Mulheres de negócios
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Por Adriana Fonseca — Para o Valor, de São Paulo


Ana Cunha, da Kinross, criou o movimento Pretas na Mina, para estimular mudanças — Foto: Divulgação
Ana Cunha, da Kinross, criou o movimento Pretas na Mina, para estimular mudanças — Foto: Divulgação

Empresas de mineração e energia vêm implementando programas para ampliar a participação de mulheres em seus quadros. Um levantamento da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena) identificou que, nesse segmento, elas representam um terço da mão de obra, enquanto no setor de energia em geral não chegam a ocupar um quarto das vagas.

Na mineração, ocupam só 17,6% dos postos, segundo o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). As mineradoras assumiram o compromisso de elevar a participação feminina para 30% até 2030. Nos cargos de liderança, o percentual passou de 18,7%, em 2021, para 20,7% no ano seguinte. “As empresas brasileiras enxergam a necessidade da diversidade e entendem que as vozes com todos os tons e suas origens trazem contribuições e enriquecem o trabalho das companhias”, afirma Raul Jungmann, diretor-presidente do Ibram.

O programa Elas por Elas incentiva o crescimento das profissionais na Bamin, que atua na Bahia, por meio do compartilhamento de experiências e conhecimento. “Algumas das principais lideranças femininas da Bamin receberam a missão de mentorar outras colegas mulheres em encontros estruturados, em que puderam juntas estabelecer metas e um cronograma de desenvolvimento e reflexão sobre diversos temas do universo profissional”, diz Rosane Santos, diretora de ESG da empresa, onde 25% da equipe e 23% da liderança são compostos por mulheres.

Na Kinross, que atua em Minas Gerais, elas são 13,4% do quadro e o dobro, 27%, no C-level. A mentoria também foi o caminho para aumentar esses números. “É uma iniciativa global da empresa [sediada no Canadá] que promove práticas de networking e de fortalecimento da capacidade de liderança, além de discutir temas relacionados ao autoconhecimento das participantes”, diz Ana Cunha, diretora de responsabilidade social.

A companhia tem aumentado o número de mulheres nas novas contratações, saindo de 21% em 2020 para 35,4% em 2023, e lançou um programa de qualificação para moradoras da comunidade. Cunha destaca que uma seleção recente para 30 vagas para operar grandes caminhões teve mais de 900 inscrições, mostrando o interesse de mulheres para uma função tradicionalmente masculina.

A executiva, junto com Laura Queiroz, gerente de mineração do Reino Unido no Brasil, criou o movimento Pretas na Mina, que traz um olhar para o marcador racial. Hoje, mulheres pretas são 9% da presença feminina do setor, e as pardas, 45%, segundo o relatório Women in Mining Brasil 2023. Há somente 2% de pardas nos cargos de gestão. A pesquisa não computou nenhuma mulher preta em cargos de gestão porque desconsidera percentuais abaixo de 1%. “Ou seja, a minha posição não está representada no relatório, já que o número é tão baixo que é desconsiderado”, afirma Cunha.

No setor de energia, a Scatec, empresa norueguesa de renováveis, tem 30% de mulheres globalmente. No Brasil, são 39%. Em cargos de gestão, são 30% e 45%, cada. A companhia definiu como um de seus indicadores de desempenho aumentar a presença de mulheres. Globalmente, 32% de todas as promoções e novas contratações para cargos de gestão em 2023 foram profissionais do gênero feminino.

A capacitação é outra frente. “No Brasil, nos associamos ao Itec [escola de treinamento] para treinar 120 mulheres como montadoras de painéis solares e conduzimos um processo de contratação focado em mulheres para operações e manutenção”, diz Raquel Araújo, head global de marketing e engajamento e colíder global de diversidade, equidade, inclusão e pertencimento na Scatec.

Na AES Brasil, 31,3% são mulheres, e nas posições de gestão, 27%. Erika Lima, diretora de estratégia e ESG, diz que a companhia tem processos de capacitação e políticas voltadas às funcionárias. Em dois novos complexos eólicos, Tucano (BA) e Cajuína (RN), a AES montou equipes de operação manutenção 100% femininas após capacitação em parceria com o Senai. “É um marco importante, que está intrinsecamente ligado a um projeto cuidadoso de diversidade, equidade e inclusão”, diz a executiva.

A Origem Energia, presente em Alagoas, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Bahia, não tem metas para o aumento da presença feminina, mas isso vem acontecendo naturalmente, diz a fundadora, a engenheira de petróleo Luna Viana. Mulheres são um quarto dos profissionais e um terço da liderança. “Esse crescimento tem ocorrido porque há mulheres que são ótimas profissionais e estão se encaixando perfeitamente com as oportunidades que temos em aberto.”

Ela pontua, no entanto, que ainda é um desafio encontrar mulheres com experiência em áreas operacionais, em que a maior parte dos profissionais disponíveis no mercado são homens. “Contudo, observamos que é cada vez maior o número de mulheres oriundas da engenharia e de carreiras técnicas que optam por exercer funções no campo”, afirma Viana.

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