Levantamento feito pelo Sebrae revela que apenas 6% das empreendedoras contaram com auxílio de instituições financeiras para abrir seus negócios e a maioria (78%) começou com recursos próprios. O baixo acesso a crédito limita a expansão dos negócios. Seis em cada dez mulheres empreendedoras faturam até R$ 2,5 mil por mês e apenas 17% conseguem chegar a R$ 5 mil mensais, segundo a pesquisa IRME 2023, feita pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora em parceria com o Instituto Locomotiva.
“O fato do empreendedorismo feminino ser reconhecido é um avanço, assim como a percepção de que haver mulheres à frente de negócios provoca impacto econômico e social, uma vez que elas investem na educação dos filhos, no bem-estar da família e no entorno onde atuam”, diz Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, que já impactou mais de 10 milhões de pessoas.
Foi por necessidade, realidade para uma fatia considerável de quem inicia o próprio negócio, que Natália Martins, fundadora do Natália Beauty Group - ecossistema composto por clínica, filiados, universidade shop, unidades próprias, franquias e instituto social com presença na América Latina, Europa, Estados Unidos e Japão -, transformou o design de sobrancelha em uma ferramenta para empoderar mulheres.
“Em 2017, quando comecei, atendia dez clientes por dia. Com a força das redes sociais e o boca a boca, a demanda se multiplicou com uma rapidez impensável. Passei a treinar mulheres que, como eu, buscavam independência financeira”, lembra Martins. Mais de 520 mil mulheres já foram capacitadas nos cursos on-line e presenciais, entre elas, 300 detentas de uma penitenciária feminina, 30 internas da Fundação Casa e 550 da Casa da Mulher Brasileira, que atende vítimas de violência doméstica. O faturamento estimado para este ano é de R$ 70 milhões.
“Ousadia é uma característica que precisa ser exaustivamente cultivada para não murchar. Caso contrário, nos leva a não enxergar as grandes ideias”, diz a criadora da Natália Beauty”. “Em minhas palestras, insisto que o valorizar o primeiro passo é mais importante do que enxergar o topo da montanha. O primeiro passo não trará tudo, mas sem ele, a ideia não se torna realidade”.
A empresária, que sempre trabalhou com dinheiro próprio, reconhece que a dificuldade de acesso a crédito é um dos entraves da expansão do empreendedorismo feminino. “Além da dificuldade de acesso ao mercado, faltam crédito, linhas de inovação, investidores-anjo e um olhar mais atento do venture capital”, corrobora Fontes.
Pesquisa da VC Female Founders Dashboard mostra que o capital investido em startups lideradas por mulheres caiu de 2,6% em 2019 para 2,1% em 2023. Segundo o Boston Consulting Group, empresas fundadas por mulheres recebem menos investimento de capital de risco que as criadas por homens, embora garantam mais renda acumulada num período de cinco anos. Para cada US$ 1 investido na empresa, elas geraram US$ 0,78 e eles, US$ 0,31.
Foi disposta a mudar esse cenário que Carolina Gilberti fundou, em 2022, a Mubius Womentech Ventures. Nos 18 primeiros meses, captou R$ 1,5 milhão. A meta é fechar a primeira rodada de investimentos com R$ 1,8 milhão. Hoje, são dez startups no portfólio. Até dezembro serão mais oito.