasil Nature-based-Solutions (NBS), organização nascida em 2021 para fomentar o setor desenvolvendo projetos e conectando parceiros.
A cadeia da atividade inclui de proprietários de terra e comunidades a estruturadores de projetos, certificadores, financiadores e compradores de créditos para compensar emissões. Uma das pioneiras é a BMV Global, que surgiu em 2007 e definiu 27 serviços ecossistêmicos relacionados à lavoura de conservação, como cobertura do solo para absorver água e evitar erosão ou manutenção de habitat para fauna, diz a fundadora e CEO Maria Tereza Umbelino.
Com isso, definiu a unidade de crédito de sustentabilidade (UCS), referente a 1 tonelada de CO2. Hoje são 75,5 milhões de UCS registradas na B3, com valor em torno de R$ 11 bilhões de mais de 1 milhão de hectares distribuídos em vários Estados. Em 2024, o grupo lançou a plataforma Mundi, para distribuir UCS em forma de tokens e NFTs.
A Belterra nasceu em 2019 para recuperação ambiental e produtividade de pequenos e médios produtores. Atua com sistemas agroflorestais e no ano passado criou a Rio Capim Agrossilvipastoril para promover o conceito na pecuária. Com investidores como Vale, Cargill, Amazon e Fundo JBS, hoje seu principal sistema agroflorestal é o cacau na Amazônia. “Buscamos novas cadeias, como palma de óleo no Pará”, diz o CEO Valmir Ortega.
Para Vincent Gradt, co-fundador e diretor-gerente da Impact Earth, produtos como cacau e macaúba são candidatos a destaques mundiais. O primeiro pode fazer o país passar de importador para exportador, enquanto a palmeira nativa resiliente a secas tem capacidade de fornecer matéria-prima para combustível renovável de última geração.
A Impact Earth assessora o fundo Amazon Biodiversity Fund Brasil, que tem R$ 250 milhões comprometidos e oito empresas financiadas. Uma delas é a Inocas Amazonia, criada em 2022 para impulsionar modelos agroflorestais e silvopastoris com macaúba. A meta agora é consorciar a palmeira com mandioca e alcançar 5 mil hectares.
O Fundo Vale, por sua vez, já investiu R$ 360 milhões em 340 iniciativas, somando 12,6 mil hectares de áreas recuperadas por sistemas sustentáveis. Inocas e Belterra estão entre as apoiadas.
A estratégia é catalisar recursos de fontes diversas e apoiar programas como a Jornada Amazônica, que já incubou 200 startups e acelerou 21. “O fundo criou a aceleradora AMAZ, com 18 negócios e R$ 25 milhões para os próximos cinco anos”, diz a a gerente de Amazônia e parcerias Márcia Soares.
A união de Vale, Itaú, Marfrig, Rabobank, Santander e Suzano deu origem à Biomas, que desenvolve o projeto, produz e vende crédito de CO2 para financiar a restauração de ecossistemas, diz a diretora de assuntos regulatórios e comunicação Natália Renteria. Já a Mombak mira sequestro de CO2 em larga escala com reflorestamento da Amazônia - já plantou 3 milhões de árvores de mais de 100 espécies em Mãe do Rio (PA).
A Mombak tem contratos com marcas como McLaren e Microsoft e é gestora do Fundo de Reflorestamento da Amazônia, com R$ 500 milhões. Em 2023, investiu R$ 4,5 milhões em dez viveiros de mudas nativas e responde pela operação. “O produtor parceiro recebe parte do lucro dos créditos de carbono comercializados”, afirma o head de políticas públicas Caio Franco.
A ascensão dos negócios de carbono estimulou o surgimento de certificadoras locais. Uma delas é a Tero Carbon, plataforma de certificação, verificação e registro de ativos ambientais em NFTs. Segundo o CEO Francisco Higuchi, até o momento são dois projetos certificados e mais de 2,4 milhões de créditos verificados e gerados.