Os bancos de desenvolvimento brasileiros vêm ampliando seus financiamentos a projetos de combate às mudanças climáticas. Principais fontes de recursos para iniciativas de mitigação e adaptação, várias dessas instituições reformularam, nos últimos anos, seus planejamentos estratégicos de modo a ampliar metas e mobilização de capital para fomento à economia de baixo carbono. O resultado foi o aumento do funding destinado a projetos climáticos e diversificação das fontes de captação.
Exemplos não faltam. O mais recente, e emblemático, foi a criação inédita no fim de 2023, durante a COP27, da Coalizão Verde, aliança de 20 bancos de fomento voltada para crescimento sustentável na Amazônia. O objetivo é mobilizar entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões para o desenvolvimento sustentável na região até 2030.
A coalizão é presidida pelo BNDES, que ganhou destaque no último ano, passando a contar com recursos de vulto. Em abril, o banco recebeu R$ 10,4 bilhões de uma só tacada para seu Fundo Clima (FC), maior iniciativa de redução de emissões provenientes de desmatamento e degradação florestal do mundo (REDD+). O valor é recorde na história do fundo, gerido pelo banco. Entre 2011 e 2022 o FC recebeu R$ 2,5 bilhões. “É um salto, uma mudança qualitativa e, junto, houve atualização de suas aplicações. Outra grande inovação é o hedge cambial do Tesouro [que permitirá redução de taxas de juros nas operações]. O grande desafio das captações internacionais é o risco cambial, que torna as operações muito caras”, afirma Gabriel Aidar, superintendente de planejamento do BNDES.
Os novos recursos permitirão que o fundo se torne uma espécie de “FAT verde”, já que a receita obtida com os pagamentos dos empréstimos voltará para sua carteira, gerando fluxo contínuo. Segundo Aidar, há previsão de novas captações em 2025, provavelmente nesse mesmo valor. “Temos perspectivas de demanda forte para investimentos verdes. Estamos criando um mecanismo que pode trazer muitos recursos para uma transição climática justa no Brasil”, diz.
O Fundo Amazônia, outro administrado pelo BNDES, atingiu R$ 1,3 bilhão em aprovações em 2023, depois de quatro anos sem aprovar nada ou receber doações. O volume é recorde.
O ritmo acelerado e as projeções positivas para os próximos anos entraram na agenda de instituições regionais. O Banco do Nordeste (BNB) e o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), além de ampliarem a participação desses desembolsos, diversificaram fontes de recursos para fazer frente ao aumento da demanda. O BDMG planeja alcançar US$ 100 milhões este ano em crédito para projetos de impacto socioambiental.
A conta da instituição mineira inclui recursos dos bancos de investimento Aiib, da Ásia, CAF (América Latina e Caribe) e o europeu BEI, este último em negociação avançada. Além disso, está em análise pelo Tesouro Nacional a primeira operação do BDMG com o NDB - o Novo Banco de Desenvolvimento, também chamado de “banco dos Brics”-, que receberá aval da União de US$ 200 milhões. A expectativa é que o contrato seja assinado ainda neste ano. Os recursos farão parte do programa de infraestrutura e desenvolvimento sustentável de Minas Gerais.
“Desde 2019 [o financiamento climático] tomou dimensão de extrema importância. A partir de então, fomos buscar recursos adequados, que permitem oferecer crédito mais barato e com prazos mais longos. Temos crescido ano a ano nos projetos de sustentabilidade”, afirma o presidente do BDMG, Gabriel Viegas.
O Banco Nordeste, principal financiador de energia renovável da região, também ampliou suas captações externas - do alemão KfW, do CAF e do africano AfDB - para fazer frente ao aumento da demanda. “A sustentabilidade está ganhando cada vez mais relevância na instituição. Se tivéssemos mais recursos, financiaríamos mais. Há muita demanda”, diz o diretor de planejamento, Aldemir Freire, observando que o governo, para expandir a atuação do banco, fez aporte recente de R$ 1,4 bilhão, capaz de alavancar cerca de R$ 14 bilhões de financiamento.
Nos quatro últimos anos, o BNB desembolsou R$ 60 bilhões em infraestrutura verde, dos quais R$ 35 bilhões para energia eólica e solar. A ideia agora é ampliar recursos para outros projetos, como saneamento básico e investimentos em aterro sanitário para geração de biogás. Nos próximos quatro anos, entrarão na instituição mais R$ 6,7 bilhões, resultado de captações. “O banco estava fora dessa atividade nos últimos anos e retomamos em 2023”, diz Freire.
A agenda de financiamento climático também inclui o modo como o sistema financeiro começa a integrar critérios de mudança de clima em suas operações. A fatia de instituições financeiras brasileiras que calculam indicadores sobre riscos climáticos e criaram metas para reduzir suas exposições passou de 11% para 30% em 2024. O Itaú Unibanco é um dos bancos privados que expandiram a oferta de créditos verdes. Firmou compromisso de contribuir com R$ 400 bilhões para promover uma economia sustentável até 2025, e em setembro do ano passado já havia alcançado 82% da meta.